Foto da escadaria do museu em reconstruçãoDiogo Vasconcellos

Rio - O trágico incêndio que atingiu Museu Nacional em setembro de 2018, gerando perdas irreparáveis na cultura brasileira, completou três anos nesta quinta-feira. A direção do prédio e o Comitê Executivo do projeto 'Museu Nacional Vive', formado pela UFRJ, Unesco e Instituto Cultural Vale, lançaram hoje a campanha para a recomposição do acervo da instituição. Foi apresentada também a Declaração de Compromisso para a Recomposição das Coleções do Museu Nacional, uma referencia à Declaração da Independência do Brasil de 1822.
Na coletiva de imprensa desta quinta-feira também foi anunciada a expectativa de reabertura de parte do Museu Nacional em 07 de setembro de 2022, estando aberto para a visitação os jardins externos e Jardim das Princesas.
Apesar da data marcar uma tragédia, o diretor do Museu Nacional/UFRJ, Alexander Kellner, destacou a importância das iniciativas em prol da recomposição do acervo. "Temos total consciência de que não teremos sucesso sem a intensa colaboração nacional e internacional. Precisamos de exemplares de animais e plantas, de fósseis e minerais, objetos etnográficos, históricos, arqueológicos e tantos outros. A estimativa é que as novas exposições, que ocuparão em torno de 5.5 mil m², necessitarão de aproximadamente 10 mil peças, apresentadas ao longo de quatro circuitos expositivos", explicou.

A campanha e a Declaração de Compromisso têm como objetivo demonstrar uma clara abertura para que instituições de pesquisa, museus, diferentes coletividades representativas da sociedade e colecionadores de todo o mundo possam se juntar ao Museu Nacional/UFRJ na difícil, mas possível, tarefa de reconduzir a mais antiga instituição científica brasileira à posição de referência, em que tantas outras possam se espelhar.

A campanha ganhou, inclusive, um site onde é possível conhecer outros detalhes. O ambiente virtual conta com depoimentos de doadores de peças únicas que agora compõem o acervo do Museu Nacional/UFRJ, como o do diplomata aposentado do Itamaraty Fernando Cacciatore, que doou 27 peças Greco-Romanas; o do pesquisador Wilson Savino com uma importante Coleção Etnográfica Africana; do Indígena Tonico Benites com Coleção Etnográfica Indígena, do músico Nando Reis que dou Coleção de Molluscas e do Professor do Museu Nacional João Pacheco sobre a doação de Coleção Luckesh, do Universal Museum Janneum de Graz - Áustria. A ideia é recompor os quatro circuitos expositivos do Museu Nacional/UFRJ: Histórico (1.000 peças), Universo e Vida (4.500 peças), Diversidade Cultural (2.500 peças) e Ambientes Brasileiros (2.000 peças).

"A campanha é uma estratégia para reafirmar a importância da democratização do conhecimento. Afinal, o Museu Nacional, desde a fundação, é um centro de pesquisas dedicado às ciências naturais e antropológicas. E, mais do que nunca, queremos ser um museu de História Natural e Antropologia inovador, sustentável e acessível, que promova a valorização do patrimônio científico e cultural e que, pelo olhar da ciência, convide à reflexão sobre o mundo que nos cerca, ao mesmo tempo que nos leve a sonhar", destacou Kellner.

Diversos procedimentos relacionados a pesquisas sobre acervos, articulações institucionais, transporte e conservação das peças doadas já estão sendo adotados pelo Museu e seus parceiros. Além disso, um dos objetivos do Grupo de Trabalho de Segurança e Sustentabilidade, instância do Projeto Museu Nacional Vive coordenada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é desenvolver modelos de segurança e gestão do Museu e suas coleções.

"O BNDES tem uma visão de longo prazo para as instituições culturais. Nossa atuação busca reforçar a gestão e governança das instituições, promovendo assim a sustentabilidade. Com o Grupo de Trabalho estamos engajando o Museu Nacional e todos os parceiros na discussão do futuro modelo de gestão do Museu, para que ele desempenhe suas atividades com o adequado suporte financeiro e eficiência", pontuou Júlio Costa Leite, superintendente da Área de Gestão Pública e Socioambiental do BNDES.

Restauração do Paço e Jardim das Princesas

A reconstrução do Museu Nacional/UFRJ avança ainda com a conclusão de serviços essenciais à preservação deste patrimônio brasileiro: a higienização e a proteção de elementos ornamentais e artísticos que resistiram ao incêndio de 2018. Com a adequada proteção dos ornatos, o Paço de São Cristóvão está pronto para receber as obras de restauração das suas fachadas e coberturas.

Foram seis meses de trabalho especializado, envolvendo cerca de 50 profissionais, incluindo consultores, arquitetos e restauradores dedicados à conservação de ornatos de salas históricas do Paço; da escadaria monumental de mármore; de pisos e pinturas murais; e do ‘Bendegó’, maior meteorito já encontrado no Brasil. Fontes, guirlandas, bancos e tronos localizados em um outro espaço de grande valor histórico, o Jardim das Princesas, também receberam os serviços.

O trabalho executado pela Construtora Biapó, vencedora de licitação coordenada pela Unesco, resultou ainda na feitura de 45 moldes de ornamentos escultóricos e 75 perfis/modelos para reprodução de frisos, sancas, cimalhas e molduras de 29 ambientes do palácio. Os produtos gerados vão servir de subsídios para o desenvolvimento dos projetos de arquitetura, restauro e complementares.

"As ações de proteção dos elementos históricos e artísticos foram orientadas por um conjunto de especialistas em restauro e preservação, reafirmando o compromisso do projeto também com a história do edifício-monumento e de seu entorno, patrimônios da sociedade brasileira com inestimável valor para a ciência e a cultura mundiais. A Unesco tem contribuído também com o desenvolvimento de pesquisas bibliográficas, iconográficas e textos preliminares para exposições futuras, assim como identificando acervos de interesse para cada circuito expositivo", comentou Marlova Jovchelovitch Noleto, diretora e representante da Unesco no Brasil.
A equipe dedicada a apoiar o Museu na recomposição do acervo conta ainda com um assistente de gestão para a exposição e uma assessora em cooperação nacional e internacional para a recomposição das coleções.

Museu vivo e atuante

Em meio aos processos de reconstrução física e de recomposição das coleções, o Museu Nacional/UFRJ segue atuante e compartilhando seu acervo com a sociedade. A mais recente parceria da instituição é com a 34ª Bienal de São Paulo, que vai exibir ao público três peças que simbolizam bem a resiliência da instituição: o meteorito Santa Luzia, segundo maior objeto espacial encontrado no Brasil; uma boneca ritxòkò, doada por Kaimoti Kamayurá, da aldeia Karajá de Hawaló (Ilha do Bananal - TO); e uma pedra citrino que, antes do incêndio era uma ametista, mas teve sua composição química alterada pelo calor do fogo.

“O Museu Nacional vive nas obras de restauração, nas ações educativas e de mobilização social; e nos encontros e diálogos com seus públicos, como o que acontece na 34ª Bienal de São Paulo. Para o Instituto Cultural Vale, é um orgulho ser parte do projeto Museu Nacional Vive e também patrocinar a Bienal de São Paulo, um dos principais eventos do circuito artístico internacional. Os itens do acervo resgatados do incêndio que serão expostos na Bienal ajudam a contar uma história de resiliência e de vida. E, deste encontro, surgem muitos outros encontros: com a arte, com a cultura, com a ciência e com a educação”, afirma Luiz Eduardo Osorio, Vice-Presidente Executivo de Relações Institucionais e Comunicação da Vale e Presidente do Conselho do Instituto Cultural Vale.

Para a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, em 2022, ocorrerão entregas importantes do Projeto, que nos permitirão celebrar o Bicentenário da Independência do Brasil como o Museu, a UFRJ e toda a sociedade merece: “Agradeço aos parceiros que estão tornando possível tanto a restauração do nosso Museu Nacional quanto a construção de um novo campus de ensino e pesquisa para a instituição. O MN vive e renasce ainda mais forte após a enorme crise agravada, em 2018, pela tragédia. A comunidade acadêmica é apaixonada, resistente e resiliente! O sonho que sonhamos juntos se torna realidade".

Projeto 'Museu Nacional Vive'

Em resposta ao enorme desafio de reconstrução do Museu Nacional, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o Instituto Cultural Vale firmaram um acordo de cooperação técnica para implementação do Projeto Museu Nacional Vive que, atualmente, conta com o patrocínio platina do BNDES, Bradesco e Vale; apoio do Ministério da Educação (MEC), Bancada Federal do Rio de Janeiro, Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e do Governo Federal, por meio da Lei de Incentivo à Cultura. Conheça melhor o Projeto em www.museunacionalvive.org.br.