Viúva e a filha do casal já não estão morando mais no condomínio onde o crime ocorreuFabio Costa/Agência O Dia

 Rio - A viúva de Durval Teófilo e a filha do casal, de apenas 6 anos, já não estão morando mais no condomínio onde o repositor de supermercado foi assassinado com três tiros, no último dia 2, pelo sargento da Marinha, Aurélio Alves Bezerra, no Colubandê, em São Gonçalo. "Eu não me sinto segura lá", desabafou Luziane Teófilo, que voltou à Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) nesta quinta-feira (10), para prestar um novo depoimento.

"Eu estou indignada. Eu moro ali há 15 anos e a gente conhece todos os vizinhos, sei quem são ali dentro e ele (sargento), simplesmente nunca conheci", afirmou a viúva. A oitiva foi convocada após a mudança da tipificação do crime, que passou de homicídio culposo, quando não há intenção de matar, para doloso, quando há. Além de relembrar os acontecimentos, Luziane também denunciou possíveis ameaças que vem sofrendo desde o assassinato do marido, motivo pelo qual deixou a casa onde a família vivia.

"A Luziane está com medo da soltura do Aurélio, existe um receio, até porque, logo após o falecimento do esposo dela, ela recebeu algumas informações que a gente entendeu como ameaça. A gente não pode falar diretamente que é uma ameaça, mas o que ela ouviu, subentende-se que seria. Foram poucas, duas ou três, mas como ela era a mulher e por ter uma filha pequena em casa, para ela tomar cuidado e abafar o caso, porque isso poderia ser prejudicial para ela no futuro", disse o advogado da família, Luiz Carlos de Aguiar Medeiros.

De acordo com a defesa, uma outra suposta ameaça não queria a presença da polícia e da imprensa no local, para não "sujar" a imagem do condomínio. "Isso deixou ela um pouco receosa, com um pouco de medo, até porque foram três tiros sobre o marido dela, e ela está muito atordoada com todo o problema e preferiu não ficar ali. É um medo que se tem. Realmente, ela é mulher, é mãe, agora viúva e tem uma criança de 6 anos. Como ficar ali depois de ouvir algo como isso? Então, ela preferiu se ausentar do local", explicou o advogado.

Luziane chegou à especializada por volta das 11h e deixou o local quase duas horas depois. Ainda muito abalada com a morte de Durval, ela relatou que reforçou as informações que já havia passado no primeiro depoimento e pediu justiça pela filha e pela memória do marido.

"O que eu falei é o que eu venho sempre falando: eu vi tudo, acompanhei tudo, sem saber que era meu esposo que estava ali fora. Eu vim reforçar aquilo que eu venho dizendo há muito tempo porque, afinal de contas, eu sou a prova viva disso. Tudo o que eu mais quero nesse momento é justiça pela minha filha, pelo meu marido, porque ele não merecia morrer daquele jeito, só porque era um preto", declarou Luziane, que reforçou acreditar que o crime foi motivado por racismo.

"Esse depoimento de hoje foi muito importante para entender tudo. Eu estou muito chateada e tudo o que mais quero, tudo pelo que eu estou gritando aqui é justiça. Eu quero justiça, sim, porque eu pude entender que foi racismo, sim. Ele (sargento) não pode ficar impune. Ele não teve piedade do meu marido e, nesse momento, não aceito desculpa, não aceito perdão. Foi um crime bárbaro, ele foi um assassino frio. Eu só quero justiça."

O sargento da Marinha do Brasil pode passar por um júri popular. De acordo com o Tribunal de Justiça do Rio, a juíza Myryam Therezinha Simen Rangel Cury, da 5ª Vara Criminal de São Gonçalo, determinou que o militar seja julgado por um Tribunal de Júri. A magistrada declinou para a 4ª Vara Criminal da mesma Comarca, acolhendo ao parecer do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). 

"Foi uma injustiça o que ele fez com o meu esposo, porque era um rapaz que estava chegando do trabalho, cansado, porque ele trabalhou muito aquele dia, estava ansioso para chegar em casa e descansar e, de repente, tiraram o descanso dele. Foi racismo, sim, com certeza, porque meu esposo falou que era vizinho dele e ele não quis saber. Só porque era um preto que estava chegando do trabalho de chinelinho, bermuda e camisetinha, e não teve nenhuma chance de se proteger. Era só ele e Deus", ressaltou a viúva, que disse ainda não ter recebido nenhum apoio da Marinha.

"Nenhum momento ninguém ligou para mim, nem para dar os pêsames para a minha filha, porque ela é a que mais sofre dentro de casa, ainda aguarda o retorno do pai. Até hoje, ninguém chegou até mim e pediu desculpa, pediu perdão. Ninguém da Marinha se comunicou". Procurada, a Marinha ainda não se manifestou. 
Em nota, a defesa ainda informou que "foram citadas durante o depoimento informações sobre as câmeras de segurança internas do condomínio para serem revisadas pela perícia técnica e foi arrolado testemunhas para depor já pra amanhã ou no final de semana segundo a autoridade policial.