Blocos de apartamentos da Fazenda BotafogoREPRODUÇÃO FACEBOOK

Rio - O francês Victor Frond, o britânico William Ouseley e os austríacos Franz Fruhbeck e Thomas Ender fizeram parte da leva de 'artistas viajantes' que, assim como o consagrado Jean-Baptiste Debret, desembarcaram no Brasil no século XIX e ajudaram a retratar o Rio de Janeiro imperial. Hoje, seus nomes descansam em placas de ruas que cortam a Fazenda Botafogo, região da Zona Norte do Rio que pode dar seu próprio grito de independência em breve. Um projeto de lei de autoria do vereador Celso Costa (Avante) pretende dar status de bairro à região. A proposta pode ser votada na próxima terça (9) na Câmara de Vereadores. Caso seja aprovada em duas discussões e sancionada pelo prefeito Eduardo Paes, o Rio terá um 164º bairro oficial.
Margeada pelo Rio Acari, antigo ponto de lazer e atualmente motivo de transtorno com inundações e sujeira, a região tem até nome na Linha 2 do Metrô - a estação Fazenda Botafogo/Acari -, mas é considerada ainda um sub-bairro de Coelho Neto, o que, segundo os moradores, confunde e leva medo a visitantes e motoristas. "Tem gente que acha que é Acari, que é Costa Barros, que é Complexo da Pedreira, e não entra. Tem outros que acham que Fazenda é o nome de uma favela. Pedir carro por aplicativo, por exemplo, é difícil", confessa a recepcionista Renata Silva, moradora da região.
O historiador Rafael Mattoso explica que a Zona Norte dos tempos coloniais era dividida em freguesias, administradas pela igreja católica. "Historicamente, toda essa área pertencia à Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá, que foi fundada em 1613, uma das mais antigas do Rio. Até 1822, ano da independência, você só podia ser proprietário de terras se tivesse influência do rei. Essa região do fundo da Baía, por estar do lado do Rio Acari e Pavuna, eram grandes áreas produtoras de cana de açúcar entre os séculos XVI e XVII (16 e 17)". 
No século XIX, quando os artistas franceses ainda pintavam a Baía de Guanabara em águas claras, Fazenda Botafogo era parte das posses do fazendeiro Antônio da Costa Barros, que daria nome depois ao bairro vizinho, assim como seu herdeiro Barros Filho. 
"Todos esses bairros só se oficializam na década de 1960, quando o Rio deixa de ser Distrito Federal e a prefeitura começa a entender os limites desses bairros. Alguns só foram delimitados na década de 1980", explica Mattoso. A região cresceu exponencialmente na década de 1970, quando ganhou o Distrito Industrial e um grande conjunto habitacional com cerca de 86 prédios, com 40 apartamentos cada. "A Avenida Brasil, inaugurada em 1946, é esse grande marco, com fábricas nas margens. A partir daí, há um boom da ocupação na região e a expansão da favelização", diz o historiador.
Houve o crescimento populacional e, mais recentemente,os problemas de segurança pública. A intenção de Costa, autor do projeto de lei, é dar nova cara ao possível futuro bairro carioca. "Em virtude da violência e do abandono do poder público, os empresários saíram da Fazenda Botafogo e foi se deteriorando", conta o parlamentar. "Na hora de o Poder Executivo estabelecer a divisão dos serviços, é importante para a gente brigar por mais investimentos públicos. É reconhecer não só simbolicamente o bairro, mas também para que a prefeitura enxergue possibilidade de crescimento", diz o vereador. Os últimos bairros criados no Rio foram Vila Kennedy, em 2017, e Jabour, em 2019, ambos na Zona Oeste.