Rio - Vizinhos ao prédio que desabou na Rua Coronel José Muniz, em Nilópolis, contaram ao DIA o drama da tentativa de resgate de Gustavo Loureiro Amorim, 26 anos, morto no local. "Vi a perna dele e chamei. Ele não respondeu, mas tossiu. Acho que estava agonizando, mas ainda estava vivo", relatou Davi Cintra Ladeira Junior, 40 anos. Davi, primeiro vizinho ao chegar ao local, também ajudou a resgatar Nilcea Souza, 62 anos e Jorge Brandão, 54.
"Quando cheguei, eu vi o Jorge e a Nilcea. Ela me perguntou: 'Davi, o que aconteceu?' Eu disse: 'O prédio desabou'. Ela estava com bastante cortes, mas estava bem. O Jorge, eu segurei no pé dele para ajudar ele a sair, porque lá dentro estava tudo escuro. Fui guiando ele", contou. Além deles, Giovana Amorim, 19 anos, irmã de Gustavo, também se feriu. "A menina (Giovana) eu não via, mas ela gritou e aí soubemos que ela estava lá. Mas, como ela estava no primeiro andar, tinha muitos escombros"
Nilcea Souza e Giovana Amorim foram atendidas no Hospital Geral de Nova Iguaçu. Giovana entrou na unidade lúcida e orientada e foi liberada com ferimentos leves. Nilcea sofreu traumas na cabeça, tórax e abdômen. Ela passou por uma tomografia e foi medicada. No fim do dia, Nilcea recebeu alta hospitalar.
A Guarda Civil Municipal está no local. A Polícia Civil encerrou a perícia e o laudo para saber se houve danos nos imóveis vizinhos deve sair nesta segunda-feira, segundo os próprios moradores. Ninguém foi orientado a sair de casa, embora alguns moradores, assustados, contam que vão para casa de familiares.
"Minha esposa está na casa da minha sogra. Eu devo dormi em um imóvel que tenho perto daqui. Não vou dormir aqui hoje. Só volto quando eu estiver com o laudo da Defesa Civil", afirmou José do Espírito Santo Filho, de 59 anos.
O pai da Giovana e do Gustavo esteve no local para pegar o cachorro da filha. Segundo o tio da jovem, ela está pedindo para ver o bichinho de estimação. Ele contou que sua irmã, Miriam Machado Loureiro, dona de um dos apartamentos e mãe de Gustavo, está em choque.
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Cadela de Giovana, irmã de Gustavo, que morreu no local
Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
Carro de vizinha sob os escombros
Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
Miriam Machado (rosa), mãe de Gustavo
Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
"A ficha ainda não caiu, ela está abalada. Minha irmã tinha acabado de comprar este imóvel, morava aqui há uns cinco meses. A Giovana também está muito abalada. Ela estava pedindo muito para ver o cachorrinho dela, então viemos buscar assim que soubemos que ela estava com vizinhos", disse Luciano Machado.
Ele salientou que Gustavo era um jovem doce e trabalhador. O rapaz tinha acabado de ser promovido no trabalho. "Ele era um menino doce, tranquilo... um moleque muito gente boa. Ele estava feliz porque tinha sido promovido. Ele trabalhava com informática em um supermercado".
Moradores viram coluna estufada
Vizinha do edifício, Janaína Santana, 49 anos, disse que viu uma coluna do imóvel estufada, mas não conseguiu avisar aos moradores do edifício.
"Foi um barulho muito grande. Acordamos logo e na hora eu já sabia que era o prédio, porque já tinha visto uma coluna estufada. Eu e meu marido íamos avisar a dona do prédio, mas não deu tempo. Isso tem uns três dias", disse Janaína, que perdeu seu carro no acidente. Segundo ela, vizinhos usavam a garagem do prédio para guardar veículos.
Segundo testemunhas, um morador da Rua Coronel José Muniz que também alugava uma vaga na garagem do prédio retirou o carro dele durante a noite deste sábado, por precaução. José do Espírito Santo Filho, 59, professor, mora na rua há 27 anos, e ontem retirou seu veículo e duas bicicletas que ele guardava no estacionamento do edifício.
"Eu vi umas rachaduras em uma das colunas. Estava sem o reboco e com ferro aparecendo. Isso me chamou atenção e uma moradora que guardava o carro aqui disse que tinha avisado à proprietária e que ela enviaria um engenheiro para verificar. Mesmo assim, eu resolvi tirar meu carro e duas bicicletas de lá. Algo me falava para tirar, que não era seguro".
José contou que acordou com o barulho do desabamento. "Foi muito barulho, parecia um trem invadindo minha casa. Foi assustador. Na hora minha esposa falou: 'foi o prédio'. Saí na rua e era uma nuvem de poeira".
Motorista de aplicativo de passageiros, Jorge Luiz Marinho de Castro, 27 anos, não teve a mesma sorte do vizinho, perdeu o carro na tragédia e disse que por pouco não estava no local na hora do desabamento. Há cinco anos ele alugava uma das vagas.
"Acordei cedo e quase fui no estacionamento retirar meu carro de lá porque eu ia sair para trabalhar. Acabei desistindo e em seguida faltou luz e ouvi o barulho. Achei que era um caminhão que tinha arrastado os fios. Quando olhei na rua era muita poeira aí quando vi o que tinha acontecido me desesperei". Segundo ele, o prédio estava em boas condições. "Meu carro ficava lá há muito tempo e nunca tive problemas antes. O prédio era bem cuidado e sempre tinha manutenção. Eu trabalho com o carro e vai ser um grande prejuízo, mas são bens materiais", disse.
O secretário municipal de Obras de Nilópolis, Flávio Vergueiro, disse que o prédio não apresentava nenhuma irregularidade na documentação. "A princípio, na prefeitura, não tinha nenhum registro de irregularidades no imóvel. Pode ser que tenha havido alguma obra posterior que não tenha sido notificada. A secretaria só pode atuar agora após os bombeiros fazerem varredura pra ver se há mais alguém no local e depois da perícia", explicou.
Ainda não há informações sobre a data e local de sepultamento de Gustavo. Parentes reconheceram seu corpo no Instituto Médico Legal (IML) da cidade e a Prefeitura de Nilópolis informou que custeará as despesas do enterro.
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