Posto de testagem no Centro Municipal de Saúde Heitor Beltrão, na Tijuca, teve movimentação tranquila nesta terça-feira (25)MARCOS PORTO/AGÊNCIA O DIA
Em menos de um mês, Rio alcança metade dos casos de covid de todo o ano passado
Somente em 2022, capital fluminense registrou 144 mil novos casos de covid, mas apenas 81 óbitos. Segundo especialistas, além da explosão da Ômicron, aumento da oferta de testes pode ter contribuído
Rio - A cidade do Rio precisou de 25 dias para alcançar mais da metade dos casos de covid-19 de todo o ano passado. Só no mês de janeiro, que ainda não acabou, foram 144.180 registros da doença na capital fluminense. Como comparação, em 2021 foram 286.894. Especialistas afirmam que a explosão de notificações pode ter relação com o aumento da oferta de testes, mas a alta se deve principalmente à circulação da variante Ômicron, que se disseminou mais rápido do que qualquer outra cepa já examinada.
"Certamente, a Ômicron é muito mais transmissível. Estamos testando mais, mas ainda temos pessoas que não conseguem acessar a testagem, como foi no período passado. É uma característica específica dessa mutação ser tão mais transmissível do que nunca foi observado antes, não só nesta pandemia, mas em relação a outros vírus que a humanidade já conhecia", explica Chrystina Barros, pesquisadora em Saúde e membro do Comitê de Combate ao Coronavírus da UFRJ.
A Prefeitura do Rio diz ter ampliado sua capacidade de testagem em 48 vezes deste o início do ano. Dados da Secretaria Municipal de Saúde estimam que mais de 1 milhão de testes já foram realizados. A taxa de positividade dos testes, que já esteve em 50% na segunda semana de janeiro, caiu para 39%. Significa que, em média, a cada 100 pessoas que realizam a testagem, 39 estão positivas para covid.
Cláudia Araújo, coordenadora do Centro de Estudos em Gestão de Saúde do Coppead/UFRJ, lembra que a taxa da população que teve covid-19 pode ser ainda maior, já que os sintomas da Ômicron se assemelham às sintomas gripais, e muitas pessoas não fazem o teste porque estão assintomáticas.
"O número de casos dobra a cada dois ou três dias. Exatamente pelo alto poder de transmissão da Ômicron, não estamos dando conta de testar todas as pessoas que apresentam algum sintoma", afirma a especialista. "Além disso, como os sintomas são em geral leves, muitas pessoas optam por não fazer o teste. Com isso, mesmo com os dados alarmantes, podemos afirmar que ainda há muitos outros casos que não foram computados", completa.
Nesta terça, a reportagem do DIA esteve no Centro Municipal de Saúde Heitor Beltrão, na Tijuca. O posto de testagem tinha movimentação tranquila.
Taxa de letalidade despenca, mas especialistas alertam para número de internados
A linha do tempo das notificações mostra o aumento da transmissibilidade de acordo com a chegada das variantes. De março de 2020, quando a pandemia começou, até dezembro, a cidade do Rio registrou 217 mil casos; em 2021, foram 286 mil; e só no primeiro mês de 2022, 144 mil.
Mas os números também dão boas notícias, e a principal delas é a quantidade de casos graves e de óbitos, que não acompanham na mesma proporção o crescimento dos casos leves. A taxa de letalidade, por exemplo, mede a proporção de mortes em relação às pessoas que tiveram a doença. Esse indicador despencou conforme a vacinação avançou: em 2020 estava em 8,7%; em 2021, 5,6%; em 2022, 0,1%.
Cláudia Araújo alerta, no entanto, sobre o aumento das internações. Atualmente, a cidade do Rio tem 841 pacientes na rede pública municipal, com outros 59 aguardando vaga. A taxa de ocupação de leitos está em 64%. "Como há um número enorme de infectados pela Ômicron, uma verdadeira 'tsunami' de casos, o percentual pequeno de pacientes que apresentam sintomas graves da doença representa um grande número de pessoas, pressionando o sistema de saúde, não somente aqui no Brasil, mas também em outros países, como os Estados Unidos", compara.
Para Chrystina Barros, além de reforçar a vacinação, inclusive a infantil, o momento é de pensar em restringir aglomerações, principalmente em espaços fechados e no transporte público. Na última reunião do Comitê Científico, segunda-feira (24), os especialistas ouvidos pela prefeitura concordaram com o adiamento dos desfiles das escolas de samba para abril, mas não orientaram sobre qualquer tipo de restrição a outros eventos.
"Não temos a mesma proporção de casos de óbitos e de casos graves. Mas na medida em que a doença expande para um volume muito grande, nós podemos ter, sim, sobrecarga do sistema. As medidas restritivas são bem-vindas, mas não de maneira isolada. É preciso avançar com a vacina, é preciso que as pessoas usem máscara - de preferência N95 -, mas também é importante que haja uma revisão da capacidade de lotação de espaços fechados, e que o transporte público seja revisto. É uma série de fatores. Não há solução única", avalia a especialista.
Vacinação para crianças de 10 anos começa nesta quarta
O último dia da vacinação exclusiva para crianças de 11 anos teve movimentação tranquila nos postos de saúde. A partir dessa quarta-feira (26), crianças de 10 anos serão vacinados; na quinta (27), crianças de 9 anos ou mais; na sexta (28) e no sábado (29), crianças de 8 anos ou mais. A partir da próxima semana (31), o calendário segue com três dias para cada idade (7, 6 e 5 anos).
Fátima Eliana Lopes, 61, levou a sobrinha Ana Luiza Lopes, de 11 anos, para tomar a vacina no posto montado no Palácio do Catete, Zona Sul do Rio. A menina tomou a Coronavac, recentemente aprovada pela Anvisa para o público infantil - antes, apenas a Pfizer estava disponível. "Levei minha sobrinha porque sou adepta à vacina, e aproveitei o passeio para tomar a minha dose de reforço. Foi ótimo", comemorou Fátima.
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