Vereador Sandro do Sindicato, morto nesta quarta-feira, em Duque de CaxiasDivulgação

O caso do vereador Sandro do Sindicato (Solidariedade), morto na manhã desta quarta- feira (13), em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense está longe de ser um caso isolado. Com ele, já são 26 políticos assassinados no estado do Rio desde 2018. Só na Baixada Fluminense, desde 2016, foram contabilizadas 29 mortes de pessoas ligadas a política na região. Morto a tiros de fuzil enquanto dirigia uma van de sua propriedade, Sandro é o terceiro político assassinado na cidade em pouco mais de seis meses.

De acordo com a polícia, boa parte dos crimes tem relação com disputas que envolvem milícias. Em 2020 a Polícia Civil criou uma força-tarefa para investigar a suspeita de exclusividade de curral eleitoral em área de atuação de grupos paramilitares. A força-tarefa foi criada após o assassinato dos candidatos a vereador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Mauro Miranda da Rocha, em setembro, e de Domingos Barbosa Cabral, 20 dias depois.

Há anos as ações dessas organizações criminosas são investigadas. Elas são conhecidas pelo uso de violência. Nas eleições, os milicianos atuam com promessas financeiras para ajudar na vitória dos políticos nas urnas, além de garantirem currais eleitorais.
De acordo com o levantamento 'Crimes Eleitorais e Violência Política na Baixada Fluminense', feito pelo Fórum Grita Baixada (FGB), 36% dos crimes políticos são atribuídos somente a disputa entre grupos milicianos.  No município de Queimados, por exemplo, em 2019, o então vereador e ex-secretário de Defesa Civil Davi Brasil Caetano, do Avante, chegou a ser preso em julho acusado de liderar uma milícia conhecida como “Caçadores de Ganso”, responsável por execuções no município.
Em 10 de março deste ano, Danilo Francisco da Silva (MDB), o Danilo do Mercado, e o filho dele, Gabriel da Silva, de 25 anos, foram encontrados mortos na Praça Jardim Primavera, em Caxias. De acordo com a Polícia Civil, Danilo do Mercado era investigado em inquéritos que apuravam mortes, formação de milícia e grupo de extermínio, grilagem de terras, extorsão e ameaça.
Danilo do Mercado e seu filho, Gabriel, de 25 anos, foram mortos em março - Divulgação
Danilo do Mercado e seu filho, Gabriel, de 25 anos, foram mortos em marçoDivulgação


Em maio de 2018, os milicianos Guilherme de Souza Barbosa, Pedro Paulo da Silva Figueiredo e Nilton Alves Soares da Silva foram presos apontados como assassinos do ex-vereador de Duque de Caxias Alexsandro Antônio, conhecido como Sandro Gordo, morto em janeiro de 2017 em Xerém, na Baixada Fluminense.
Quase um ano e meio depois, a milícia também foi apontada como responsável pelas mortes de Robson Giorno, pré-candidato à prefeitura de Maricá pelo Avante, e do vereador do município Ismael Breve de Marins, do DEM, que foi morto em casa com seu filho, Thiago Marins.
"Penso que essa recorrência de assassinatos de políticos na Baixada Fluminense apresente alguns elementos que se relacionam entre si, fortalecendo-os e alimentando a continuidade dessa prática bárbara. Em primeiro lugar, quase 40 % dos assassinatos de políticos estão relacionados a disputa por negócios ilegais das mais diferentes modalidades, mas todos altamente lucrativos, especialmente negócios disputados por e entre grupos milicianos. Isso, por si só já e um fator de risco enorme", afirma Adriano Araujo, cientista social e coordenador executivo do Fórum Grita Baixada. 


Campanhas eleitorais violentas

As campanhas eleitorais nos últimos anos também ficaram mais violentas na região metropolitana do Rio. Em 2016 o ano eleitoral na Baixada começou com um assassinato. No dia 13 de janeiro daquele ano, o vereador de Magé Geraldo Cardoso Gerpe, do PSB, conhecido como Geraldão, foi morto a tiros no estacionamento da Câmara Municipal da cidade. Nos meses seguintes, as mortes continuaram e foram registrados o assassinato 12 pré-candidatos, candidatos e cabos eleitorais que atuaram na região, de acordo com levantamento do Fórum Grita Baixada.

Na época, o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral Gilmar Mendes chegou a ir à Duque de Caxias e confirmou a presença das Forças Armadas para reforçar a segurança da região. No ano seguinte o município teve uma morte de político registrada.

Em 2019, no entanto, o número de atentados violentos a políticos voltou a explodir: 10 foram baleados na região metropolitana do Rio e sete deles morreram. Desse total, oito dos casos ocorreram na Baixada, totalizando cinco mortes, segundo levantamento da plataforma Fogo Cruzado.

De acordo com o Fórum Grita Baixada há um grande índice de assassinatos de pré-candidatos. Do total de 25 casos (período de 2016 a 2020), 12 são de pré-candidatos a vereador (48%), três são de candidatos a vereador (12%); três são de vereadores (12%) e três são de suplentes de vereadores (12%), totalizando 21 dos 25 casos. Os demais referem-se a cabos eleitorais (1), ex-candidato a prefeitura (1), ex-vereador (1) e gerente de empresa pública (1).

Ainda segundo o levantamento, as cidades que registraram essas mortes são: Nova Iguaçu, Magé, Seropédica, Duque de Caxias, Japeri, Nilópolis, Paracambi e São João de Meriti.


Atentados contra políticos

Em fevereiro de 2019, por exemplo, o carro que transportava o prefeito de Belford Roxo, Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, e sua esposa, a deputada federal Daniela do Waguinho, foi atingido por um tiro de fuzil. O casal não se feriu. Oito meses depois, Waguinho voltou a ser alvo de tiros quando visitava as obras da prefeitura no bairro de Heliópolis. Escapou novamente.

No mesmo ano, outro político da cidade foi vítima de um atentado parecido: Júnior Cruz, presidente do PSL do município e pré-candidato à prefeitura, foi alvo de tiros quando passava de carro pela Avenida Brasil, na altura de Barros Filho, na zona norte do Rio.
Joaquim José Santos Alexandre, o Quinzé, foi morto a tiros na noite do dia 12 de setembro, na divisa de Duque de Caxias e São João de Meriti - REPRODUÇÃO FACEBOOK
Joaquim José Santos Alexandre, o Quinzé, foi morto a tiros na noite do dia 12 de setembro, na divisa de Duque de Caxias e São João de MeritiREPRODUÇÃO FACEBOOK

Em setembro deste ano, o vereador Joaquim José Quinze Santos Alexandre, o Quinzé (PL),foi assassinado a tiros no limite entre Duque de Caxias e São João de Meriti. Ele era ex-policial militar e tinha 66 anos. Segundo testemunhas, o vereador foi visitar uma conhecida e, ao desembarcar, foi baleado por um homem que estava dentro de um carro branco.
Quizé já tinha sofrido uma tentativa de assassinato em 2008. Na ocasião, ele foi baleado na porta de sua casa no bairro Olavo Bilac, atingido pelos tiros na perna e nas costas. Na época, um vizinho do político também ficou ferido.
No dia 24 de setembro deste ano o ex-candidato a vereador por Nilópolis, Jorge Luiz Pereira, conhecido como Jorginho Ibiza, 45 anos, foi morto a tiros na Estrada Mirandela, uma das principais vias da cidade. Em agosto, ele já havia sido vítima de uma tentativa de homicídio. Na ocasião, homens armados dispararam contra o carro dele. Ibiza tinha pontos de mototaxistas no município.
De acordo com o Fórum Grita Baixada 20% dos crimes de natureza política não foram atribuídos a participação inicial de milicianos. Em 24% dos casos nenhuma linha inicial de investigação foi apontada ou descartada.
"Precisamos considerar que dificilmente alguém é responsabilizado por esses crimes bárbaros. Matar continua sendo um negócio com custos muito baixos e provavelmente continuará a ser assim enquanto os mandantes, autores e cúmplices não forem identificados e responsabilizados. A taxa de elucidação desses crimes é baixíssima, assim como nos casos de homicídios em geral. Nesse sentido, a impunidade sinaliza a persistência desses crimes", diz Araujo, coordenador do FGB.

O cenário de violência na política da Baixada Fluminense liga um alerta, que há tempos soa e requer atenção e revela o crescimento de grupos criminosos. "Independente das motivações ou circunstâncias, esse tipo de crime é um atentado a nossa já fragilizada representação política. O crime político aponta para o fortalecimento dos grupos criminosos na Baixada e a ameaça cada vez mais gravemente as representações políticas que poderiam contribuir para uma transformação dessa realidade na região", enfatiza Araujo.


Reunião na Câmara

Na tarde desta quarta-feira uma reunião foi realizada na Câmara de Vereadores de Duque de Caxias. Os parlamentares cobraram providências das autoridades policiais. O presidente da Casa, Celso do Alba (MDB), chamou de “ataque à democracia” a violência contra os vereadores e disse que, toda a Câmara está preocupada. 
Alba afirmou que serão encaminhados ofícios ao governador Claudio Castro e ao Ministério Público solicitando o acompanhamento dos casos que, até o momento, não foram esclarecidos. 
As mortes levaram um clima de medo à Câmara Municipal. Celso do Alba citou que a Comissão de Segurança da Câmara irá acompanhar as linhas de investigação e que a segurança dos vereadores será reforçada a fim de coibir as ameaças que alguns têm recebido. Ressaltou ainda que irá se reunir com o comandante do 15º Batalhão da Polícia Militar para discutir questões como o aumento de efetivo nas ruas e sistemas de segurança.


A Prefeitura de Duque de Caxias emitiu uma nota de pesar lamentando a morte do vereador e decretou luto de três dias na cidade. Alexsandro Silva Faria, o Sandro do Sindicato tinha sido eleito ano passado para o primeiro mandato. Ele recebeu 3.247 votos. Com o falecimento de Sandro, Alex Freitas (Solidariedade) que assume definitivamente a cadeira de vereador.
Vereador fazia parte do Sindicato dos Trabalhadores
Sandro do Sindicato tinha 42 anos e foi atingido por tiros de fuzil. Ele é o terceiro vereador assassinado este ano na cidade.  Sandro estava em uma van quando foi baleado. O veículo estava na Estrada do Pilar, no bairro Pilar, em Duque de Caxias. Ele morreu na hora.  
Segundo Marcos Silva Faria, irmão do vereador, ele estava indo para a Reduc, o local onde ele ajudava os trabalhadores. O vereador era muito conhecido por sua luta junto ao Sindicato dos Trabalhadores de Caxias. 
Marcos afirmou que Sandro não tinha desafetos e era muito querido.
"Meu irmão era muito querido por todos. Se ele tivesse alguma desavença ou se estivesse sendo ameaçado eu saberia, nós éramos muito amigos. A família não faz ideia do que possa ter acontecido, mas acreditamos na justiça e esperamos que tudo seja esclarecido. Meu irmão vai deixar um legado".
O caso foi inicialmente registrado na 60ª DP (Campos Elíseos), mas a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) assumiu a investigação. A Polícia Civil afirmou que instaurou inquérito para apurar o fato e que a investigação está em andamento. 
O corpo do vereador chegará nesta quinta-feira, às 5h, à capela do cemitério Nossa Senhora do Pilar. O sepultamento está marcado para às 10h.



Leia a nota da prefeitura na íntegra:
"É com profundo pesar que a Prefeitura de Duque de Caxias, em nome do prefeito Washington Reis, solidariza-se com os familiares e amigos pelo falecimento do vereador Alexsandro Silva Faria, conhecido como Sandro do Sindicato, nesta quarta-feira (13/10). A Administração Municipal lamenta profundamente e presta sinceras condolências por essa grande perda. Rogamos a Deus conforto espiritual a toda família neste momento de imensa dor e tristeza. Diante dessa perda irreparável, o governo municipal declara luto oficial na cidade por três dias".