VacinaçãoDivulgação/Mesquita

Se por um lado a vacinação contra a covid-19 na cidade do Rio tem evoluído e cerca de 82% da população com a primeira dose e mais da metade está completamente imunizada, por outro, em muitos municípios o cenário é bem diferente. Segundo o levantamento realizado pela Assessoria Fiscal da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), com base nos dados do Sistema Único de Saúde (SUS), ao qual O DIA teve acesso, 14 municípios do estado do Rio sequer atingiram 40% da imunização completa. A situação é pior na Baixada Fluminense, onde 10 cidades estão entre os piores índices do ranking.
A cidade de Queimados é a que apresentou o pior resultado. O município está em último lugar no ranking de vacinação com 14,50% da população vacinada. As outras cidades que aparecem entre os menores índices no levantamento são Mesquita (37,07%), Maricá (35,69%), Itaguaí (35,43%), Petrópolis (34,46%), Nova Iguaçu (33,44%), Nilópolis (32,80%), Magé (31,34%), Itaboraí (28,22%), Duque de Caxias (28,13%), Japeri (27,27%), Belford Roxo (22,96%), São João de Meriti (22,23%) e São Gonçalo (21,25%).
Para a produção desse ranking, o relatório considerou apenas as cidades com mais de 100 mil habitantes. A pesquisa tem por base dados coletados até o dia 28 de setembro e revela que o estado do Rio de Janeiro é o 8º do país no ranking de população totalmente imunizada, com 39,1% de pessoas vacinadas.
A pesquisa da Alerj mostrou ainda que 26 dos 92 municípios do estado não chegaram a 60% de pessoas com a primeira dose no braço. É o caso de São Gonçalo, Belford Roxo, Duque de Caxias, Paracambi, São João de Meriti e Queimados.
"Quanto mais rápido a gente vacinar, mais rapidamente as taxas de circulação do vírus, associadas a outras medidas, tendem a cair. Tem a questão da proteção individual e da proteção coletiva, que é a redução do número de casos com a vacinação e consequentemente menos transmissão também", afirma Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Para o especialista, a baixa vacinação é um ponto negativo, mas ele diz ainda que possa haver falta de registro no sistema. "Esses eventuais bolsões de baixa vacinação podem ser pontos críticos para retomada, mas, acredito que muito dessa baixa cobertura é falta de registro adequado das doses no sistema".
A secretaria de Estado de Saúde também destacou que os baixos índices de vacinação em alguns municípios do estado se devem também a atraso nos registros feitos pelas prefeituras. “Alguns municípios vêm apresentando dificuldade na inserção dos dados, por conta de falta de pessoal. Cabe um esforço destas secretarias municipais de Saúde, para agilizar esse processo, dando mais transparência à vacinação".
Baixada é a região que menos vacina
Das 14 cidades do Rio de Janeiro que não vacinaram nem metade da população com segunda dose ou dose única, 10 fazem parte da Baixada Fluminense. De acordo com o levantamento da Alerj, os municípios de Queimados, Mesquita, Itaguaí, Nova Iguaçu, Nilópolis, Magé, Duque de Caxias, Japeri, Belford Roxo e São João de Meriti não atingiram nem 40% da população vacinada com a segunda dose ou com a dose única da vacina contra a covid-19.
Para Douglas Almeida, coordenador do Nossa Meriti, este cenário revela três problemáticas na Baixada. "Por um lado, parte desse problema vem da demora inicial da chegada das vacinas. Por outro, as pessoas negacionistas, muito por influência do presidente e pela falta de uma postura mais firme de algumas prefeituras em fazer uma campanha mais organizada, deixam de se vacinar. Por último, tem uma subnotificação. Muitos moradores da Baixada se vacinaram no Rio, com o avanço mais rápido do calendário da capital".
Para Fábio Leon, do Fórum Grita Baixada, esta situação só reforça o problema de saúde pública que sempre existiu na região.
"A situação da saúde pública na Baixada Fluminense sempre se caracterizou pelo sucateamento. Neste contexto de pandemia, faltou estrutura e organização das prefeituras para a vacinação. O grande exemplo disso é a Prefeitura de Duque de Caxias que teve diversos episódios de desorganização. No geral, houve um atraso muito grande na vacinação, muito por questão política. Faltou organizar, incentivar e fiscalizar".
Decisões polêmicas
Na última semana, apesar de estarem entre os municípios que menos vacinam, as cidades de Duque de Caxias e Queimados adotaram medidas que foram bastante criticadas.
Queimados desmobilizou a Central de Covid-19 na cidade. O presidente da comissão de saúde da câmara, o vereador Antônio Almeida disse no plenário que a decisão foi tomada depois de uma reunião com a comissão de saúde, na última segunda (4). "Tivemos uma reunião com a Secretária de Saúde, Comissão de Saúde da Câmara e o prefeito. Não haverá mais internação, só uma equipe para fazer a testagem e a triagem. Os casos emergenciais serão regulados na UPA e transferidos para o hospital modular em Nova Iguaçu, preferencialmente".
O motivo da desmobilização anunciada pela prefeitura foi a baixa procura e o alto custo da unidade. Ainda segundo informações à comissão, o custo da unidade girava em torno de R$ 1,7 milhão. Com esse novo modelo o custo seria cerca de R$150 mil.
Em Caxias, o prefeito Washington Reis havia publicado um decreto municipal na última terça-feira (5) que dava fim à exigência do uso da máscara tanto em ambientes fechados, quanto abertos. Mas, após pedido do Ministério Público do Rio (MPRJ) e da Defensoria Pública Justiça do Rio a Justiça determinou na sexta-feira (8) a suspensão do decreto.
Apesar de voltar a destacar a sucessiva queda nos números de mortes e casos de Covid-19 no país, a Fiocruz afirmou, em seu mais recente Boletim Observatório que ainda é essencial a manutenção das medidas preventivas para impedir que a circulação do vírus volte a aumentar. Segundo a instituição, estas medidas, como o distanciamento social e uso de máscaras, não estão sendo seguidas.
A instituição defende que, enquanto não houver uma cobertura vacinal ideal, deve-se manter a recomendação do uso de máscara, distanciamento físico, higienização das mãos, além de defender o passaporte vacinal.
“Do nosso ponto de vista, essa liberação de máscaras ainda é inadequada. Temos ainda um nível de circulação [do vírus] alto, apesar das melhoras apresentadas. A vacinação ainda não chegou ao ideal, ainda há muitos testes positivos, ainda não dá para flexibilizar”, diz a nota da Fiocruz.
O que dizem as prefeituras
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) de Itaboraí a digitação dos dados sobre a vacinação de covid-19 na plataforma Vacinômetro SUS é feita de forma centralizada pelo município e, por isso, há um atraso de aproximadamente 30 dias na computação dessas informações. De acordo com a prefeitura, 81,58% da população alvo acima de 12 anos (202.657) foi vacinada com, pelo menos, a primeira dose da vacina.
Segundo a Prefeitura de Queimados, a porcentagem de vacinados, completamente imunizados, chega a 38% no município e que 76% da população foi vacinada com ao menos uma dose. A justificativa para a diferença está no atraso do envio das informações sobre os vacinados. A prefeitura alega ter poucos profissionais para enviar informação de vacinação e promete digitalizar os números até o final de outubro.
Magé disse que, de acordo com os dados no site do Ministério da Saúde, até a última sexta-feira (8), o município havia atingido 50,86% da população com a segunda ou dose única.
Maricá informou que 62% da população da cidade acima de 12 anos está completamente imunizada e que 87% já recebeu a primeira dose da vacina. A prefeitura ressaltou ainda que segue em repescagem permanente para os maiores de 12 anos, além da dose de reforço dos idosos acima de 60 anos.
A Prefeitura de São Gonçalo afirmou que 77,58% da população com mais de 12 anos foi vacinada com a primeira dose e 57,67% da população já recebeu a segunda dose. A prefeitura disse que a Secretaria Muncipal de Saúde segue trabalhando para agilizar a atualização dos dados.
Já São João de Meriti confirma que teve problemas técnicos de infraestrutura e que muitas fichas serão inseridas e o sistema atualizado com o número mais recente.
A Prefeitura de Belford Roxo informou que o cronograma de vacinação no município segue em ritmo normal e que os dados são repassados diariamente à Secretaria de Estado de Saúde. E disse que o percentual divulgado (22,96%) não reflete a realidade, pois pelo menos metade da população de Belford Roxo está vacinada.
A Prefeitura de Japeri disse que 38% do público-alvo já recebeu a segunda dose ou dose única e que para aumentar o número de pessoas imunizadas tem realizado vacinação extramuros e ampliado o horário de vacinação para até 20h.
Mesquita afirmou que segundo dados do vacinômetro do LocalizaSUS, gerido pelo Ministério da Saúde, o município vacinou mais de 51% da população com duas doses.
A Secretaria Municipal de Nova Iguaçu informou que até o dia 8 de outubro 41,5 % da população foi vacinada com as duas doses. Já Nilópolis disse que, excluindo os adolescentes de 12 a 17 anos, pois ainda não foram completados o mínimo de 2 meses para serem imunizados com a segunda dose, a cidade vacinou 41% da população.