Associação de Doulas realiza ato pelo funcionamento da Maternidade Maria Amélia, no Centro
De acordo com a associação, os partos foram interrompidos por falta de insumos e medicamentos. A troca de administração das Organizações de Saúde (OS) na unidade causou a escassez dos recursos necessários para os atendimentos
Associação de Doulas faz ato pelo funcionamento da Maternidade Maria Amélia no Centro - Reginaldo Pimenta / Agência O DIA
Associação de Doulas faz ato pelo funcionamento da Maternidade Maria Amélia no CentroReginaldo Pimenta / Agência O DIA
Por Luísa Bertola*
Rio - A Associação de Doulas do Rio de Janeiro (ADoulas-RJ) realizou, nesta sexta-feira, um ato na Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, no Centro do Rio, por conta da interrupção dos partos na unidade. A associação relatou que o atendimento foi drasticamente reduzido e os partos foram interrompidos por falta de insumos e medicamentos. Ainda segundo os responsáveis pelo ato, a troca de administração das Organizações de Saúde (OS) na unidade causou a escassez dos recursos necessários para os atendimentos.
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A Organização Social que era responsável pela gestão da unidade adquiria e disponibilizava os recursos e medicamentos para a maternidade. Com o novo modelo de gestão, os recursos utilizados são dados diretamente pela Secretaria Municipal de Saúde, não mais pela OS. Com a mudança no contrato, houve queda nos insumos, que ocasionou a diminuição do número de partos.
"As grávidas que estavam agendadas não estavam sendo atendidas, só estavam atendendo as que chegam em urgência e que percebiam que não era possível uma transferência. A unidade não está funcionando no seu habitual por causa dessa falta de insumos, por essa questão de troca de administração. A resposta da Secretaria Municipal de Saúde é que a maternidade está funcionando, mas quando você vai lá, você vê que não está. Então parece que ontem [quinta] chegou uma parte muito pequena de insumos, mas não dá para normalizar as atividades ainda", explicou Carol Lobão, diretora de Relações Institucionais da ADolas RJ.
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Carol explicou que um dos pontos que o ato questiona é a falta de previsão para que a situação se normalize na unidade. "O ato também tem objetivo que a situação não ultrapasse isso. Já é um absurdo chegar nesse ponto. E quando você vê que não existe uma data para que isso normalize, o nosso medo é que não seja mais resolvido", desabafou ela.
Na quarta-feira (30), a presidente da ADolas RJ e as vereadoras Tainá de Paula (PT-RJ), e Thaís Ferreira (Psol-RJ) estiveram na unidade. Nas redes sociais, a parlamentar Thais informou que protocolou um ofício na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para a aquisição de insumos.
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"A maternidade está enfrentando a falta de atendimento devido a ausência de insumos, gerada com a mudança de contrato da nova administração. É urgente uma resposta da Secretaria de Saúde do Município. Precisamos saber qual a previsão de entrega desses insumos para o retorno dos atendimentos", escreveu Thaís.
"O fato é que todos os serviços básicos estão interrompidos, inclusive a alimentação da própria equipe está sendo feita no (Hospital Municipal) Souza Aguiar. O número de internações, quanto de atendimento, diminuiu abruptamente. O número de partos por mês da (Maternidade) Maria Amélia é uma referência da Região Metropolitana do Rio", analisou Tainá, durante o ato nesta sexta-feira.
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Maternidade com política de parto humanizado
Em entrevista ao DIA, Carol Lobão também reforçou que a Maternidade Maria Amélia tem um papel importante para a capital fluminense, sendo a segunda que mais realiza partos no Rio de Janeiro e a única com uma política de atenção humanizada. "A gente tem pessoas de Niterói, de outros lugares que vem parir aqui, temos relatos de pessoas da Região dos Lagos, de lugares mais afastados que alugam apartamentos ou hotéis por perto para conseguir parir na maternidade. A gente tem um grande número de pessoas que tem plano de saúde, mas que abre mão e vai parir na Maria Amélia. É uma maternidade muito importante", contou ela.
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A proposta da maternidade é a prestação de uma assistência humanizada para as gestantes. Por isso, a unidade utiliza métodos não farmacológicos para alívio da dor durante o trabalho de parto, como massagens, banhos quentes, aromaterapia, entre outros, e revisa constantemente os processos de trabalho para a manutenção do padrão de qualidade da assistência.
Janaína Santos, mãe de duas meninas, deu à luz a sua segunda filha em março de 2020 na Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda. Ela contou que, ainda em 2019, assim que descobriu que estava grávida, teve seu primeiro atendimento na unidade por conta de uma crise de enxaqueca e recebeu um ótimo atendimento. No dia 30 de maio, ela deu entrada na maternidade para dar à luz e também ressaltou o preparo dos funcionários.
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"Cheguei em trabalho de parto muito avançado, meia hora depois minha filha nasceu. O atendimento foi muito bom, mas o espaço estava muito debilitado. Meu marido tinha que ficar empurrando a cadeira de rodas porque estava com uma roda só. Eu estava em trabalho de parto ativo, com nove centímetros de dilatação, então eu cheguei e fiz o pré-atendimento, fui atendida muito rápido na emergência e já emendaram na sala de parto".
Ela contou que durante todo o parto o atendimento foi humanizado e se sentiu muito respeitada. "Eu pari muito rápido, foi muito respeitoso. As enfermeiras que estavam lá me respeitaram. Eu quis andar, elas me ajudaram a ir para o chuveiro. O banheiro era simples, mas tudo muito limpo. A equipe me deixou quieta e ficaram respeitando todo o momento. Quando minha filha nasceu, a enfermeira veio e me ajudou".
Após dar à luz, Janaína precisou ficar em uma maca por três horas enquanto aguardava uma vaga na enfermaria. "Eu precisei ficar ali por três horas porque não tinha vaga na enfermaria. Era muito desconfortável. Eu tive um trabalho de parto muito tranquilo, foi bem rápido, mas uma mulher que vai de longe e fica um, dois dias em trabalho, sofre um pouco mais, porque é muito desconfortável ficar naquela maca".
Após conseguir uma vaga na enfermaria, ela dividiu o espaço com mais quatro famílias. "É desconfortável porque você fica com outras pessoas, mas o atendimento é muito bom. Toda hora chega algum funcionário para fazer avaliações. A estrutura está muito deficiente e precária, com cadeiras de acompanhantes quebradas, também faltava alguns materiais".
"Quando minha primeira filha nasceu, minha obstetra indicou a Maternidade Maria Amélia, ouvi elogios sobre a equipe e sobre o trabalho humanizado, mas eu pari pela rede particular. Na segunda gestação, eu não tive dúvidas em procurar a maternidade. Um parto humanizado ainda é muito caro", falou.
Questionada sobre o momento que a maternidade vive, ela lamentou que uma maternidade de referência esteja com partos comprometidos por falta de insumos.
"Saber que o Maria Amélia está fechada é muito triste porque muitas famílias serão prejudicadas. O parto deveria ser muito mais valorizado porque todo mundo nasce, e muitos problemas que a criança pode vir a ter é em decorrência de um trabalho de parto conturbado. Falta humanidade, preparo e na Maternidade Maria Amélia as pessoas estão preparadas. É desesperador saber que o hospital que é referência nacional em parto humano está assim por falta de insumos, sucateamento. Olha o ponto que a gente chegou, é o reflexo da saúde pública", lamentou ela.
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Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a unidade está em transição contratual para um novo modelo de gestão. "O contrato foi licitado a partir de um projeto base na gestão anterior, em que a OS é responsável pela contratação dos recursos humanos e a administração direta fica responsável pelo abastecimento e contratos".
Ainda de acordo com a SMS, a porta de entrada da unidade e a maioria dos serviços estão funcionando normalmente, mas, enquanto durar o trâmite da transição, os casos eletivos serão transferidos para outras maternidades. "Não há nenhuma intenção da Secretaria Municipal de Saúde em fechar ou suspender os serviços na unidade", reforçaram em nota.
Após o ato, houve uma reunião em que participaram o diretor da Maternidade, Antonio Braga, o diretor médico, Marcos Nakamura, a subsecretária de Saúde, Teresa Navarro Vannucci, a superintendente de Maternidades, Carla Brasil, a secretária de Políticas e Promoção da Mulher, Joyce Trindade, além do diretor do Hospital Souza Aguiar, a diretoria e a presidente da ADoulas Morgana Eneile, a vereadora Tainá de Paula e as assessorias das vereadoras Thais Ferreira, Mônica Benício, Mônica Francisco e Renata Souza.
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No encontro, foi prometido pela subsecretaria de saúde do Rio que até domingo a maternidade voltará a funcionar integralmente. Na segunda-feira, a Associação se comprometeu a retornar ao local para conferir se as gestantes estão sendo atendidas. Na reunião, também foi citada a importância e a necessidade de replicar o modelo da MMA para as demais maternidades do Rio.
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