Rio - Um dia após a onda de violência que atingiu bairros da Zona Oeste do Rio, moradores tentam retomar a rotina e deixar o medo para o passado. A madrugada foi marcada por ruas vazias em Campo Grande, Santa Cruz Paciência e Sepetiba, onde pelo menos de sete vans foram incendiadas na manha de quinta-feira. Por volta das 5h30 desta sexta (17), a movimentação era considerada normal, com padarias e bancas de jornal abrindo as portas e as estações do BRT funcionando. Em alguns bairros a circulação de vans ainda está proibida, segundo moradores.
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A população ainda está assustada com o clima de guerra que se instaurou no dia anterior. "A vida precisa seguir. Temos que continuar com a nossa rotina e deixar isso que aconteceu para trás", disse um motorista de aplicativo morador de Cosmos.
Segundo a Polícia Militar, o policiamento segue reforçado na região. PMs do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (Recom) auxiliam no patrulhamento em pontos considerados de atuação da milícia. A Prefeitura do Rio garantiu que os postos destinados para a campanha de imunização da Covid-19 seguem funcionando, mas decidiu que cada unidade pode avaliar as condições de funcionamento.
Apesar do medo de alguns pais, as escolas do município, segundo a Secretaria de Educação, devem funcionar normalmente nesta sexta-feira.
O BRT está funcionando normalmente nos três corredores. No corredor TransOeste, a prefeitura manteve a linha exclusiva entre Santa Cruz e Alvorada.
Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, a violência desta quinta-feira afetou a vida de 340 mil passageiros. Por conta da guerra entre grupos paramilitares, houve uma diminuição da frota por conta da violência e pelo menos 80 linhas de ônibus tiveram problemas para circular na Zona Oeste.
Sem vans
Segundo moradores, o funcionamento das vans está proibido em alguns bairros. Na Avenida João XXIII, por exemplo, o transporte alternativo não está circulando nesta sexta.
"Quem mora na João XXIII precisa sair daqui e seguir para a avenida principal e conseguir transporte. Ainda tem muita gente assustada, mas não podemos nos entregar para esses criminosos. Ontem - quinta-feira - já deram ordem para que o comércio fosse fechado, mas agora e voltar ao normal", comentou um morador.
Guerra sem fim
Moradores da Zona Oeste afirmam que após a morte do miliciano Wellington da Silva Braga, 34 anos, conhecido como Ecko, em junho deste ano, Danilo Dias, o Tandera, decidiu invadir áreas que eram dominadas por ele e passou a cobrar taxas de segurança.
A ousadia do criminoso teria afetado diretamente Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, irmão de Ecko e herdeiro dos redutos.
Para a polícia, os ataques desta quinta partiram de Tandera, que além de áreas na Zona Oeste, tem a Baixada Fluminense como seu principal reduto. Para a polícia, a ordem foi data após a execução de dois homens ligados à milícia, na quarta-feira na Estrada de Madureira, no bairro Dom Bosco, em Nova Iguaçu. Segundo investigações, a dupla seria do grupo de Tandera e foi morta por homens de Zinho.
Pelos menos sete vans que fazem transporte de passageiros foram incendiadas por determinação de Tandera. A polícia confirmou a morte de três pessoas nessa guerra da milícia. Os nomes não foram divulgados.
Zinho x Tandera
Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, é irmão do miliciano Ecko. Com a morte do irmão, a polícia apurou que ele seria responsável por 'herdar' as principais áreas da milícia na Zona Oeste. Zinho é foragido da justiça e principal desafeto de Tandera.
Danilo Dias, o Tandera, era aliado de Ecko e principal articulador da maior milícia do estado. Era ele quem orquestrava invasões em áreas controladas por traficantes na Baixada Fluminense. Sua amizade com Ecko ficou estremecida no fim do ano passado, quando ambos decidiram seguir caminhos diferentes.
A polícia apurou que após a morte do antigo aliado, Tandera deu ordem para que seus 'soldados' tomassem as áreas que eram controladas por Ecko.
PM diz que policiamento segue reforçado
O tenente coronel Ivan Blaz, porta-voz da PM, garantiu que o policiamento segue intensificado na Zona Oeste.
Blaz reforçou que as polícias Militar e Civil continuam efetuando a prisão de milicianos. Já são mais de mil criminosos ligados à milícia presos no estado. "São mais de mil milicianos presos, mais de R$ 2 bilhões em prejuízo a estas quadrilhas. O que precisa ser feito está sendo feito e continuaremos, não vamos nos render", disse em entrevista à TV Globo.
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