Arte: Kiko "Basta virar o dia e lá estão as redes sociais ou os aplicativos de fotos nos presenteando com imagens do passado: há um, dois, três, quatro, cinco anos ou mais" Arte: Kiko

Para quem está conectado, as recordações vêm de todas as partes. Basta virar o dia e lá estão as redes sociais ou os aplicativos de fotos nos presenteando com imagens do passado: há um, dois, três, quatro, cinco anos ou mais. E como lidamos com essas cenas que surgem diariamente na tela do nosso celular? Sinto que saudades sinalizam a vivência de bons tempos. Quando bem desfrutados, temos a sensação de que eles poderiam ter sido prolongados.
Mas talvez seja possível resgatar alguns laços e momentos com nova roupagem. Foi o que senti num dia desses, ao tomar café no Centro do Rio com o meu amigo Celso, exatamente cinco anos após me ver carregando a tocha olímpica da Rio-2016 em Niterói. Pertinho da Candelária, aproveitamos para fazer uma foto com a pira olímpica, novamente acesa em razão dos Jogos de Tóquio. De máscaras, algo impensável há cinco anos, colocamos o papo em dia durante a caminhada e constatamos as ruas diferentes e escassas de vaivém num bairro antes tão agitado da cidade.
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Esses tempos difíceis também me fizeram reviver uma viagem repetida incontáveis vezes, mas com outro espírito. Neste 2021 sem folia, aproveitei os meus dias de folga em Rio das Ostras, mas não como na minha época de adolescente, quando mal parava em casa e corria com os amigos atrás dos blocos no Carnaval. Desta vez, eu me peguei curtindo o jardim que minha mãe tanto adorava, a decoração também cuidada com carinho, o descanso despretensioso na rede, os pés na grama e o simples aconchego de estar com a família.
Do verão escaldante para o inverno, lembro que eu e minha amiga Delma rumamos recentemente a passos lentos em direção ao MAC, em Niterói. Poderia ver ali o mesmo museu de outras vezes. Mas a minha crença é de que uma visita nunca será igual à anterior. E foi tudo diferente. Pelo friozinho ensolarado, pelo papo sem pressa de terminar e pela surpresa na chegada: esculturas de metal fundido e colorido se misturavam à paisagem, no pátio do museu. São trabalhos da artista plástica Duda Oliveira, na exposição 'Boca banguela'. Uma leveza explosiva, numa arte que parece dobrar o metal, assim como o origami faz com o papel. Só ali havia a junção entre Oscar Niemeyer, uma talentosa niteroiense e a lembrança de uma arte milenar japonesa.
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Assim, vim refletindo em como muitas vezes tratamos passado e presente como um metal difícil de fundir. Em tantos momentos, não somos maleáveis e separamos nossos tempos vividos, em vez de entrelaçarmos as experiências das relações e dos lugares por onde andamos. Talvez o grande desafio seja darmos ao ir e vir da vida, por vezes tão duro, um pouco da leveza do origami e suas infinitas e coloridas possibilidades.