Fotos do protesto e do corte das árvores na Tijuca.Marcos Porto/Agência O DIA

Rio - Moradores da Tijuca realizaram, na manhã desta sexta-feira, um ato contra a construção de um condomínio residencial do Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário em uma área de mata na Zona Norte do Rio. A Polícia Ambiental esteve no local. De acordo com um morador da região, a construção teria começado há 4 dias e operários estariam arrancando diversas espécies de árvores nativas e desabrigando animais como tatus, macacos, papagaios e maritacas que viviam há 10 anos no local. 
"Essa é uma das poucas áreas verdes que nós temos no Rio de Janeiro e é uma mata colada com a Floresta da Tijuca. Esse terreno foi desmembrado e destombado, eu não sabia que isso era possível. Estamos há 10 anos tentando descobrir um código ou número de licença para a construção desse terreno e a gente nunca conseguiu essa informação. Só conseguimos agora, com a placa que eles colaram há 4 dias", explicou Claudio Ferreira.
Ainda de acordo com o morador, outra manifestação será realizada neste sábado, às 11h, em frente à congregação da Igreja Batista da Tijuca, localizada na Rua Homem de Melo.
Segundo o presidente da associação de moradores do bairro, Marcelo Miranda, os moradores entraram em pânico com a derrubada das árvores de forma repentina, e resolveram realizar o ato no dia seguinte. "A gente espera cancelar, que parem a obra e que façam esses empreendimentos em outros locais e que a gente possa preservar ali. Esperamos com os protestos cancelar a autorização, reverter esse destombamento e que ali seja feito um parque municipal para a cidade toda", explicou Miranda.
Procurada pelo DIA, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Cidade (SMAC) afirma que "os critérios técnicos usados para concessão de licença seguem a legislação vigente". "A Secretaria de Meio Ambiente acompanha todos os processos no pós-licença. Cabe ao empreendedor cumprir as 32 condicionantes para que consiga o 'habite-se' (início da utilização efetiva de construções). A licença é condicionada a obrigações como o manejo de fauna e o plantio de 2.805 árvores", completou a secretaria em nota.
A Polícia Militar também informou que equipes do Comando de Polícia Ambiental (CPAm) foram ao local "após denúncias de corte de vegetação e construção irregular" e encontraram um pequeno grupo de manifestantes que realizava um protesto de forma pacífica. O vigilante do edifício em construção foi conduzido à 19ª DP (Tijuca) como testemunha, e a perícia foi enviada ao local. A corporação confirmou que o empreendimento estava devidamente licenciado.
O que a empresa de construção diz
Através de sua assessoria de imprensa, o Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário informou que adquiriu o terreno da Associação Evangélica Denominada Batista no Rio de Janeiro e que em 2019 começou a desenvolver o projeto do empreendimento, licenciado pelos órgãos competentes em 2021.
Para o licenciamento ambiental das medidas de mitigação e compensação, o Opportunity afirma que contratou a Biovert Florestal e Agrícola. Com mais de 30 anos de experiência no mercado, a empresa foi responsável pelo plantio da Floresta dos Atletas, um legado dos Jogos Olímpicos Rio 2016.
Segundo o sócio-administrador e engenheiro florestal da Biovert, Marcelo Carvalho, a empresa foi autorizada a tirar 340 árvores do local, mas em contrapartida deverá fazer o plantio de 2.805 mudas. "Com o inventário de fauna e flora, das 420 árvores eles [a Prefeitura do Rio] autorizaram a retirada de 340, exigiram que uma permanecesse, 18 fossem remanejadas para o mesmo local, 15 já estavam mortas. Quando formos fazer o plantio dessas 2805 serão todas do bioma Mata Atlântica, uma grande parte na área e o saldo vai todo para o Parque Nacional da Tijuca", esclareceu Carvalho.
"O que eu posso garantir é que em termos de diversidade, em termos de prestação de serviços ambientais, o que vai ser levado para lá vai ser muito mais relevante do que já existe. As pessoas estão com uma ideia de que vai haver uma devastação. Não vai. Tanto a fauna quanto a flora vão ser muito beneficiadas com o que vai ser levado para lá", continuou. De acordo com o engenheiro, o condomínio também terá projetos de compensação ambiental e paisagismo.
Confira na íntegra a nota emitida pela Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário:
"O Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário adquiriu o terreno localizado na Rua Homem de Melo, 169, na Tijuca, da Associação Evangélica Denominada Batista no Rio de Janeiro. Em 2019, começou a desenvolver o projeto do empreendimento, que foi licenciado pelos órgãos competentes em 2021.

Para o licenciamento ambiental e as medidas de mitigação e compensação, o Opportunity contratou a Biovert Florestal e Agrícola. Com mais de 30 anos de experiência no mercado, a empresa foi responsável, entre centenas de outros projetos, pelo plantio da Floresta dos Atletas, um legado dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

Caberá à Biovert o transplante de espécies da flora e o plantio de mudas exigido nas medidas compensatórias do licenciamento do empreendimento. Serão plantadas 2.805 mudas de árvores nativas da Mata Atlântica para cerca de 300 árvores suprimidas, seguindo determinação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Ou seja, quase 10 novas árvores para cada exemplar suprimido.

As espécies que serão transplantadas vão para área ocupada pelo Colégio Batista Shepard. Já as novas mudas serão divididas entre áreas na Floresta da Tijuca e na região vizinha ao terreno. Também foi oferecida, ao colégio, a opção de convidar os alunos para participar do plantio das mudas, promovendo atividade de educação ambiental. Essas mudas serão georreferenciadas: inserindo as coordenadas geográficas no Google Earth qualquer interessado pode monitorar o crescimento das novas árvores.

Autorizadas após um longo, detalhado e criterioso processo de licenciamento, as atividades de supressão de árvores são acompanhadas por biólogos, a fim de garantir corretas ações de afugentamento de animais. Não foram encontradas espécies de fauna endêmicas, migratórias ou raras na área. Apenas pássaros como bem-te-vi, canário-da-terra e rolinha-roxa. Para garantir o bem-estar dessas aves, os biólogos realizam uma busca ativa por ninhos nas árvores. Constatada a presença de ninho, a árvore é marcada com fita zebrada, que indica a proibição de seu corte até que os ovos eclodam naturalmente.

Grande parte delas exóticas e até invasoras, as espécies de flora suprimidas terão destinação ambientalmente amigável, sendo trituradas para virar adubo natural para os jardins do empreendimento e para o viveiro de mudas da Biovert. Em mais de três décadas de experiência, a equipe de engenheiros florestais, agrônomos e ambientais, biólogos e consultores especializados em meio ambiente da Biovert já realizou mais de mil projetos. Somente no município do Rio de Janeiro, a empresa efetuou mais de 1,2 milhão de plantios.

Além do licenciamento ambiental, o Opportunity se reportou ao Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), visto que na área vizinha ao terreno da empresa (e que ainda pertence à Associação Evangélica Denominada Batista no Rio de Janeiro) há uma edificação tombada. O projeto do empreendimento foi aprovado, ainda, pelo IRPH e pela Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU).

O Opportunity vai empregar mais de 3 mil pessoas, direta e indiretamente, no pico das obras na Rua Homem de Melo. Serão erguidos 240 apartamentos, com projeto de Edmundo Musa, fachadas e interiores da Cité Arquitetura e paisagismo da Roberto Riscala", dizia a nota
*Estagiária sob supervisão de Beatriz Perez