Antônio Ilário Ferreira, o RabicóDivulgação/Portal dos Procurados

Rio - Ordens para atacar agentes de segurança a tiros, roubar veículos e cargas, e financiamento de guerras contra facções rivais. É desta forma que Antônio Ilário Ferreira, conhecido como Rabicó, de 57 anos, comanda o tráfico de drogas do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, desde o final dos anos 1990. Apontado como uma das principais e mais antigas lideranças da facção criminosa Comando Vermelho (CV), Rabicó figura como foragido da justiça, com dois mandados de prisão preventiva pendentes contra ele.
O último final de semana foi marcado por intensos tiroteios no conjunto de favelas. Na manhã de sábado (20), o sargento da PM Leandro da Silva, de 38 anos, lotado no 7º BPM (São Gonçalo) foi morto durante uma troca de tiros com traficantes. Logo em seguida, militares do Bope ocuparam a comunidade para tentar capturar os responsáveis pelo homicídio e resgatar colegas de farda que estavam encurralados, segundo a Polícia Militar. Populares relataram tiros até a noite de domingo (21) e, na última segunda-feira, moradores encontraram oito corpos num mangue.
Investigações da Polícia Civil apontam que Rabicó, ou Coroa, como também é chamado por seus subordinados, é oriundo da comunidade da Mineira, na Zona Norte do Rio, e chegou na comunidade gonçalense no final dos anos 1990. Seguindo as diretrizes de sua organização criminosa, sua determinação para os seus soldados sempre foi de resistir à ação policiais com intensas trocas de tiros.
Policiais Civis e militares relataram ao O DIA que para dificultar as incursões com uso de veículos, o traficante colocou cancelas de ferro com cadeados nos acessos das localidades de Itaoca, Palmeira e Conjunto da PM e da Marinha.
"Para a gente conseguir passar e acessar essas comunidades, precisamos desembarcar do blindado para tentar abrir a cancela. É como uma cancela daquelas de condomínio, mas é de ferro, super pesada. Eles se aproveitam desse momento para atacar a equipe, atirando na gente", narrou um agente.
Setores de inteligência das duas corporações dão conta que Rabicó conta com um arsenal de centenas de fuzis.
Traficante aderiu práticas criminosas da milícia
De acordo com investigações da 72ª DP (Mutuá) e da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), Rabicó aderiu as táticas de extorsão da milícia para conseguir obter lucros, além dos já adquiridos com a venda de drogas. Segundo a polícia, o traficante estaria extorquindo comerciantes do conjunto de favelas.
"Nossas investigações demonstram que ele tem explorado a venda de água, gás e gatonet. Cobram uma taxa aos comerciantes para eles poderem trabalhar no local", disse o delegado titular da DRE, Marcus Vinicius Amim.
O delegado Allan Duarte, da 72ª DP, também contou que investigações da distrital indicaram que Rabicó também está explorando o transporte alternativo, lucrando com veículos que circulam dentro do Salgueiro. Agentes informaram ainda que ele teria impedido o aumento da frota de ônibus que tem licença para rodar na comunidade. O criminoso figura como indiciado em três inquéritos da delegacia.
Rabicó possui 33 anotações criminais em sua ficha policial e contra ele existem dois mandados de prisão preventiva em aberto, por roubo qualificado e por tráfico de drogas e associação ao tráfico.
Ele também é investigado pela 76ª DP (Niterói), por financiar uma guerra do tráfico. Segundo a distrital, o criminoso cedeu homens e armamentos, e financiou uma invasão de traficantes do CV ao Morro do Estado, no Centro de Niterói, que era controlado pelos rivais do Terceiro Comando Puro (TCP).
Rabicó foi preso em Pernambuco, em 2008, sendo condenado a mais de 27 anos de prisão. Ele cumpria pena em uma unidade prisional de segurança máxima em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu liminar para que Rabicó aguardasse um pedido de recurso em liberdade. Desde que foi solto, ele já foi indiciado em cerca de 15 inquéritos, segundo a Polícia Civil.
Complexo do Salgueiro: um dos QGs do Comando Vermelho
De acordo com a Polícia Civil, o Complexo do Salgueiro é um dos principais redutos do CV no Estado do Rio. Investigadores explicam que a geografia local favorece os criminosos. A comunidade conta com uma extensa área, que margeia a BR 101, possui área de mata e é banhada pela Baía de Guanabara.
E é no meio da mata que os soldados de Rabicó se escondem para poder reagir às investidas das forças de segurança, segundo investigações. Imagens publicadas em redes sociais pelos próprios criminosos mostram eles vestidos com roupas ghillies e fortemente armados com fuzis. A vestimenta é conhecida por sua camuflagem. Seis dos oito corpos encontrados por moradores no mangue usavam roupas camufladas.
Setores de inteligência da Polícia Civil também flagraram os traficantes do Salgueiro caminhando com esse mesmo traje numa trilha, no meio da mata. Além disso, a saída para a Baía facilitaria a fuga dos criminosos durante operações policiais, através de pequenas embarcações e jetskis.
Ainda segundo a corporação, foi essa geografia que fez com que o Complexo do Salgueiro fosse escolhido como QG da facção e esconderijo de diversos criminosos, após a inauguração de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em comunidades do Rio.