Após aplicação de doses vencidas, 'revacinados' revelam insatisfação em Nilópolis
"É um absurdo ter que passar por isso. Será que eles não podiam ver a data de vencimento antes de aplicar a vacina nas pessoas?", desabafou consultor ao DIA
Rio de Janeiro - 06/07/2021 - Coronavirus/ Pandemia/ Brasil - Nilópolis, Vacinados com lotes vencidos em Nilópolis procuram Posto Central do município para tomar dose válida do imunizante,na foto Manuela Souza Foto : Fábio Costa/ Ag.O Dia - Fábio Costa/Ag.O Dia
Rio de Janeiro - 06/07/2021 - Coronavirus/ Pandemia/ Brasil - Nilópolis, Vacinados com lotes vencidos em Nilópolis procuram Posto Central do município para tomar dose válida do imunizante,na foto Manuela Souza Foto : Fábio Costa/ Ag.O DiaFábio Costa/Ag.O Dia
Por Lucas Cardoso
Rio - "Quem aqui tentou me matar?", foi o questionamento do consultor de vendas João Bento, de 53 anos, ao chegar no Posto Central de Nilópolis para se "revacinar" contra covid-19, após tomar a primeira dose do imunizante AstraZeneca vencida. Segundo O DIA confirmou na unidade de saúde, nesta terça-feira, ele foi uma das 620 pessoas que receberam a dose fora da validade. "É um absurdo ter que passar por isso. Será que eles não podiam ver a data de vencimento antes de aplicar a vacina nas pessoas? Falta de respeito", desabafou o homem.
O consultor se negou a entregar o cartão com a informação da dose vencida para os profissionais da triagem no local de aplicação. "Não vou entregar a prova de que me vacinaram errado. Se eles quiserem, podem ficar com uma cópia, mas o original é meu", disse.
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A insatisfação com a falha na checagem dos lotes foi a mesma compartilhada pela profissional de educação Manoela de Souza, de 40 anos. "É estranho eles não terem checado isso da primeira vez. Nesta, pelo menos, mostraram tudo com mais cuidado", comentou.
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O universitário Dimitrius Leventis, de 31 anos, conta nem desconfiou da condição da vacina por ter apresentado sintomas leves de resfriado após a 'imunização'. "Cheguei a ter febre, dor de cabeça e um pouco de coriza por três dias depois que tomei. Tudo indicava que não tinha nenhum problema, mas deu no que deu", lamentou.
Segundo informações obtidas pela reportagem, Nilópolis aplicou 620 doses vencidas do imunizante AstraZeneca. Desse total, 450 teriam sido no Posto Central, 48 na maternidade Domingos Lourenço e 122 no Hospital das Clínicas Antônio Paulino, o Pronil. Até às 16h desta terça-feira, 153 pessoas já haviam tomado a nova dose da vacina.
Oficialmente, a Secretária Municipal de Saúde de Nilópolis informou que 727 casos suspeitos de vacinação com as doses vencidas são investigados. Contudo, parte desse grupo pode ter recebido a vacina dentro do prazo.
"A busca ativa dos moradores está acontecendo desde a sexta-feira. Trezentas e cinquenta pessoas foram contatadas até o momento, para que compareçam com o cartão de vacinação a fim de confirmar se a aplicação da vacina foi realmente realizada fora do prazo", informou o município.
Questionada pelo DIA, a Prefeitura de Nilópolis através da SMS não justificou a falha na aplicação das vacinas contra covid-19. O Governo do Estado também foi procurado para comentar a situação, mas informou que as doses foram entregues aos municípios com prazo suficiente para a administração dentro da validade prevista nos lotes.
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"O lote 41202Z005, com validade para 14.04.21, foi recebido pelo estado do Rio de Janeiro no dia 23.01.21 e distribuído aos municípios nos dias 23.01, 01.02, 02.02 e 24.02.21. Já o lote CTMAV506, com validade para 31.05.21, foi recebido pelo Estado em 26.03.21 e distribuído aos municípios no mesmo dia", explicou em nota.
Reações normais
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O coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio da Cunha, explica que as vacinas vencidas não causam riscos à saúde além do risco de imunização. "As vacinas em uso não contém organismos vivos, o que os torna inócuos, caso realmente esteja vencida; não há quaisquer riscos para tomar outra vacina", explica.
Ainda segundo Venâncio, as reações adversas do uso, nesse caso, se ocorrerem, não devem ser mais frequentes que em outras situações onde o imunizante está no prazo de validade.
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