Segundo o MP, 'casa amarela' seria o termo usado pelos criminosos para se referir às delegacias de Duque de Caxias e do Imbariê Divulgação

Por Thuany Dossares
Rio - As investigações da Operação Fumus, que desarticulou uma quadrilha que operava na venda ilegal de cigarros no Estado do Rio de Janeiro, apontaram também que o grupo chegou a pagar R$ 12 mil para um batalhão da Polícia Militar. O Ministério Público, no entanto, não informou qual unidade teria recebido a propina, em novembro de 2019. A denúncia à qual O DIA teve acesso também aponta que o pagamento foi descrito na contabilidade do bando como "12.00 para o carro azul", em referência à cor da viatura da Polícia Militar.

Os promotores também evidenciaram que a organização criminosa tinha braços na Polícia Civil. De acordo com a denúncia, foram feitos pagamentos à "casa amarela", que seria uma referência à cor da fachada das delegacias 59ª DP (Duque de Caxias) e 62ª DP (Imbariê). "(...)é clara a existência pagamentos ilícitos, pela ORCRIM [Organização Criminosa], a agentes públicos corruptos para que deixassem de reprimir os delitos praticados pelo bando", diz trecho do documento.
Policiais orientavam criminosos em blitzen
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O Ministério Público do Rio descobriu que, além do recebimento de propina para não prender integrantes da quadrilha, policiais militares também orientavam como deveria ser o comportamento dos criminosos durante uma abordagem policial.
Há a transcrição de uma conversa entre a cabo da Polícia Militar Fernanda Feitosa da Silva e o operador do bando, Diego Candido Soares. A agente não está entre os denunciados da operação. 

Através de um áudio, enviado em maio de 2020, Fernanda ensina que os operadores da organização criminosa deveriam tentar "desenrolar" ao serem abordados, antes mesmo de darem seus documentos para serem consultados.

Um trecho do áudio transcrito diz: "porque o pessoal do Caxias Presente, a gente trabalha junto com o SEGOV, que são uns malucos que tem um sistema lá, que joga o nome da pessoa e busca tudo que a pessoa tem, na hora pô, online. E depois que jogado filho, a gente não tem o que fazer não. Que vai ficar no sistema lá que a gente consultou" (SIC), explica a agente.

Em seguida, a cabo ainda fala para eles pagarem a propina. "Fala: consultou e aí? Entendeu? Liberou? Perdeu um dinheiro para liberar? A culpa vai cair em cima da gente. Então, fala que, quando for assim, nem entregar o documento, desenrolar antes, dar o papo antes", continuou.
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Segundo o MP, o esquema ilegal, liderado pela contravenção, movimentou mais de R$ 45 milhões em dois anos e meio.
Procurada, a Polícia Militar informou que também atuou durante a Operação Fumus e que a Corregedoria da corporação já tem um procedimentos apuratório interno em aberto para averiguar os policiais militares envolvidos no caso.