Manifestantes farão novo ato em memória de Moïse nesta terça
Refugiado congolês foi espancado até a morte no último dia 24 de janeiro, no quiosque onde trabalhava, na Barra da Tijuca
Aos gritos de "justiça", população cobrou rigor nas investigações do assassinato, durante manifestação do último sábado - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
Aos gritos de "justiça", população cobrou rigor nas investigações do assassinato, durante manifestação do último sábadoReginaldo Pimenta / Agência O Dia
Rio - Um novo ato em memória de Moïse Kabamgabe será realizado nesta terça-feira, na Cidade Nova. Órgãos como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Agência das Favelas e a Frente Nacional Antirracista irão apoiar a manifestação. O refugiado congolês foi espancado até a morte no último dia 24 de janeiro, no quiosque onde trabalhava, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ele foi ao local cobrar diárias atrasadas e cerca de três homens o imobilizaram e o agrediram.
Nesta segunda, a família do jovem participou de uma reunião na Prefeitura do Rio e recebeu a concessão para administrar os dois quiosques até 2030.Um projeto vai transformar os locais Tropicália e Biruta em um memorial em homenagem à cultura congolesa e africana.
"Desde o início entendíamos que a gente deveria lembrar permanentemente as pessoas do absurdo crime cometido contra uma pessoa, no caso o Moïse. Entendemos que isso poderia se juntar à presença da própria família do Moïse ali. É uma oferta feita pela prefeitura, mas também da Orla Rio", afirmou Eduardo Paes, que esteve presente no evento.
Também nesta segunda, familiares de Moïse foram recebidos no Palácio Guanabara para uma reunião com o secretário de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Matheus Quintal, que lamentou o ocorrido e ofereceu um programa de proteção à família do rapaz.
"Essa situação nos deixa muito tristes, o Rio de Janeiro tem o Cristo Redentor de braços abertos para que todos sejam bem recebidos aqui. Nossa pasta trabalha em nome da vida, oferecemos para que os familiares façam parte do programa Provita, que visa proteger vítimas ou testemunhas que possam sofrer ameaças", disse Quintal.
A Polícia Militar abriu uma investigação para apurar denúncias de intimidações feitas por PMs contra parentes do congolês Moïse Kabagambe, morto espancado em um quiosque na praia da Barra da Tijuca. A apuração foi aberta no fim da semana passada na 2ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (PJM).
A investigação da PM solicitou à Delegacia de Homicídios da Capital uma cópia das imagens das câmeras de segurança do quiosque Biruta, vizinho ao Tropicália, local do crime. Os investigadores também pediram cópias de depoimentos de três PMs: do cabo Alauir de Mattos Faria, apontado como dono do quiosque Biruta, e dos policiais que registraram a ocorrência do linchamento, cabo Leandro Rigaud e soldado Cleiton Lamonica Senra. Posteriormente, os três foram chamados para depor.
Segundo a concessionária Orla Rio, que administra os quiosques, Alauir ocupava o lugar irregularmente. A defesa do militar alega que a dona do estabelecimento seria sua irmã e que ele apenas a ajudaria no local.
As denúncias dão conta de que os PMs Rigaud e Senra pediram os documentos de familiares de Moïse, quando estes foram ao quiosque Biruta em busca de informações. Os policiais teriam dito que o dono do quiosque não devia satisfações, pois o caso é investigado pela polícia. Os agentes ainda pediram para que os parentes fossem embora.
Os mesmos PMs teriam novamente pedido a documentação dos familiares durante um protesto pela morte de Moïse. A atitude de guardas municipais também está sob suspeita. Uma testemunha que presenciou o espancamento afirmou que tentou pedir ajuda a guardas municipais, mas que os agentes teriam se negado a ajudar. Os três agressores que espancaram Moïse estão presos e respondem por homicídio duplamente qualificado em um processo que corre em sigilo.
Na noite de domingo (06), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes relacionou a morte de Moïse Kabagambe à milícia e cobrou avanço por parte do Ministério Público do Rio (MPRJ) e do Ministério Público Federal nas investigações no Rio.
"A ocupação irregular de áreas estratégicas por grupos de milícias está por trás da crise da segurança pública. O MPRJ e o MPF precisam avançar nessa área. O caso Moïse traça suas raízes no poder do Estado paralelo e na invisibilidade do controle armado", publicou o ministro.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.