Fundador de bloco carnavalesco é alvo de intolerância religiosa e recebe ameaça
O músico Alexandre Garnizé abriu boletim de ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi); ele foi chamado de "macumbeiro de m..." por mensagem anônima
Alexandre Garnizé, líder de bloco carnavalesco, é alvo de ameaças na internet - Divulgação
Alexandre Garnizé, líder de bloco carnavalesco, é alvo de ameaças na internetDivulgação
Rio - O músico e fundador do bloco Tambores de Olokun, Alexandre Garnizé, foi alvo de criminosos que enviaram mensagem de intolerância religiosa para o seu celular no último domingo (3). Revoltado com a discriminação sofrida, o carnavalesco compartilhou a mensagem nas suas redes sociais e foi à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), nesta terça-feira, para registrar um boletim de ocorrência.
Na mensagem, o criminoso por trás da mensagem ameaça Garnizé, chamando-o de "macumbeiro de m...", e afirma que vai impedir a oficina de percussão, que acontece no Aterro do Flamengo, conduzido pelo bloco fundado por ele, continue. "Macumbeiro de m...! Só assim te encontrava, não aguento mais esse barulho tirando minha paz. Vou fazer de tudo pra tirar vocês do Aterro", diz a mensagem.
Ao DIA, o carnavalesco disse que não vai se calar diante do ocorrido. "Eu fico com medo por conta de tudo que acontece no país, o Rio se tornou o epicentro da homofobia, racismo, intolerância. Não sei como enfrentar isso, mas não vou me calar. Eu, enquanto militante e ativista, vou correr atrás dos meus direitos", disse.
Garnizé explicou que o incômodo com a oficina, que acontece no Aterro, é uma implicância sem fundamento. "A escola onde fazíamos as oficinas fechou, então estou trabalhando na rua. É de lá que tiro dinheiro para o meu sustento e das minhas filhas. Tudo é regulamentado. Há 15 dias teve uma reunião com a Prefeitura e eles apoiaram o projeto. Além disso, existe a Lei Artista de Rua, que me dá o direito de ocupar as ruas dando aula de 19h às 21h durante a semana e sábado, de 16h às 18h", contou o músico, que disse não ter condições de fazer a oficina nesta terça-feira por estar ainda bastante abalado.
Garnizé afirmou que vai retornar amanhã às ruas para fazer a oficina. "Vou voltar, é um espaço público que é meu de direito e de toda a população". A DECRADI vai instaurar um inquérito para apurar de onde veio a mensagem e responsabilizar os culpados pelo crime.
A Associação Folia Carioca se solidarizou com o carnavalesco e publicou uma nota:
"Nossa alegria carnavalesca sempre acaba sendo interrompida por algum caso como este. Defender o Carnaval de rua é defender a cultura preta e periférica no Brasil. É lutar necessariamente contra o racismo, contra o elitismo, que sempre colocaram nossas manifestações culturais populares como menores, subalternas.
A Associação Folia Carioca, enquanto uma organização que se propõe a valorizar a e salvaguardar o tradicional Carnaval de Rua do Rio de Janeiro, se solidariza com o músico e historiador pernambucano Alexandre Garnizé e todos os integrantes do bloco Tambores de Olokun. Esse tipo de episódio precisa ser repudiado e punido dentro da lei, já que racismo e intolerância religiosa SÃO CRIMES. E é sempre bom lembrar: a cidade e a rua são de todo mundo!"
Nas redes sociais, colegas de profissão também enviaram mensagens de apoio a Alexandre Garnizé: "Garnizé meu rei! Vc é referência! Somos muitos com vc! Só diga onde e quando"; "Deixo meu abraço para você Garni. Eles não passarão".
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