Tarcísio Meirareprodução instagram

Rio - A morte do ator Tarcísio Meira por covid-19, nesta quinta-feira (12), mesmo após ter recebido duas doses da vacina contra a doença, reacendeu nas redes sociais o debate sobre a eficácia dos imunizantes, das medidas não farmacológicas e do distanciamento social. A esposa de Tarcísio, a também atriz Glória Menezes, permanece internada, mas com sintomas leves. Ela também completou o esquema vacinal.
Durante a internação dos atores, a nora do casal chegou a dizer que eles estavam isolados e "num descuido foram contaminados." Especialistas ouvidas pelo DIA reforçaram que a melhor forma de se proteger contra a doença segue sendo a vacinação, o uso de máscara de proteção, a higienização das mãos e o distanciamento social.
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A presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro, a infectologista Tânia Vergara, afirma que todas as vacinas aplicadas no Brasil são eficazes e explica que elas se passam por agentes infecciosos e, assim, estimulam as defesas a produzirem anticorpos contra o agente agressor. Dessa forma, os imunizantes são capazes de ensinar o corpo a combater de maneira eficaz o invasor. Quando ocorre a exposição ao agressor de verdade, o organismo se lembra (memória imunológica), reativa a defesa e o agente infeccioso não vai conseguir atuar livremente. O sistema de defesa do hospedeiro limita essa ação e poderá impedir que o infectado adoeça ou, no caso de adoecer, os sintomas sejam mais leves.
"A primeira coisa que precisamos ter em mente é que nada, nenhuma vacina ou mesmo medicamento é 100% eficaz para 100% das pessoas. Existem os casos de falha vacinal. Esta situação está relacionada ao indivíduo e não ao tipo de vacina. Depois, precisamos entender que o sistema imune difere, de pessoa a pessoa, a capacidade de montar uma resposta imune eficaz, varia com a idade, com a presença de comorbidades, outras condições e doenças, que podem influenciar a imunidade e a resposta ao desafio imposto pela vacina pode diferir de uma para a outra", ressalta a infectologista.
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"As pessoas podem morrer sim por complicações da covid-19, porque mesmo tendo a vacinação completa, nós temos que lembrar que as pessoas são diferentes, reagem de formas diferente à vacina e também têm as suas comorbidades. Às vezes, o paciente está em um processo de um tumor, de um câncer, um enfisema pulmonar, um quadro grave de diabete, e ao contrair, pode haver uma piora significativa dessas questões clínicas e o paciente vir a óbito", explicou a psiquiatra e geriatra Roberta França.
A infectologista lembra ainda que no contexto da covid-19, o objetivo principal das vacinas é reduzir a possibilidade de evolução para doença grave e óbitos, mas nenhuma das vacinas poderá garantir que ninguém adoeça de forma grave e acabe morrendo. A circulação de novas variantes do coronavírus, também pode ser um fator contribuinte para comprometer a resposta das vacinas, já que os imunizantes atuais foram desenvolvidos para as cepas virais originais.
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"Infelizmente, quando uma morte acontece com um nome, um rosto conhecido, alguém perto de nós, essa morte deixa de ser um número e passa a ser alguma coisa que a gente sente. Nós falamos o tempo todo, as vacinas elas tem eficácia para diminuir as chances de óbito de casos graves, mas independente de idade ou de comorbidade, que sem dúvida nenhuma contribui para uma situação grave, ninguém é invencível. A variante delta tem se demonstrado, além de altamente transmissível, talvez capaz de driblar a eficiência da vacina", afirmou a pesquisadora em saúde e membro do comitê de combate ao coronavírus UFRJ, Chrystina Barros.
"Apesar de parecer que tem uma vida que nós estamos em pandemia, nós temos, na verdade, um ano e dez meses de pandemia. Então, nós ainda estamos entendendo o processo da doença, o processo das vacinas e compreendendo os níveis reais de eficácia, visto que as variantes têm se apresentado ao longo desse processo”, reforçou a psiquiatra e geriatra.
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Países de todo o mundo estudam e outros até realizam a aplicação de uma terceira dose da vacina contra a doença, para reforço na imunização. Em julho, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, anunciou que pretende oferecer, ainda este ano, uma terceira dose para os idosos. A aplicação do reforço ainda é discutida pelo comitê científico, junto com a Fiocruz e o Ministério da Saúde. No último dia 27, o Ministério da Saúde informou, que, até o momento, não há evidência científica que confirme a necessidade de doses adicionais.
"As aplicações de doses de reforço ainda estão sendo estudadas. Nós não temos todas as respostas e não teremos tão cedo, porque isso é um processo que nós vamos entender ao longo dessa jornada. Provavelmente, a gente vai ter uma situação em que talvez a vacinação da covid tenha que ser todo ano, como é a gripe. No momento, o que nós sabemos é que as variantes, elas são reais, a covid-19 é uma realidade", declarou França.
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"Neste momento, muitos estudos estão sendo feitos com relação ao uso de vacinas de mais de um fabricante, há uma dose de reforço, se será ou não anual, mas estas respostas não vem de imediato. Qualquer resposta dada hoje vai tirar a nossa necessidade de manter o cuidado. Não dá para viver hoje pensando até quando precisaremos usar máscaras e manter a distância", disse Barros.
Vergara acredita que a aplicação da dose de reforço pode ajudar a diminuir o número de óbitos entre quem já completou o esquema vacinal. "Intuitivamente, sim, já que é comum que a resposta vacinal vá reduzindo ao longo do tempo, e que já se sabe que idosos, imunodeprimidos por diversas razões, têm uma resposta imune inferior ao restante da população. É por esta razão que países que já vacinaram toda a população começam a oferecer uma dose de reforço àquelas populações vacinadas primeiro."
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As especialistas também destacam que apesar do esquema vacinal completo e independente da faixa etária ou de comorbidades, ainda é possível contrair e transmitir a covid-19. Nesta semana, o youtuber Felipe Neto anunciou que está com a doença, apesar de já ter tomado a primeira dose da vacina. Por isso, Vergara, França e Barros alertam sobre a importância de manter as medidas de proteção contra a doença, com ou sem a aplicação das vacinas.
"É facilmente compreensível que não é possível dispensar as medidas não farmacológicas contra a disseminação da doença. Essa verdade é reforçada com a entrada forte da variante Delta no mundo. Ela infecta, com facilidade, pessoas inteiramente vacinadas e estas, apesar de terem um risco muito menor de adoecer de forma sintomática e grave, são capazes de transmitir. Não há como dispensar o uso das máscaras, a higiene das mãos e o afastamento social", disse Vergara.
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"Você tomou duas doses? É claro que você está com imunidade contra a doença, você adquiriu anticorpos, você tem uma chance menor, se caso você tenha a doença, ter um quadro grave. Isso não significa que essa gravidade jamais acontecerá ou que ninguém mais passará por um quadro grave, porque se vacinou. Daí, a importância de manter os esquemas de segurança, de lavar as mãos o tempo todo, de usar o álcool em gel, de principalmente manter o distanciamento, evitar as aglomerações e usar máscara cobrindo boca e nariz. Não adianta a máscara no queixo, no bolso, na testa, só tem eficácia cobrindo a boca e o nariz", continuou Roberta França.
"Nós precisamos entender é que sim, a eficácia existe, mas como não é 100%, não podemos simplesmente abrir mão de todos os protocolos de segurança, acreditando simplesmente que pelo fato de estar vacinado, você não precisa mais tomar nenhuma medida de cuidado ou restritiva. Por isso, é tão importante preservarmos e mantermos as medidas de distanciamento, uso de máscaras, não aglomerar, lavar as mãos, porque a gente sabe que essa é a forma que o vírus se transmite e que outras variantes podem surgir”, completou a pesquisadora.
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