Precursor no Rio, Afoxé Filhos de Gandhi abre quadra, faz cortejo e dá Presente a Iemanjá neste Dois de Fevereiro
Presente de Iemanjá da Barra também se prepara para a celebração nesta quarta-feira (2). Organizador do evento 10º Xirê Yemoja, o ogã Israel Evangelista, intitulado Israel Ofarerê mensageiro de Oxóssi, defende que a data seja reconhecida como feriado na cidade
Afoxé Filhos de Gandhi em celebração de 70 anos, em 12 de agosto de 2021 - Divulgação
Afoxé Filhos de Gandhi em celebração de 70 anos, em 12 de agosto de 2021Divulgação
Rio - O afoxé mais antigo do Rio de Janeiro, o Filhos de Gandhi prepara seu tradicional Presente para Iemanjá nesta quarta-feira. A instituição de 71 anos foi a primeiro a enviar a charanga com oferendas à Rainha das Águas na data de 2 de fevereiro na cidade do Rio. Depois de um ano com uma das mais importantes celebrações para o bloco reduzida por conta das restrições sanitárias impostas pela pandemia de covid-19, o grupo reunirá catorze casas de religiões de matriz africana de todo o estado para presentear Iemanjá neste ano.
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Para saudar a Rainha do Mar e pedir um ano de paz e harmonia, os Filhos de Gandhi abrem sua quadra às 6h, quando será preparado o balaio de presentes até as 6h30. Na sequência, será cantado o xirê, cantigas para todos os orixás. Às 8h será iniciado o café da manhã para que o cortejo saia às 9h, passando pelo Cais do Valongo rumo à Praça Mauá, de onde os charangueiros estregarão o presente à Iemanjá. A quadra do Filhos de Ganhi fica na Praça dos Estivadores, Rua Camerino, número 7-9, no Centro do Rio.
"Que os orixás venham nos afastar da pandemia e das doenças e que nos deem o conforto na alma, que nos tragam paz no espírito", intenciona o presidente da instituição Célio Oliveira, que também é contador e ogã. "Ano passado o Dois de Fevereiro foi só interno por conta da pandemia. Esse ano, vai ser mais amplo. Vamos abrir a quadra, vamos pedir carteira de vacinação e máscara. O Presente de Iemanjá é aguardado o ano inteiro por todo. É muito almejado", conta Célio.
O presidente do grupo estima que a celebração não deve reunir muita gente por acontecer em horário comercial. "Como não é feriado no Rio, acredito que o número de pessoas vai ser reduzido, não acredito que passe de cem. Serão alguns pais de santo convidados, ogãs de algumas casas, mães de santos, ialorixás e babalorixás", explica. O Afoxé recebe frequentadores de Umbanda, Candomblé e de todas as religiões de matriz africana.
"Há mais de quarenta anos o Filhos de Gandhi faz o presente de Iemanjá, foi o primeiro no Rio. Outros grupos também fazem, alguns no final do ano, outros no Encontro das Águas, em março", ressalta Célio.
Coordenadora cultural do Afoxé Filhos de Gandhi, Stela Faria, 60, está feliz em poder participar do cortejo pela primeira vez. "Iemanjá é considerada a mães da cabeça. A gente está precisando de muito discernimento, muita calma. Na hora que a pessoa entrega uma flor, acaba se fortalecendo. Eu sou espírita umbandista. Pra mim é um prazer participar neste momento, com tanta gente precisando de fortalecimento emocional", afirmou.
O Presente de Iemanjá da Barra também se prepara para a celebração nesta quarta-feira (2). Organizador do 10º Xirê Yemoja, o ogã Israel Evangelista, intitulado Israel Ofarerê mensageiro de Oxóssi, defende que a data seja reconhecida como feriado na cidade. "Na Bahia, é feriado. Estamos nessa luta há dez anos para fazer a sociedade reconhecer o valor político, econômico turístico e cultural desse evento", reivindica.
Israel explica que o cortejo da Barra, que foi mantido no ano passado por compromisso religioso, mas sem divulgação, surgiu como um ato contra a intolerância religiosa. Em 2012, uma imagem de sereia foi vandalizada três dias depois do cortejo pelo centenário da ialorixá Regina de Bombochê, falecida aos 99. "Dali em diante, assumimos um compromisso de fazer um ato e colocamos aquela sereia consagrada", conta referindo-se a uma escultura em concreto de 750 kg fixada no Quebra-mar da Barra.
Nesta quarta-feira, 2 de fevereiro o Presente de Iemanjá da Barra receberá uma celebração maior, que inclui uma feira de cultura afroindígena, a partir de 10h, o Xirê para Yemoja às 14h e o cortejo às 16h do Quebra-mar até a Praia dos Amores. No final, será oferecida uma mariscada pela comunidade de pescadores da Barra.
Grandes cortejos cancelados
Dois grandes cortejos que saem na cidade do Rio no dia 2 de fevereiro optaram por cancelar a saída por conta da pandemia de covid-19 e do grande número de frequentadores. Organizador da Festa de Iemanjá do Arpoador, William Vorhees anunciou em sua rede social na segunda-feira o cancelamento da celebração que reúne milhares de pessoas. "Ano que vem, 2023, faremos a melhor festa de todos os anos. Agora, precisamos nos resguardar e respeitar a si e ao próximo. Até 2023! Salve Iemanjá!", escreveu.
O tradicional Presente de Iemanjá de Sepetiba, na Zona Oeste do Rio, que na última edição antes da pandemia reuniu 3.500 pessoas também será restrito à comunidade neste ano. O público poderá acompanhar o festejo que acontece sempre no segundo domingo de fevereiro no dia 13 deste mês por meio de uma transmissão no Facebook às 9h.
"Mais uma vez pensando na saúde do nosso povo de axé e simpatizantes, nosso evento será apenas via Internet. O Coletivo do Presente à Yemanja em Sepetiba irá fazer uma linda live com cânticos, danças e toques, apresentações culturais e entrega do Presente sustentável ao mar, representando todos os presentes de toda nossa comunidade religiosa", anunciou a organização do evento.
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