Energia elétrica no Brasil é totalmente dependente das águasReprodução
Crise hídrica: Especialista alerta para cenário grave e possível apagão
No Rio, já há falta d'água em cidades da Região Metropolitana
Rio - A falta de chuva no mês de agosto agravou a crise hídrica, gerou um cenário de instabilidade e tornou iminente a possibilidade de um apagão, uma vez que a geração de energia elétrica no Brasil é totalmente dependente das águas. No Rio, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) diz que o abastecimento de água nos municípios do estado se dá expressivamente por mananciais superficiais. Dessa forma, segundo o instituto, "não se vislumbra risco de desabastecimento público, nos próximos meses, por ausência de água nos reservatórios". No entanto, já há relatos de falta d'água em cidades da Região Metropolitana. Segundo Amanda Ohara, consultora do Instituto Clima e Sociedade, a ausência de medidas efetivas do Governo Federal impacta diretamente o esgotamento do sistema.
"Tá faltando água e todas as atividades que precisam de água para acontecer precisam estar com esse alerta ligado. Isso acaba comprometendo o abastecimento urbano de água, então em algum momento a gente pode ter cortes seletivos em algumas regiões. Tudo o que poderia estar sendo usado para gerar energia no Brasil, já está operando, e a gente ainda está em agosto e o período de seca vai até novembro. A gente ainda tem conseguido equilibrar a oferta com a demanda de energia, mas, até novembro, provavelmente a gente vai ter um cenário mais grave, que é o apagão, uma economia forçada", disse Amanda.
Para a especialista, já passou do momento de se tomar medidas para tentar conter a crise, mesmo que não agrade a todos: "A gente já está em níveis historicamente críticos, alguns reservatórios já estão no mínimo que já atingiram nesta época do ano. O nível crítico já foi atingido e ultrapassado, contudo, essa ação de instituir o racionamento é bastante impopular. A gente entende a dificuldade do Governo Federal em tomar uma ação deste tipo em um ano que antecede o ano eleitoral, mas esse racionamento já deveria estar acontecendo".
Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro alertou para o nível crítico e pediu a colaboração da população. Amanda Ohara, no entanto, destaca que o pedido é ilusório. "O governo tinha que viabilizar equipamentos mais eficientes, e está muito atrasado, além de ajudar as pessoas a fazer essa redução de consumo, através de políticas e programas estruturados. Essa história de 'apague um ponto de luz na sua casa' e achar que é uma ação efetiva, é ilusão. Não vai acontecer assim, precisa ter uma política clara indicando quais são os benefícios e penalizações", garantiu.
Quanto ao racionamento hídrico, a consultora pediu transparência: "O governo ainda não apresentou como vai ser, mas falou em um programa de bonificação para a população, uma redução voluntária e não obrigatória. Se reduzir você ganha um bônus que, na verdade, só vai aumentar a conta a ser paga pelo consumidor. Em nenhum lugar do mundo tivemos uma ação deste tipo dando bom resultado no consumo".
"É preciso ter um programa claro de redução, que proteja a população mais pobre, de baixa renda. E, quem já consome muito pouco, que não tem mais onde reduzir, seja protegido. É necessário colocar as metas de acordo com a capacidade de cada consumidor. O que tem sido feito não está apontando nessa direção e é um erro que vai acabar pesando na conta do mais pobre", finalizou.
Crise hídrica reflete nas torneiras e no bolso da população
A falta de chuva no mês de agosto refletiu nas torneiras e no bolso de quem mora em cidades da Região Metropolitana do Rio. Os reservatórios que abastecem o estado estão abaixo da capacidade e a situação é preocupante. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica, a previsão é que os reservatórios na região sudeste continuem em níveis críticos no próximo mês. Com os índices em níveis preocupantes, a previsão é que se tenha menos água para consumir e gerar energia elétrica.
Para a dona de casa Fátima Cristina, ligar o ventilador em casa é apenas para refrescar o ambiente. "A gente escuta os especialistas falando que sem água a energia aumenta. Todo mês falam em bandeira vermelha. Aqui agora é assim, ventilador ligado por 30 minutos e depois desliga. Estamos economizando também na hora de lavar louças e roupas. Tudo tem que ser limitado", disse a moradora de Itaboraí.
Quem passa pelo problema, precisa economizar para comprar."Você precisa colocar na balança para planejar os gastos. Aqui, por exemplo, apenas a geladeira fica na tomada quando não estamos em casa. Hoje, não é só a questão da crise hídrica, tudo pesa no bolso. Com esses aumentos absurdo, se não economizar não tem dinheiro nem mesmo para as compras de mês", reclama a cabeleireira Mara Pacheco, também moradora de Itaboraí.
Em junho, a taxa extra da energia foi para R$ 6,24 para cada 100 quilowatts-hora consumidos. Já em julho, subiu para R$ 9,49 centavos. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que por conta da crise hídrica a conta de luz deve aumentar em setembro. A taxa extra deve ficar entre R$ 15 e R$ 20 para cada 100 quilowatts-hora.
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