Rio - Considerado o maior clonador de veículos do estado do Rio, Thiago Fernandes Virtuoso, o Tio Comel, 35, estava com a filha no quarto quando foi preso na manhã desta sexta-feira em casa no morro do Turano, na Tijuca, Zona Norte do Rio. A policiais, o criminoso admitiu que pensou em fugir, mas desistiu ao perceber que um helicóptero sobrevoava sua laje. O criminoso chorou ao ser detido na véspera de seu aniversário. No momento da operação, também estavam na casa, a filha, o cunhado e a esposa do criminoso.
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A prisão ocorreu após dois anos de investigação. Segundo os policiais, o Comel tinha como característica não sair da favela. O secretário da Polícia Civil, Allan Turnowski, ressaltou que a aquisição do equipamento Flir, uma câmera utilizada em helicópteros, que custou R$ 5,5 milhões, foi decisiva para o sucesso da operação, sem disparo de tiros. O criminoso tinha um fuzil em casa, que foi apreendido, assim como dois rádios, cadernos de anotações e pinos de cocaína.
Operação no Morro do Turano prende Tio Comel, maior clonador de carros do Rio. #ODia
Uma aeronave da Polícia Civil com o Flir, chamado de "Olhos de Águia", mapeou o terreno três semanas atrás. "Através de inteligência, localizamos a casa dele, mas não tínhamos certeza. Utilizamos o Flir para mapear o terreno, levantar possíveis rotas de fuga e planejar a ação, que foi cirúrgica, com 50 homens", contou Márcio Braga, titular da DRFA.
"A gente tinha estudado a casa, tínhamos a localização exata. Por isso, a gente chegou muito rápido e não foi possível qualquer tipo de reação ou fuga. Quando nós entramos na casa, ele não estava na sala e foi encontrado dentro do quarto com a filha dele", afirmou Braga. Jefferson Nascimento, que também é delegado da DRFA acrescentou que ele chegou a chorar no momento da detenção.
As imagens captadas pela câmera aclopada ao helicóptero são transmitidas para o carro, ou outra base, para análise em tempo real pelos policiais, que precisam receber um treinamento para usar o Flir. "Facilita muito a ação no terreno", afirmou o subsecretário da Polícia Civil Ronaldo Oliveira. A câmera também foi utilizada na ocupação do Jacarezinho no último dia 19.
Turnowski destacou que a Polícia Civil precisa de equipamentos de inteligência para evitar confrontos. O secretário afirmou que o número de helicópteros da Polícia Civil vai mais do que dobrar até o ano que vem.
"A Polícia Civil vai ter uma força aérea. Hoje, temos dois helicópteros. Até o fim do ano, teremos quatro, e no ano que vem, serão cinco. Vamos prender traficante, miliciano e ladrões sem disparar tiro", afirmou o secretário, que defendeu a manutenção da divisão das secretarias de Polícia Civil e Militar, em detrimento de uma secretaria de Segurança que abranja as duas forças. "Eu preciso de um investimento específico, de uma perícia forte, de equipamentos de inteligência, e não de viaturas ostensivas", exemplificou.
O diretor das unidades especializadas da Polícia Civil, Felipe Curi, destacou que a prisão representa um golpe na facção criminosa Comando Vermelho. Tio Comel era considerado o melhor clonador de veículos e recebia encomendas de outros estados e até internacionais. Ele foi apontado como responsável por encomendar o roubo de uma Hilux, que resultou na morte do médico Cláudio Marsili, de 64 anos, em outubro do ano passado, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.
"Os números de roubos de carro no Rio devem cair ainda mais depois da prisão desse criminoso. Era uma peça importante dessa cadeia criminosa", afirmou.
O delegado Jefferson Nascimento, da DRFA, acrescentou que veículos clonados pelo grupo também eram vendidos em sites de vendas.
Os investigadores afirmaram que ladrões de carro, sabendo das marcas preferidas de Comel já ofereciam os veículos a ele. "O nível de sofisticação e qualidade do serviço era tão alto que quando roubavam o carro, ofereciam o veículo a ele. Gerava lucro alto para facção", ressaltou Curi.
O governador do Rio, Cláudio Castro, se pronunciou por meio de sua conta no Twitter sobre a prisão do traficante. "A Polícia Civil, com a utilização do recém-comprado equipamento Flir e sem disparar tiros, acaba de prender Thiago Fernandes Virtuoso (Comel), no Turano. O maior clonador de carros do RJ é também responsável pela encomenda de veículos importados e pela morte do médico Cláudio Marsili".
Segundo a Civil, a câmera termográfica tem alcance de cinco mil metros e é capaz de identificar criminosos escondidos, à noite ou no escuro, pelo calor do corpo e dos armamentos em utilização.
Comel já é um velho conhecido da Polícia Civil e já estava sendo monitorado pela Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA). Considerado como um dos principais alvos da especializada, Comel consegue clonar um carro em quatro horas.
"Ele entrou no foco do nosso trabalho por ser um dos maiores clonadores de carros. Ele faz adulterações de números de chassi, vidros, motor, de uma forma tão perfeita, que fica até difícil, para quem não conhece, de identificar que o veículo é clonado. Também consegue outra placa de um veículo do mesmo modelo. Ele se especializou nesse crime e encomenda os roubos. Dependendo do veículo, consegue fazer todas as adulterações em quatro horas", explicou o delegado Márcio da Cunha Braga, titular da DRFA.
Segundo Braga, o clonador de veículos lidera uma quadrilha de assaltantes de carros de luxo avaliados em mais de R$ 100 mil. O preço do Toyota Hilux do médico pode variar entre R$ 140 mil e R$ 250 mil.
"A quadrilha é organizada e tem uma divisão de tarefas de quem sai para roubar, e ele é o clonador. Eles só trabalham com veículos acima de R$ 100 mil porque o retorno financeiro vai ser maior", disse o delegado.
Mas a encomenda por parte de Comel é pautada pela demanda dos receptadores, que, por vezes, estão até fora do Estado do Rio, de acordo com a DRFA.
"O foco principal do Comel é, após as adulterações, vender esses carros clonados para fora do Estado. Esses veículos são encomendados já por compradores e existe uma investigação em cima desses receptadores. Quem encomenda o crime e compra esses carros é tão ou mais criminoso do que o cara que sai para assaltar", afirmou Braga.
Criminoso se escondia no Morro do Turano
A polícia já sabia que Comel se escondia no Morro do Turano, na Tijuca. O carro de Marsili foi encontrado nos arredores da comunidade e o veículo Renault Sandero usado pelos assaltantes foi apreendido no Turano.
Cláudio Marsili chegava para mais um dia de trabalho em uma clínica, na qual era sócio, no Jardim Oceânico e tinha acabado de estacionar o carro, quando foi baleado. De acordo com a Polícia Militar, equipes do 31º BPM (Barra da Tijuca/Recreio dos Bandeirantes) foram acionadas para um ocorrência com vítima de tiros na região da Barra. No local, já encontraram o homem sem vida.
Testemunhas relataram à polícia que a vítima estava em seu carro particular, um Toyota Hilux, e foi abordada por pelo menos três bandidos que estavam em Sandero preto. Assim que saiu do carro, ele foi baleado na cabeça. Os bandidos fugiram levando o carro do médico. Os dois homens acusados de praticar o latrocínio foram presos: Tiago Barbosa dos Santos e Marcus Vinicius da Silva Pereira.
O clonador de carros já possui 48 anotações criminais e foi preso quatro vezes.
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