Patrícia Miranda foi destronada do cargo de rainha de bateria da Acadêmicos de Jacarepaguá após comentário sobre porta-bandeiraReprodução

Rio - A rainha de bateria do Acadêmicos de Jacarepaguá foi destronada na terça-feira (2) após fazer um comentário considerado preconceituoso durante entrevista em uma live na última segunda-feiraPatrícia Miranda perdeu dois cargos no Carnaval carioca. Além do reinado no Jacarepaguá, a dançarina também foi desligada da 'Em Cima da Hora', onde comandava a ala de passistas. 
As duas agremiações se solidarizaram ao porta-bandeira da Acadêmicos do Sossego, Anderson Morango, que foi alvo da entrevista conduzida pelo apresentador Julio Bombinha. Durante um quadro denominado "Bomba ou Confete", Bombinha perguntou à Patrícia se ela jogaria bomba ou confete no fato de homens desfilarem como porta-bandeira, citando o caso da Acadêmicos do Sossego.
"A Sossego tem o mestre-sala e ao invés da mulher de porta-bandeira, tem um homem de porta-bandeira. Você joga bomba ou confete em homens que desfilam de porta-bandeira?", perguntou o apresentador da live.
"Com total respeito, eu jogo bomba. Não concordo. Eu acho que porta-bandeira é porta-bandeira. Mostrar aquela beleza que a porta-bandeira sabe fazer, sabe? Aquela dança e toda aquela delicadeza. Não que um homem não possa fazer. Mas, eu já não concordo", afirmou a até então rainha da Acadêmicos de Jacarepaguá, Patrícia Miranda, no que o apresentador concordou com a entrevistada.
Anderson Morango acordou no dia seguinte com uma enxurrada de ligações e mensagens em solidariedade. O 2º porta-bandeira da Sossego desfilará pela quarta vez em 2022 pela agremiação. Ele conta que em 2018 foi procurado pela escola justamente para se contrapor à intolerância.
“A bandeira que foi levantada foi contra o preconceito. As pessoas me apoiaram e me acolheram na escola no primeiro ano em que desfilei, em e nos anos seguintes”, conta o artista.
Apesar do apresentador da live ter afirmado na entrevista que a tradição do Carnaval determinaria que mulheres exerçam a função, Anderson Morango lembra que o primeiro porta-bandeira era homem.
“Historicamente, porta-bandeiras eram homens. Na época, havia roubo de pavilhão e a força era importante para protegê-lo. Ubaldo, da Portela, foi o primeiro porta-bandeira. Já Maria Adamastor era mulher, queria desfilar e se vestiu de mestre-sala. Antes, eu não tinha muita estrutura psicológica para esse tipo de retaliação. Mas, grandes porta-bandeiras me apoiaram como Vilma Nascimento, Denadir Garcia e Selminha Sorriso”, conta Anderson.
Anderson Morango recebeu apoio da sua escola e de co-irmãs. Ele cobra empatia e respeito na festa. “Nada que as pessoas falam vai me impedir ou parar. Ninguém é obrigado a aceitar nada, mas todos têm que respeitar. No Carnaval, não pode haver desrespeito, nem pode haver preconceito”, afirma.
Patrícia Miranda diz que está repensando sobre o ocorrido e lamenta que tenha sido interpretada de forma equivocada. À reportagem, a modelo contou que está se sentindo muito mal e indicou um contato para assessoria. A dançarina reitera pedido de desculpas e diz que em momento algum foi desrespeitosa. 
“Ela entende agora que a pergunta na entrevista ia além de um segmento, falava sobre representatividade, a qual ela sempre respeitou. Patrícia entende o ocorrido, no entanto, a forma como foi tratada pelas escolas de samba que integrava ainda está sendo digerida e por esse motivo, ela está se reservando e tentando assimilar”, diz o texto da assessoria da ex-rainha.
O apresentador da live Julio Bombinha divulgou nota e disse que em nenhum momento desrespeitou ninguém “Se querem retaliar alguém que fizesse comigo, não com ela. Eu não conheço pessoalmente o Porta-Bandeira da Acadêmicos do Sossego, mas só ouço elogios dele. Estou à disposição caso queira conversar e falarmos sobre o assunto. Quem me conhece sabe que sou respeitador e desprovido de preconceitos”, escreveu.
Selminha Sorriso afirma que virão outros Moranguinhos
A porta-bandeira da Beija-Flor de Nilópolis, Selminha Sorriso, afirma que o Carnaval tem que ser espaço de inclusão e acrescentou que vêm mais 'Moranguinhos' aí. A grande artista revelou que está dando aulas para um aluno que vai desfilar como porta-bandeira no ano que vem em uma escola LGBT na Intendente Magalhães, a Bangay.
"Tem sempre alguém que não entende a importância da evolução do Carnaval. Não existe espaço para preconceito e discriminação. O respeito sempre vai ser recorrente. Nós apoiaremos os sambistas que forem desrespeitados”, afirma a porta-bandeira. Selminha faz um trabalho de inclusão na Beija-Flor. Além do rapaz, ela também dá aula para uma mulher de 74 anos. "Carnaval é espaço democrático. É família e convívio social. E o Carnaval evoluiu”, resume. A porta-bandeira destaca que o importante é tratar a função com amor.
A Acadêmicos de Jacarepaguá, que desligou a rainha após o episódio, esclareceu que a agremiação repudia qualquer tipo de preconceito. “O Carnaval é a maior manifestação popular e está aberto para todos mostrarem seu talento, seja ele qual for’, diz a escola.
Já a o G.R.E.S. Em Cima da Hora, prestou solidariedade ao 2⁰ Porta-Bandeira da Acadêmicos do Sossego, Anderson Morango. “Desejamos a você, Morango, uma linda trajetória no samba e fora dele e, ao Sossego, parabenizamos pela iniciativa da inclusão e abertura de portas para outras escolas seguirem seus passos”, disse em nota.
A escola de Anderson Morango usou de ironia para apoiar o artista. “Nossa Porta-bandeira Anderson Moranguinho realmente sempre bomba aonde passa e é o orgulho da nossa agremiação”, escreveu a escola em sua rede social.