O conjunto de 17 favelas na Zona Norte terá experiência parecida com a de Paquetá e Ilha Grandedivulgação

Rio - A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai realizar na próxima quinta-feira (29) uma ação de grande escala que irá proporcionar a vacinação em massa de todos os moradores da Maré maiores de 18 anos com a primeira dose da AstraZeneca contra a covid-19. A iniciativa faz parte de um estudo que tem como objetivo verificar a eficácia do imunizante, contudo, considerando a população de 140 mil moradores do complexo que engloba 17 comunidades, a pesquisa pretende ir além da checagem dos resultados e vai trabalhar com um olhar social, permitindo a extensão entre a ciência e a ação comunitária.
“Olhar o impacto da vacinação numa grande comunidade já seria algo inédito. Agora pensar que isso será realizado na Maré, que tem dimensão populacional superior a 96% dos municípios do país, é algo único, que nos permitirá um mapeamento com características singulares. Aspectos da doença em si, como a dinâmica de transmissão do vírus no território, a vigilância de suas variantes e o acompanhamento de possíveis efeitos adversos das vacinas serão outros pontos abordados pelo estudo, para além da efetividade da vacina, que é o foco principal”, explicou o pesquisador da Fiocruz e coordenador do estudo, Fernando Bozza.
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A vacinação em massa ocorrerá entre os dias 29 de julho e 1º de agosto e contará com a parceria da Secretaria Municipal de Saúde e a organização Redes da Maré, com a articulação de mais de 500 pessoas, entre articuladores de campo e voluntários, que estarão envolvidos na logística de mobilização e informação dos moradores.
A pesquisa vai antecipar a vacinação de 31 mil pessoas maiores de idade, que após receber o imunizante passarão a ser monitoradas pelos grupos de pesquisa. Adolescentes não vão receber a primeira dose, contudo, vão integrar a pesquisa e também serão avaliados.
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“Um dos objetivos do estudo é entender a dinâmica da transmissão e a proteção indireta que esse grupo pode adquirir uma vez que a família esteja imunizada. Queremos entender se a vacinação em massa da população adulta inibe a circulação do vírus de forma a proteger também as crianças e os adolescentes”, afirmou Bozza.

Estudo propõe duas linhas de atuação
Em conjunto com a vacinação em massa, duas ações também vão determinar os resultados de efetividade da vacina contra a covid-19. A primeira consiste na identificação de casos sintomáticos que serão submetidos ao teste de RT-PCR. Os participantes devem informar imediatamente ao centro caso apresentem os sintomas definidores de suspeita da doença.
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As equipes do estudo também acompanharão as atividades das Unidades Básicas de Saúde para orientar a realização do teste molecular dentro da janela de sete dias desde o início dos sintomas.
Desta forma, será possível calcular a proteção que a vacina está conferindo à população. Além disso, todos os resultados positivos serão encaminhados para realização de sequenciamento genético, a fim de identificar possíveis variantes do vírus e colaborar na vigilância genômica da região.
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Já a segunda linha é caracterizada como uma coorte (classificação) populacional composta por 2 mil famílias residentes na Maré, mobilizando, ao todo, aproximadamente 8 mil indivíduos, que serão acompanhados por seis meses. Nesta ação será realizada a avaliação de soroprevalência, proporção de vacinados e ocorrência de casos, com o intuito de mapear a transmissão do vírus no ambiente familiar.
A análise incluirá também os membros que não são público-alvo da vacinação: “É nesta etapa que conseguiremos levantar os dados para responder a questão se ao vacinar os adultos, também protejo as crianças?”, explicou Fernando Bozza.

Iniciativas parceiras entre Fiocruz e Maré salvaram vidas
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O estudo que será realizado na próxima semana está ancorado em dois pilares centrais, a vacinação em massa e a testagem em grande escala da população. A iniciativa é um desdobramento de diversas ações de mobilização social que vêm sendo implementadas na Maré desde junho do ano passado com o projeto Conexão Saúde - De Olho na Covid.
Com as ações realizadas pela Fundação, em parceria com as iniciativas SAS Brasil, Redes da Maré, Dados do Bem, Conselho Comunitário de Manguinhos e União Rio, foi possível realizar mais de 27 mil testes diagnósticos (entre sorologia e PCR), 10,5 mil consultas de telessaúde, acompanhamento e apoio para o isolamento domiciliar de mais de 1 mil famílias com pessoas que testaram positivo para a covid-19 - além de múltiplas ações de comunicação territorial, reduzindo em 61% as taxas de mortalidade nos primeiros 10 meses de criação do projeto.
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Hoje a iniciativa é uma referência no combate à pandemia em territórios de favelas. Ele oferece gratuitamente serviços de testagem, telessaúde e apoio no isolamento domiciliar a pessoas com covid-19, sendo preponderante para o avanço da pesquisa entre os moradores da comunidade.
“Graças à mobilização dos diversos parceiros que se envolveram desde o início, foi possível integrar a atenção básica de maneira sistêmica ao enfrentamento da pandemia na região, oferecendo, desde a possibilidade de um diagnóstico precoce e acompanhamento clínico até a testagem molecular e o rastreamento de contactantes. O impacto foi sentido no controle da pandemia com a redução de 61% da mortalidade nos primeiros dez meses de implantação do projeto. Esse legado é acrescido agora com a vacinação de toda a população, o acompanhamento da sua efetividade na proteção dos moradores e a possibilidade de intensificar a vigilância genômica no território”, ressaltou o assessor de Relações Interinstitucionais da Fiocruz, Valcler Rangel.
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Estagiário sob supervisão de Cadu Bruno