Sepultamento de Kathlen Romeu, jovem grávida que morreu durante tiroteio no Complexo do LinsLuciano Belford / Agência O DIA

Por Bernardo Costa
Rio - Moradores da comunidade Barro Vermelho, no Complexo do Lins, reafirmam que o tiro de fuzil que matou Kathlen Romeu, de 24 anos, no interior da comunidade, na tarde de terça-feira, partiu da Polícia Militar. Eles usam o termo "cavalo de troia" para explicar a ação dos militares. Kathlen foi sepultada, na tarde desta quarta-feira, no Cemitério São Francisco de Paula, no Catumbi. Cerca de 300 pessoas acompanharam o enterro.
"Eles fizeram 'troia' para atacar os bandidos, mas acabaram matando uma inocente grávida (Kathlen estava no quarto mês de gestação). Eles estavam escondidos dentro de uma casa desde a manhã, por várias horas, esperando os bandidos aparecerem. Quando eles surgiram, os PMs atiraram de dentro dessa casa. Mas quem morreu foi a menina inocente. Foram dois tiros apenas. Não houve tiroteio", disse uma moradora da comunidade, que diz ter presenciado o momento.
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Segundo ela, os policiais só pararam de atirar após os gritos da avó da vítima, que foi atingida na Rua Araújo Leitão, por volta de 14h: "Logo depois dos tiros eu só vi a tia gritando: 'para, para, ajuda a socorrer'. Aí eles pararam de atirar. Eu fui ajudar e vi que a Kathlen tinha sido atingida", diz a moradora, que denuncia:
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"Os policiais desceram da casa de onde atiraram e foram ao local. Eles ficaram procurando as cápsulas para recolher e ainda limparam o sangue no chão. Mas ainda tem marca do sangue dela no muro, perto de um buraco enorme de bala de fuzil".
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Um amigo da família também contou que não houve tiroteio, apenas tiros disparados pela Polícia Militar: "Eles estavam de 'troia' nessa casa esperando os bandidos armarem a boca de fumo, que existe ali no local, no meio das casas e do comércio. A casa da avó da Kathlen fica perto. Quando eles colocaram a boca de fumo, os policiais, escondidos na casa, atiraram. Não deu tempo de os bandidos revidarem. Eles que estão nessa vida sabem se proteger. Os moradores inocentes, não".
Questionada pelo DIA, a Polícia Militar não respondeu sobre a denúncia dos moradores sobre a ação 'cavalo de troia' e que teriam limpado o sangue no local. A corporação informou que o Comando de Polícia Pacificadora (CPP) realizará um procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias do fato. A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga o caso.
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Armas apreendidas
Segundo a Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol), cinco dos 12 policiais que estavam na comunidade no momento em que Kathlen foi morta já foram ouvidos na DHC. Também foram apreendidas as armas do policiais militares: 10 fuzis calibre 7.62, dois fuzis calibre 5.56 e nove pistolas .40.
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"As diligências seguem para esclarecer todos os fatos e identificar de onde partiu o tiro que atingiu a vítima", diz a Sepol, em nota.
O texto informa, ainda, que Kathlen foi atingida por um tiro de fuzil, que atingiu seu tórax e não ficou alojado, segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML).