Rio de Janeiro - 04/11/2021 - CIDADE/ Rio de Janeiro - Manifestantes da marcha das favelas se reuniram na tarde de hoje ao lado do predio da Alerj, Sayonara Oliveira , avó da jovem Kathlen Romeu , assassinada Foto : Fabio Costa/ Agencia O DiaFabio Costa/ Agencia O Dia

Rio - Uma faixa da Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, foi ocupada por manifestantes durante uma passeata para marcar o Dia da Favela. Sayonara Fátima, avó da jovem Kathlen Romeu, morta aos 24 anos com um tiro de fuzil durante uma ação da PM, no Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio, esteve presente na caminhada. "É vergonhoso a gente estar lutando por dignidade, a qual nós temos direito. Nós somos fuzilados todos os dias. É muito vergonhoso", disse. A designer de interiores morreu em junho deste ano.
Os manifestantes se concentraram no Campo de Santana e deram início a uma marcha em direção à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para encontrar com o presidente da Casa, o deputado André Ceciliano (PT). O objetivo da reunião era falar sobre os pontos mais importantes para a vida dentro das comunidades como, segurança pública, combate à fome, a reabertura dos restaurantes populares, o uso de recursos da privatização da Cedae para investimentos nas favelas e o fim do reconhecimento fotográfico, tema já abordado pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e por entidades de Direitos Humanos.
"No dia do acontecido com a minha neta, o primeiro policial que veio a mim, eu pensei que ele ia me socorrer, mas não, ele passou pela minha neta e veio me oprimir. Eu tive que gritar socorro com a minha neta no chão. Então isso é muito nojento, a gente ter que ir pra rua, protestar, pedir por dignidade", disse Sayonara.
Eventos 
O 'Dia da Favela' será marcado também pela homenagem ao sambista Arlindo Cruz, queima de fogos e outras atividades. Ao todo, são 12 pontos do Rio, Niterói e Duque de Caxias, com eventos entre aulões, oficinas, exposições, concursos e até batalhas de rima. A data celebra o primeiro dia em que o termo "favela" foi usado em referência às comunidades no Rio.
A homenagem ao músico Arlindo Cruz foi realizada na Escola República de El Salvador, no bairro da Piedade, na Zona Norte, onde o sambista estudou. A esposa do músico, Barbara Cruz, o sambista e amigo Dudu Nobre e a bateria do Império Serrano, escola do coração de Arlindo estiveram presentes na homenagem. Juntos eles formaram um coral formado por alunos do colégio. 
"É um dia para ser guardado no coração, na memória, pra sempre. A certeza de que valeu a pena toda a trajetória do Arlindo. É muito gratificante ver essas crianças estudante nessa escola décadas e décadas depois [...] ainda conhecem, estudam e são alimentadas pela poesia do Arlindo", disse Barbara.
Barbara destacou que a favela é um lugar que precisa ser olhado de perto e que de comunidades saem diversos poetas e artistas que contribuem para a sociedade. "Da favela saem grandes ídolos, talentos, grandes nomes e na favela a gente tem a honra de bater no peito e dizer 'eu também sou favelado', um favelado com excelência", finalizou.
Dudu nobre usou seu perfil no Instagram para falar sobre a presença em uma das ações do Dia da Favela.
A Central Única das Favelas (Cufa) também foi uma das organizadoras de eventos da data com o Concurso Pega a Visão para premiar os melhores cliques da sua comunidade feito pelos jovens. A disputa, a voto popular, dá aos vencedores passagens aéreas para qualquer destino no Brasil (ida e volta), um mural com a foto transformada em grafite, livros e outros prêmios.
Dia da favela
No Rio de Janeiro, o Dia da Favela é lei desde 2006, quando foi proposta pelo então vereador Edson Santos. E, em 2019, se tornou lei também no estado do Rio, por conta da então deputada Martha Rocha.
A data foi escolhida, porque foi neste dia que o termo favela apareceu em um documento oficial. Foi no Rio de Janeiro, em 1900, redigido pelo o então delegado da 10º Circunscrição e o chefe da Polícia da época, Dr. Enéas Galvão, que se referiu ao Morro da Providência como favela, onde moravam os favelados.
Eram conhecidos assim os soldados que lutaram na Guerra dos Canudos (1896-1897), na Bahia, e ficaram marcados pela planta favela, muito comum no Sertão Nordestino. Após a guerra, eles foram morar no Morro da Providência, região central do Rio. As manchas que a planta deixou no corpo deles, fez com que eles ficassem conhecidos como “favelados” e o local onde moravam, como favela. O Morro da Providência é conhecido por ser a primeira favela do país.