Empresa será notificada após rodoviários serem orientados a usar ivermectina contra a covid-19
'É um absurdo que um médico a serviço de empresários oriente o uso de um medicamento que não está aprovado pela Anvisa', disse o deputado Dionísio Lins
Médico do Grupo Redentor orienta o uso de ivermectina contra covid: medicamento não tem eficácia comprovada contra a doença - Reprodução
Médico do Grupo Redentor orienta o uso de ivermectina contra covid: medicamento não tem eficácia comprovada contra a doençaReprodução
"Estamos dando o prazo para nos responderem em 48 horas. Dependendo das informações que recebermos vamos notificar o Ministério Público para que tome as medidas cabíveis. É um absurdo que um médico a serviço de empresários oriente o uso de um medicamento que não está aprovado pela Anvisa para o tratamento da covid-19. Isso é muito grave e, a meu ver, estão politizando um assunto de saúde", disse Dioníso.
Um médico que atua na Viação Redentor assina orientação, afixada em posto de saúde na sede da empresa, orientando os funcionários a usar o medicamento três vezes por semana, como mostrou o RJTV, da TV Globo. Segundo o sindicado da categoria informou ao DIA, a mesma recomendação foi repassada aos funcionários das outras duas empresas do grupo, que reúne um total de 4.586 rodoviários: 1.723 (Viação Redentor), 1.062 (Transportes Futuro) e 1.801 (Transportes Barra).
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Na recomendação, intitulada 'Campanha Grupo Redentor sem Covid', o médico escreve:
"Vamos evitar Covid na nossa empresa! Usar 3 comprimidos de ivermectina (6mg) por semana sempre no mesmo dia e tomados fora do horário de trabalho".
No texto, o médico afirma que o uso do remédio é seguro, e que 'já existe evidência de que a medicação diminui a carga viral e permite que seu sistema imunológico reaja muito melhor à infecção'.
A pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo rebate:
"Isso já é um assunto ultrapassado. Não há mais controvérsia. Existe uma demonstração consistente em vários estudos que mostram que a ivermectina não funciona para prevenir a covid-19 nem para evitar eventuais complicações da doença. É profundamente lamentável que essa recomendação esteja ocorrendo", diz Dalcolmo, que acrescenta:
"O uso dessa medicação não protege ninguém. Isso é uma maneira de as pessoas se iludirem, achando que estão protegidas e eventualmente relaxarem nas medidas de precaução e proteção individual e coletiva, como o uso de máscara, distanciamento e ocupação adequada do transportes coletivos, que é hoje a nossa maior preocupação".
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A especialista afirma, ainda, que o uso prolongado da medicação sem necessidade pode causar danos hepáticos.
Sindicato se posiciona
De acordo com Sebastião José, presidente do Sindicato dos Rodoviários, a decisão das empresas Redentor, Barra e Futura onde o médico Marcelo Oliveira vem receitando medicamento sem nenhuma comprovação de eficácia, é contrária a posição do sindicato.
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"Não dá para entender e nem aceitar que um médico indique um medicamento sem comprovação e sem aprovação da Anvisa como tratamento para o coronavírus. Para se ter uma ideia, temos a informação que nos últimos 30 dias, três funcionários que trabalham na administração da empresa morreram de coronavírus. Indicar um medicamento sem comprovar sua eficácia é um crime, além de colocar em risco a saúde dos profissionais da categoria, já que esse medicamento pode trazer sérios problemas de saúde", disse.
A direção do sindicato ainda informou que vai entrar com uma representação no Ministério Público do Trabalho, solicitando que "o órgão atue com rigidez para impedir que esse triste episódio se repita em outras empresas".
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