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Se governo federal ajudasse, taxa de internação no Rio cairia de 92% para 72%, diz equipe técnica da Saúde do Rio
Levantamento feito pelo DIA mostra que a cidade possui 311 leitos inativos por parte dos hospitais federais. Especialistas se preocupam com quarta onda
Cerca de 58 pacientes aguardam por vagas de internação segundo o Painel Rio Covid-19 - Foto: reprodução internet
Cerca de 58 pacientes aguardam por vagas de internação segundo o Painel Rio Covid-19Foto: reprodução internet
Rio - Em uma nova escalada de lotação dos hospitais públicos da cidade, o município do Rio de Janeiro registrou, nesta quinta-feira (12), a taxa de ocupação operacional das UTIs em 92% e enfermarias em 84%. O número de casos confirmados de covid-19 vem crescendo progressivamente desde o início de julho, provocando um aumento de pressão no sistema de saúde local, que já possui 54 pessoas aguardando vagas na fila por leitos operacionais.
Um levantamento feito pelo DIA através de dados do Censo Hospitalar mostra que a cidade conta hoje com cerca de 469 leitos impedidos. Deste total, a maior parte pertence a hospitais federais com 311 vagas de atendimento indisponíveis, o que representa cerca de 66% de todas as vagas para covid impedidas da cidade.
Se todas as 311 vagas estivessem funcionando, a taxa de ocupação operacional do Rio cairia de 92% para 72,4%, de acordo com um cálculo feito a pedido do DIA pela equipe técnica da Saúde do município. Neste caso, o índice ficaria abaixo do que foi registrado em todo o ano de 2021.
A prefeitura do Rio ativou 60 novos leitos na semana passada para receber pacientes que necessitam de internação e converteu, ontem, outros 20 de enfermaria em CTI, mas ainda existem outros 73 leitos que podem ser reativados pelo município e outros 23 por parte do governo estadual.
O secretário municipal da Saúde, Daniel Soranz, afirmou que o Rio tem 273 leitos ocupados por pacientes com sequela pós covid-19. “Só no hospital Ronaldo Gazolla, quarenta pacientes têm problemas com sequelas físicas ou de saúde, além de alguns com questões sociais que impedem a saída. A gente não fecha leitos, são leitos covid mas que estão com esses pacientes pós covid-19”, explicou.
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A respeito dos 73 leitos impedidos, Soranz afirmou que todos possuem potencial para serem abertos em caso de aumento da procura por internações na cidade. “Conforme houver um aumento da procura de pacientes, pretendemos abrir esses leitos. A dificuldade para abrir as vagas variam de acordo com cada caso, alguns são relacionados a recursos humanos e outros a problemas estruturais, então cada um tem algo em específico, mas sendo necessário abriremos leitos. A gente já converteu 20 leitos de enfermaria em CTI ontem”, disse.
O Hospital São Francisco na Providência de Deus, que é uma instituição particular, teria 64 leitos indisponíveis conforme aponta o Censo Hospitalar. A unidade fez uma parceria com a Secretaria de Estado de Saúde que foi encerrada no final de julho. A instituição não reconhece os números citados e emitiu uma nota sobre a disponibilidade das vagas na unidade.
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“O Hospital São Francisco na Providência de Deus (HSF) é uma instituição de saúde particular. Por meio de um acordo celebrado junto à Secretaria do Estado de Saúde do Rio de Janeiro foram disponibilizadas 50 vagas para pacientes Covid-19, a saber 36 leitos de Enfermaria e 14 leitos de UTI, no período de 18/12/2020 a 21/07/2021. Toda a operação foi custeada por um grupo de empresas privadas, sem custos para o Estado, que foi o responsável pela regulação das vagas. Devido à queda na demanda por vagas de internação para a Covid-19, o Termo de Cooperação não foi renovado. A direção do HSF não reconhece os dados fornecidos pelo jornal O Dia em relação ao Censo Hospitalar da Prefeitura Municipal”, disse em nota.
Enquanto a ocupação na capital é alarmante, o Estado do Rio apresenta o índice de 68% para UTI e 41,8% de lotação nas enfermarias, seguindo uma tendência de estabilidade.
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O município do Rio em comparação com outras capitais está com a ocupação superior. Na cidade de São Paulo, cerca de 37% dos leitos de UTIs estão ocupados e 25% em enfermarias. Em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, os índices são de 79,5% para UTIs e 87% de enfermarias.
O Ministério da Saúde foi procurado para esclarecer sobre a reabertura dos leitos nos hospitais federais e respondeu que emitiria uma nota na sexta-feira (13) sobre o assunto.
Quarta onda da covid-19 é uma preocupação
A pesquisadora em Saúde da UFRJ Chrystina Barros considera que existe um risco de a cidade enfrentar uma quarta onda da covid-19. Ela citou fatores que podem ter influenciado para o aumento no número de casos e internações, entre eles: a presença da variante Delta, o inverno mais rigoroso e o relaxamento das medidas restritivas.
“Isso tudo nos traz uma grande preocupação de que nós podemos estar entrando em uma quarta onda, sendo um momento bastante preocupante. Junta-se a isso a própria paralisação da vacinação por não recebermos as doses do Ministério da Saúde, então a situação é bastante delicada e pode sim estar indicando uma tendência de alta e, possivelmente, de formação de uma quarta onda por todos esses fatores”, afirmou.
A médica geriatra e psiquiatra Roberta França disse que o aumento no número de casos já era esperado após o Rio realizar a Copa América. Ela citou que o Japão entrou em alerta vermelho antes do início das olimpíadas, quando o país recebia as confederações internacionais.
“Esse problema não vai ser diferente no Brasil, como não foi diferente no Rio de Janeiro. Então desde que nós começamos após a Copa América, já iniciaram os casos da variante Delta e somos hoje o epicentro dela no Brasil. Temos que realmente refletir sobre as medidas que vamos adotar, de relaxamentos que podem ser refeitos, porque nós não estamos ainda em condições de abrirmos a cidade para shows e estádios com pessoas, uma vez que os nossos números se tornaram bastante preocupantes nas últimas semanas”, explicou.
A médica também criticou o governo federal a respeito da baixa oferta de leitos para covid-19 na cidade. “A gente sabe que o descaso do governo federal é uma constante na pandemia inteira e não está sendo diferente agora, haja vista a dificuldade que nós estamos tendo da liberação das vacinas para todo o Brasil e a dificuldade da logística que está sendo colocada para liberar os imunizantes, dificultando assim que as prefeituras consigam manter o seu calendário vacinal da forma adequada como vínhamos prevendo até aqui”, concluiu.
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