A lei prevê aumentar a divulgação do casal, além de preservar o símbolo das escolas de sambaLeandro Ribeiro

Rio - O casal símbolo das escolas de samba agora é considerado patrimônio imaterial do estado do Rio.  Sancionada nesta quinta-feira (13) pelo governador Cláudio Castro e publicada no Diário Oficial, a lei 9.588/21 dá ao mestre-sala e à porta-bandeira maior visibilidade nas comemorações do Carnaval e prevê mais iniciativas do poder público para preservar, valorizar e divulgar o casal. O texto que antecedeu a lei é de autoria do deputado Rodrigo Amorim (PSL).
A presença do mestre-sala e da porta-bandeira nos desfiles começou ainda no início do século XX. Hoje, o casal é uma das categorias avaliada pelos jurados depois das apresentações, que inclui a beleza das fantasias, a dança, o cortejo, os giros e a técnica. 
Selminha Sorriso, porta-bandeira há 30 anos e há 25 pela Beija-Flor, comemorou a aprovação. Para ela, que desde menina sonhava em participar dos grandes desfiles do carnaval carioca, a valorização do casal é um reconhecimento merecido. "A porta-bandeira e o mestre-sala representam o mais importante das escolas de samba, a bandeira", enfatizou. "Nossa função, através da dança, é representar uma história de ancestralidade, de luta, de resistência do povo preto. Essa lei valoriza isso, um casal que, unido pelo amor e luta, representa uma cultura". 
A porta-bandeira, feliz com a notícia, relembrou sua trajetória dentro do carnaval e de como é grata aos anos dedicados às escolas na qual passou, em especial, à Beija-Flor. "Estou feliz, muito grata. Era um sonho meu que essa valorização acontecesse. É um merecimento que chega para uma arte que educa, socializa, realiza sonhos, e que é feita por gente que trabalha, que corre atrás".
Há 10 anos como porta-bandeira, Dandara Ventapane, que hoje representa a Tuiuti, também recebeu a notícia com alegria. "Somos uma arte, uma classe e uma dança do povo. Nosso bailado fala sobre respeito, tradição e amor", comentou. "É a representatividade de uma cultura preta e periférica que conquista um espaço merecido dentre os patrimônios imateriais da cultura do Rio de Janeiro".
No entanto, para Dandara, a conquista e a luta são contínuas. "A história do Carnaval e do bailado dos casais de mestre sala e porta bandeira como uma das grandes representatividades do carnaval já poderia ter sido reconhecida. Mas o samba, ainda muito marginalizado, sempre percorreu seu lugar de respeito e amor por suas comunidades. Ainda estamos na luta e este é um momento importante para o nosso carnaval, de reafirma-lo frente sua importância nas atividades culturais da cidade".
Para o futuro, Dandara espera que a lei tenha impacto direto nos projetos sociais que formam os casais. "Os projetos lutam muito por esta tradição e não conseguem apoio para dar continuidade aos trabalhos da melhor forma possível. Eu, Selminha Sorriso e Milton Cunha, estamos criando nossa primeira associação brasileira de mestre-sala, porta bandeira e porta estandarte neste ano. Acredito que é um passo para legitimar não só a nossa dança, mas  também a nossa fala".
Segundo o governador Cláudio Castro, "os mestres-salas e as porta-bandeiras são mais do que os guardiões da folia". Para ele, a medida é uma forma de manter vivo o espírito do carnaval. "A lei reconhece a importância das figuras dos casais não só para as agremiações, como para a nossa cultura", explicou. 
* Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes