Marta Bandeira cita que a inflação e a alta do dólar encareceram demasiadamente as fantasiasDivulgação
Inflação e a escassez de produtos mexem com o carnaval do Rio
Escolas de samba, musas e rainhas sofrem com a alta do dólar e pouca produção de itens importados
Rio - O Carnaval das escolas de samba recomeçou, após quase dois anos de pandemia da covid-19, e as dificuldades estão surgindo no meio do caminho com menos de 100 dias para os desfiles na Marquês de Sapucaí em fevereiro de 2022. Um dos principais problemas é o custo dos materiais para produção das fantasias e alegorias. Procurada pelo DIA, as escolas de samba informaram que o ferro, que serve de base para os carros alegóricos, sofreu um aumento de 300%. Para o comentarista da TV Globo, Milton Cunha, o alto valor e a escassez de produtos eram esperadas pelo tempo de inatividade das empresas.
"Estava óbvio viria a escassez. As empresas não produziram e não estocaram material. O gestor moderno sabe que se você usar bem a escultura, o volume, a base pouco importa. Tem que estar bem decorado. Não acredito que vão gastar dinheiro com ferragem", explicou.
A empresária, musa fitness e influenciadora digital Marta Bandeira cita que a inflação e a alta do dólar encareceram demasiadamente as fantasias e está dificultando a vida das beldades.
"Uma fantasia de musa pode passar de R$ 20 mil. Sem contar que ainda entra nessa conta gastos com roupas para ir aos ensaios, deslocamentos, alimentação e pagamento de staff. Estou vendo preços de produtos que compõe fantasias e estão um absurdo".
O estilista Marcus Andrade, mais conhecido como Markety, trabalha há 25 anos no carnaval, produzindo fantasias para musas, destaques e rainhas de escolas de samba. Ele revela que já está confeccionando 10 fantasias para 2022 e confirma a alta nos preços.
"Eu compro muitos produtos da Suíça, dos Estados Unidos e da China. A pandemia elevou muito os valores, já que a produção nas fábricas diminuiu e algumas até fecharam. Esse contexto impactou diretamente no mercado de fantasias. Está difícil comprar penas e outros produtos fundamentais".
Apesar dessas dificuldades, Milton Cunha garante que o profissional será o reencontro na Avenida e a força do canto das comunidades. "O artista de carnaval é muito criativo. Vamos voltar para nossas origens. Não tem brilho, usa a quentinha brilhosa. O material refinado reaproveita ou vai para solução interessante, engraçada e inusitada. O material não será a tônica decisiva. As escolas vão apresentar outro material que é a animação, o emocional. Vai ser um encontro de titãs. Resolvido na Avenida e não barracão".
'Preço dos materiais, como os cristais, subiu 20%'
Musa da Vila Isabel, Paula Bergamin, concorda que o valor dos produtos para fantasias sofreu uma alta muito forte em comparação ao desfile de 2020.
"Como os materiais são importados, por exemplo, os cristais.. o preço está em média 20% mais caro, em função da subida do dólar. O pior é a escassez dos produtos, mas espero um carnaval grandioso pra lavar nossa alma desse período de perdas e tristezas. Estamos todos sedentos por alegria. Os profissionais do carnaval passaram muitas dificuldades e essa é uma "indústria" que traz dividendos gigantes no setor turístico gerando muitos empregos. Pessoalmente, pisarei na avenida com 60 anos e musa e isso me enche de esperança e alegria antecipada", festejou.
Segredo é evitar erros e desperdícios nas escolas
Dentro dos barracões na Cidade do Samba, o clima é de esperança pela volta dos eventos e dos desfiles em 2022. Porém, todas escolas de samba estão conscientes que os valores dos produtos comprados em 2020 sofreram acréscimo muito forte.
"Além do tempo escasso, já que a confirmação veio numa época que já teríamos muita coisa encaminhada, o preço das coisas está muito alto. Comparamos com 2020 e já percebemos que gastaremos três ou até quatro vezes mais em alguns materiais, sem aumentar necessariamente a quantidade utilizada. A única solução é ter uma equipe bem fechada e capaz de buscar o melhor preço. Evitar ainda mais erros e desperdícios", explicou Marquinho Marino, diretor de carnaval da Mocidade.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.