Marcus Vinicius Silva, conhecido como Lambari Divulgação

Rio - Apontado pela Polícia Civil como integrante do alto escalão do Comando Vermelho (CV) no Estado do Rio desde os anos 1990, Marcus Vinicius da Silva, o Lambari, se mudou para Natal, no Rio Grande do Norte, e, desde 2019, passou a viver como empresário do ramo de paisagismo e floricultura. Entretanto, a aparente vida tranquila não teria o afastado totalmente de suas atividades criminosas, de acordo com a corporação.

Investigações da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (Dcoc-LD) revelaram que, mesmo à distância, Lambari comanda um esquema de lavagem de dinheiro do CV, que movimentou quase R$ 40 milhões entre agosto de 2019 e outubro de 2021. Os agentes descobriram que ele selecionou comerciantes do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, para efetuar diversos depósitos bancários com o objetivo de tornar lícitos capitais oriundos do tráfico de drogas no Estado do Rio, através da tipologia conhecida como 'mescla'.

De acordo com as informações da Operação Big Fish, realizada nesta sexta-feira, a comunidade carioca seria um dos redutos do suspeito que, desde a década de 90, figura em diversas investigações policiais acerca da distribuição de drogas nos complexos de favelas do Jacarezinho, Manguinhos, Penha e Alemão.

Seria também através desses comerciantes que Lambari se mantém em Natal. Segundo a especializada, o apartamento em que mora e o carro, avaliado em R$ 60 mil, usado por ele estão em nome de moradores do Jacarezinho, que assinaram procurações num cartório da Zona Norte para que Lambari usufruísse dos bens.

O imóvel, de acordo com a polícia, está avaliado em R$ 400 mil e fica localizado em Ponta Negra, um dos bairros mais procurados por turistas em Natal.

Além dos bens que são de propriedade dos comerciantes da favela do Rio, Lambari também estaria adquirindo imóveis com o dinheiro do tráfico, de acordo com o delegado Leonardo Borges, titular da Dcoc-LD.

"Ele morava num flat mediano e tinha uma floricultura em Parnamirim. Só que isso era uma vida de fachada, porque, na verdade, ele tem um sítio enorme que era oculto, não está no nome dele, ele não declara. Com o dinheiro proveniente do tráfico de drogas ele está fazendo a aquisição de imóveis. Também identificamos um terreno em um condomínio de luxo", explicou Borges.

Histórico no crime

A Polícia Civil afirma que Lambari é uma das mais antigas lideranças do Comando Vermelho ainda em atuação. Ele se tornou conhecido das corporações ainda nos anos 90, quando começou a figurar em diversos inquéritos que investigavam a distribuição de drogas em varejo em diversas favelas da Zona Norte do Rio.

Desde então, ele teria colecionado histórias nas páginas policiais.

Em 1996, o suspeito fugiu da carceragem da Delegacia de Capturas do Estado do Rio de Janeiro, com emprego de violência e uso de arma de fogo, junto a outros dois líderes da facção: Márcio Amaro de Oliveira, Marcinho VP do Morro Dona Marta, e José Rogério Soares, que comandava parte do tráfico no Jacarezinho.

Em novembro de 2010, Lambari foi preso junto com um traficante conhecido como Emerson, o Nego, e Sandra Helena Ferreira Gabriel, conhecida como Sandra Sapatão.

Desta fuga de 96 até 2015, Lambari acumulou indiciamentos e sentenças condenatórias que levarem ele a ficar preso em penitenciárias estaduais e federais.
Defesa de Lambari nega acusações 
Em nota, os advogados Norley Lauand e Charles Santolia afirmam que Lambari é inocente.

"O Sr. Marcus Vinícius não reside mais no Estado do Rio de Janeiro justamente para não ter seu bom nome vinculado a qualquer grupo armado, eis que hoje encontra-se totalmente recuperado, inclusive trabalhando no setor de paisagismo. Outrossim, o noticiado, em que pese pender para apontar o Sr. Marcus Vinícius tenha alguma participação no tráfico de drogas, isso não é verdade, até mesmo porque, se envolvimento tivesse, certamente a Delegacia que investiga o fato e Ministério Público requereriam a prisão de Marcus Vinícius, o que não acontece", declarou a defesa.
A Polícia Civil informou que solicitou mandado de prisão temporária contra Lambari à justiça, mas o pedido foi indeferido.