FabioCosta
Madrinha de entregador morto em Niterói diz que PMs 'mataram e arrastaram corpo pelo beco'
Parentes estiveram no IML em Niterói para liberar o corpo de Elias Oliveira, de 24 anos. Ele deixa uma filha de um ano
Rio - Parentes do entregador Elias Oliveira, de 24 anos, contestam a versão da Polícia Militar sobre a morte do rapaz, ocorrida durante uma ação da polícia no Morro do Palácio, em Niterói, Região Metropolitana do Rio, na tarde desta quarta-feira. A madrinha do jovem, a diarista Viviane Almeida, diz que Elias estava trabalhando e que, depois de ser baleado, a família foi informada por PMs que ele seria traficante. "Os policiais abordaram, mataram e saíram arrastando pelo beco no morro, na comunidade. Lá no hospital falaram para a família que ele estava sentado em uma boca de fumo. Mentira", desabafou ao DIA.
O rapaz, segundo a família, foi baleado com dois tiros, um no tórax e outro na virilha. O corpo foi liberado nesta quinta-feira, no Instituto Médico Legal (IML) de Niterói. "É fácil chegar na favela, pegar um preto, favelado, pobre, matar e botar como traficante. Infelizmente nós que moramos na favela somos tratados como bandidos, todos nós somos marginais", disse Viviane.
Elias trabalhava como entregador e durante os fins de semana complementava a renda atuando como DJ. Ele deixa uma filha de um ano. Na nota divulgada pela PM na noite de ontem, a corporação informou que policiais do 12º BPM (Niterói) foram atacados durante patrulhamento em uma das ruas que dão acesso ao Morro do Palácio.
"Na ação, dois homens foram presos com uma pistola e drogas", disse a nota. Mais tarde, a PM alegou que um homem foi preso e outro foi encontrado ferido após uma troca de tiros. A morte de Elias, além das prisões e apreensões, foi registrada na 76ª DP (Niterói), mas o caso já foi assumido pela Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG). A Polícia Civil informou que a perícia foi realizada no local. Os agentes estão ouvindo testemunhas e coletam informações para esclarecer todos os fatos.
Inconformada com a versão da polícia, a irmã de Elias, Elen Lima Oliveira, disse que queria provas para atestar que seu irmão era envolvido com o tráfico local. "Cadê as drogas e arma? É isso que a gente quer ver por que eles deram uma versão, depois voltaram atrás e deram outra. Eles estão em contradição, não somos nós. Meu irmão estava indo trabalhar", disse Elen.
Muito abalado com a morte de Elias, o irmão do entregador, Leonardo Lima de Oliveira, que é pastor, filmou o local onde o rapaz foi baleado. As imagens foram publicadas em uma rede social. No IML, Leonardo disse que já trabalhou em comunidades carentes com ações sociais de acolhimento e que não imaginava que veria um caso de violência acontecer na família.
"Eu nunca imaginei que eu seria vítima dessa violência, que já ocorreu em várias comunidades. Minha pergunta agora vai para os nossos governantes, para o Ministério Público: quantas pessoas mais terão que morrer para nossa voz ser ouvida? Quanto sangue mais clamará por justiça? Nas escadas, nas ruas? [...] Olha meu estado psicológico, não estou conseguindo me concentrar", desabafou.
O subscretário de Direito Humanos de Niterói, Raphael Adonis, esteve no IML para oferecer acolhimento à família do rapaz. Segundo ele, o objetivo é garantir a segurança das testemunhas e oferecer apoio jurídico e psicológico. Além disso, a prefeitura também irá colher relatos do ocorrido com os policiais envolvidos no caso.
"Elias é mais uma vítima de uma política de segurança que se mostra ineficaz nos últimos quarenta anos. A gente ainda vai conversar com o comandante do 12ºBPM (Niterói) para que a gente faça a apuração necessária e preste esclarecimento pra sociedade [...] a gente está aqui justamente para resguardar o depoimento das testemunhas [...] para que sejam ouvidas e o devido processo legal seja respeitado", completou.
O corpo de Elias será sepultado às 16h, no Cemitério do Maruí, em Niterói.
Colaborou Reginaldo Pimenta
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.