"O passar do tempo também traz suas belas vantagens. E felizmente harmonização de amizades é um procedimento totalmente gratuito"Arte: Kiko

Com mais um aniversário na trajetória — fiz 44 anos em julho — e minha alma de canceriana bem aflorada, eu sempre me pego fazendo idas e vindas ao passado. A nostalgia costuma abastecer os corações saudosos de quem nasceu no mesmo signo que eu. E, para a minha felicidade, constato que não há procedimento capaz de apagar dentro da gente os sinais dos anos vividos.
Para tirar a prova, basta reunir amigos de longa data, mesmo que virtualmente. E ver o passar dos anos sendo registrado nas conversas. "Lembra aquela vez...?" ou "Há quanto tempo não nos vemos?" são perguntas clássicas nos grupos de escola e faculdade.
Logo me recordo de um encontro muito descontraído com quatro amigas jornalistas, em que percorremos os mais diferentes assuntos. Bate-papos divididos em duplas, trios ou com o quinteto inteiro, dependendo do momento da nossa reunião bem informal.
"Como estão os seus pais?", "E a sua mãe?" Questionamentos assim iam se repetindo, com preocupações frequentes sobre o estado de saúde de nossos familiares. Uma, inclusive, falou de quando acompanhou a mãe na consulta ao oftalmologista, preocupada com glaucoma. "Feliz do filho que vira, um dia, pai de seus pais", escreveu certa vez o poeta Bráulio Bessa, em verso eternizado no meu coração.
O papo, então, passou a permear o universo infantil, desde as descobertas de bebês até os desafios de ter adolescentes em casa, enfrentados por diferentes mães e tias do grupo. A paixão pelas flores e plantas, que me fez recordar a minha mãe, veio à tona no nosso encontro. Afinal, cedo ou tarde, somos flagrados fazendo as mesmas coisas que os nossos pais.
E o decorrer do tempo foi ficando ainda mais evidente ao lembrarmos que, em determinado momento da carreira, passamos a ter a mesma idade das mães de estagiários que trabalham conosco. Uma de nós até recordou o dia em que o cantor Leo Jaime esteve no seu trabalho para fazer uma matéria e ela escutou de alguém bem novinho: "Eu já ouvi a minha mãe falar dele..."
Entre uma foto e outra registrando o reencontro, eu até me lembrei dos nossos cliques da época de iniciantes no jornalismo, quando não nos faltava colágeno nas bochechas. "A pele era bem diferente", constatou uma amiga. E outra, dona de um humor muito peculiar, logo retrucou: "Nem reparo. Por isso que eu não queria sair hoje com vocês".
Já de volta para casa, entre mensagens felizes pelo reencontro, lembro que uma das amigas disparou: "Cá entre nós, só falamos de velhice. Estamos velhas". E logo completei: "Temos história para contar! É diferente. Tudo depende do ponto de vista". O passar do tempo também traz suas belas vantagens. E felizmente harmonização de amizades é um procedimento totalmente gratuito.