Chuva forte na cidade de Petrópolis, Região Serrana do Rio, deixa dezenas de pessoas mortas e centenas desabrigadasAFP
"A situação é desoladora, estamos de luto pela cidade. Moro no bairro Samambaia, e da minha casa até o Nogueira, vi sujeira, lixo, carros virados, caminhões quebrados, poste caído, lama para tudo que é lado. A região mais problemática foi o Alto da Serra. A Rua Teresa, o conhecido polo de roupas, acabou. Por sorte aqui no meu bairro não tivemos grandes problemas", descreveu a professora Luiza Tavares.
Até às 16h30, o Corpo de Bombeiros já havia retirado 67 corpos dos escombros e o número de desaparecidos ainda é incontável. Das vítimas fatais, 37 eram mulheres, 22 homens e oito eram crianças. Os bairros mais atingidos pelo temporal foram Centro, Quitandinha e Alto da Serra, segundo a Defesa Civil de Petrópolis.
"A situação está calamitosa. É muito difícil passarmos por isso novamente, depois de 11 anos. A cidade chora seus mortos e lamenta demais o que aconteceu. São muitos jovens desaparecidos, vidas que podem ter sido interrompidos por essa fatalidade. Estava no hospital acompanhando meu pai e da janela pude ver uma barreira cair e atingir o veículo de um médico que estava no estacionamento", lamentou o jornalista Michel Grillo, que relembrou a forte tempestade que atingiu os municípios de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, em janeiro de 2011, e deixou mais de 900 mortos.
As chuvas deixaram diversas pessoas sem energia, água e sinal de celular. Moradores contaram ainda que o serviço de transportes públicos também foi afetado.
"Fiquei preso aqui no hospital e ainda estou sem poder tomar banho, porque o hospital está sem água, ou me locomover, vou dormir aqui mais um dia porque não há meio de transporte para os bairros. O sinal de internet está péssimo por conta da tempestade e tem bairros totalmente sem energia. É muito triste a situação, mas agradeço por estar vivo", desabafou Grillo.
A psicóloga Anna Nascimento descreveu a imagem que viu da cidade, nesta quarta-feira, como um cenário de guerra, onde podia ser visto corpos na rua.
"É assustador, a cidade está bem abalada, um sentimento de total tristeza. Parece um cenário pós-guerra. Muitas pessoas ficaram em estado de choque porque tinham corpos na rua depois que a água abaixou. Tem muitas pessoas ainda desaparecidas. Está todo mundo muito aflito, é lama pura, comerciantes perderam seus estoques, entrou água em várias casas e lojas, as pessoas perderam muita coisa. É realmente uma situação desesperadora", narrou.
Mas no meio de tanta tragédia, também há solidariedade. "Está tendo uma mobilização geral para ajudar, muitos pontos de doação e arrecadação, ajudas financeiras, acolhimento psicológico", falou a psicóloga.
A meteorologia prevê mais chuvas para esta quarta-feira, e essa previsão está assustando os moradores da cidade. "As pessoas estão correndo contra o tempo para conseguirem doações, abrigo, e também para dar continuidade aos resgates", finalizou Ana.
A tempestade preocupou também pessoas que são oriundas de Petrópolis, mas não moram mais na Cidade Imperial. Vivendo em Niterói, a estudante de arquitetura Vitória Jahara, de 23 anos, acompanhou, a distância, com muito apreensão as notícias que surgiam sobre as fortes chuvas.
"Eu não moro mais lá, mas minha família e meus amigos moram, fiquei super preocupada ao saber do que estava acontecendo. Estou acompanhando as informações sobre desaparecidos pelas redes sociais, são parentes de pessoas conhecidas minhas. Tem a mãe de uma menina que estudou comigo que está sumida desde às 18h de ontem (terça-feira), ela estava no shopping e até agora ninguém consegue contato com ela; tem também o primo de uma grande amiga que também está desaparecido. A casa dele caiu e não sabem se ele escapou ou não. A situação está realmente difícil de acompanhar, estão todos desesperados", disse Vitória.
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