Moradores da Serrinha fazem protesto após dias de intensos tiroteios na comunidadeReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - Moradores da Serrinha, em Madureira, Zona Norte do Rio, tem vivido dias de pânico por conta da guerra do tráfico e operações policiais. Constantes tiroteios, invasões às residências e medo viraram a rotina de quem vive na comunidade. No início da tarde deste sábado (11) o clima era tenso. Viaturas do Bope circulam pelo local e os policiais chegaram a lançar bombas de gás de pimenta em direção aos moradores que protestavam na entrada da Serrinha, além de darem tiro para o alto.
"Hoje, às 4h da manhã, tive colocar minhas filhas deitadas no chão porque era muito tiro. Estou apavorada, fico achando que eu e minhas filhas vamos morrer. Minha vontade é ir embora. Não aguento mais", relata uma moradora, que com medo não quis se identificar.
Tremendo e apavorada, ela contou que a rotina dela e das filhas foi totalmente prejudicada. "A gente não dorme, não trabalha, minhas filhas não podem ir pra escola. É tiro o tempo todo. A polícia invade nossa casa com fuzil e aterroriza a gente. Minhas filhas se tremem toda de medo. Elas estão aterrorizadas. Só tem um ano que eu moro aqui, vim pra cá para ficar mais perto do trabalho e dar escolas melhores para minhas filhas. Sou trabalhadora, não sou bandida e nem tenho envolvimento com tráfico. Só quero viver em paz".

Moradora antiga, uma cuidadora de idosos disse estar vivendo um pesadelo como nunca viveu antes. "Moro aqui há 40 anos e nunca esteve tão violento. A última semana tem sido um pesadelo, horrível. Eu não tenho mais sossego, não pude ir trabalhar porque a qualquer momento tem tiroteio. A minha cabeça fica a mil, é um medo de morrer o tempo todo".
Em nota, a Polícia Militar disse que em continuidade às ações de reforço, que começaram no início da semana, equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) foram deslocadas à Serrinha para localizar o paradeiro de armas e possíveis esconderijos de criminosos.
Agentes do 9° BPM (Rocha Miranda) e das Rondas Especiais e Controle de Multidões (Recom) atuaram para estabilizar a região e garantir a circulação do trânsito e na malha do BRT.
Às 19h moradores ainda relatavam que o clima era tenso na região. Em uma foto enviada ao DIA, era possível ver um ônibus atravessado no meio da rua como forma de barricada.
Moradores do Cajueiro expulsos por traficantes

A guerra entre o tráfico também está afetando a vida de moradores no Cajueiro. Segundo uma moradora, 23 famílias foram expulsas pelos traficantes. "Fui expulsa com a minha família, de madrugada. Saímos sem documento, sem nada. A bandidagem tomou a minha casa, tive que ir para casa de parentes, na Serrinha, mesmo sendo arriscado. Eu não tenho mais nada, perdi tudo. Estou usando roupa doada, chinelo maior que meu pé porque saímos só com a roupa do corpo. Estou indo trabalhar porque não posso ficar sem emprego num momento desses, mas saio com medo porque pode ter tiroteio e não sei se vou voltar porque pode estar rolando tiroteio".

Outro morador da Serrinha relatou que os pais, moradores do Cajueiro, também foram expulsos por traficantes. "Bandidos entraram na casa dos meus pais e expulsaram eles de casa só com a roupa do corpo. Dois idosos, sem documento, sem nada. A Serrinha está em guerra. Isso é uma humilhação. Só queremos paz", contou outro morador.
Guerra entre facções
A disputa por território e domínio do tráfico nas comunidades da Serrinha e Cajueiro, em Madureira, é antiga. De um lado, a Serrinha é comandada pela facção Terceiro Comando Puro (TCP), sob o comando de Wallace Brito Trindade, o "Lacoste" e também identificado como "Flamengo", "WC" ou "Salomão", de 34 anos, que também chefia o tráfico de drogas na Fazenda, Patolinha, São José e Dendezinho, que pertencem ao Complexo da Serrinha. Do outro, no Cajueiro, o comando é de traficantes ligados ao Comando Vermelho (CV). 
Em 2016, Lacoste ordenou que os traficantes invadissem o Morro do Cajueiro. A invasão terminou com a morte de Ryan Gabriel Pereira dos Santos, de apenas 4 anos, que brincava com o avô na calçada, e foi atingido por um disparo.
O chefe do tráfico está foragido desde setembro de 2007. Contra Lacoste constam dois mandados de prisão  pelo crime de homicídio e associação para o tráfico, expedidos. O Portal dos Procurados oferece recompensa de R$1 mil por informações que a prisão do criminoso.
Em janeiro, em uma nova tentativa, traficantes da Serrinha tentaram invadir o Morro do Cajueiro. Na ocasião um intenso tiroteio assustou os moradores. A PM foi chamada para intervir e houve confronto.