Carlos Joint, artista plásticoDivulgação

Rio - O Passeio Ernesto Nazareth, na região do Porto, tá uma inspiração só! Por seus bancos de concreto, a delicadeza de 20 poesias curtas têm chamado a atenção de quem passa, lê e reflete. Não são palavras ao vento, são textos selecionados através de um concurso e pintados em stencil pelo artista plástico Carlos Joint. A forma de exposição escolhida pelo projeto Distrito de Arte do Porto é uma homenagem ao Profeta Gentileza (1917-1996), que escrevia suas reflexões em pilares de viadutos e que hoje é reconhecido como um marco da arte urbana na cidade, gravando na memória do carioca sua famosa frase 'Gentileza gera gentileza'.  
"As poesias foram escolhidas através de uma Collab online, no nosso perfil do Instagram, que chamamos de 'Collab Expressões Urbanas', onde poesias virariam arte nos mobiliários de concreto. Cada um dos 20 escolhidos recebeu um prêmio de 500 reais", conta Juliane Trancoso, produtora executiva do projeto. Concorreram mais de 50 participantes, de oitos estados brasileiros.
A capixaba Carolina Sarmento foi uma das selecionadas. Médica intensivista e paliativista, sua poesia "Cuida que dura uma vida. Amar" reflete sua vida profissional e pessoal. "A palavra 'cuidado' traz muito significado para mim. Faz a diferença quando a gente, que é profissional de saúde, cuida bem de quem está sob nossa assistência, e é importante também a gente se auto cuidar. Isso de fato faz a gente viver mais e melhor. Já é uma frase que me acompanha. Eu fiquei feliz demais de ter sido escolhida. Foi emocionante, recebi a noticia perto do meu aniversário, foi um presente", diz Carolina.
"Eu moro em Vitória, ainda não vi pessoalmente, mas as pessoas me mandam fotos, o coração quase 'pocando' do lado de cá. Adoraria que esse recado de cuidado chegasse mais e mais longe", completa. 
"O maior público que temos hoje são as pessoas que trabalham na região. O que observamos é que ao passarem pelo calçadão, principalmente na hora do almoço, as pessoas ficam um tempo contemplando as poesias, pensando sobre o significado, sobre a vida. Nós não temos um tempo exato para elas ficarem expostas, mas a ideia é de pelo menos um ano, podendo ser renovada a cada ano", comenta Juliane Trancoso.

Caderninho

"Uma amiga viu a notícia do concurso e no Instagram e me enviou o post, dizendo que eu deveria me inscrever. A poesia escolhida foi retirada de uma reflexão que fiz em 2020: 'Fazer o que se gosta é presente. Que nos dá aquela sensação boa de criança quando recebe um mimo: o coração bate forte e quase pula fora do peito, na ânsia de rasgar o papel e desembrulhar logo o pacote. Só existe razão se houver sentimento'. O último trecho do meu pensamento viajou para as páginas do meu caderninho e foi o escolhido para a inscrição no concurso", revela a jornalista Ana Carla Gomes. 
"Realmente, acredito que a vida só tem razão de ser se houver sentimento envolvido. E a escrita tem feito isso comigo. Depois de mais 20 anos trabalhando no jornalismo esportivo, virei cronista em 2020. Passei a escrever em primeira pessoa e a mostrar o meu olhar sobre a vida",  explica Ana Carla, que trabalha no jornal O DIA.

Curiosidade

Carlos Joint, que usou a técnica de stencil para gravar as poesias, conta que, enquanto pintava as frases, as pessoas já paravam para ver o que estava surgindo ali. "Foi muito legal essa ação. Foi um desafio diagramar tudo para caber naqueles espaços, mas o resultado foi grande. Enquanto trabalhava, via as pessoas comentando 'já li, gostei dessa, daquela'. Mergulhei nas poesias", diz. 
O artista cita uma frase que provocou muitas reações nos passantes: "Quando cê me olha, cê me enxerga?", de Maria Beatriz Barmaimon. "As pessoas, de todas as condições sociais, se vêm na poesia", reflete Joint, que cita ainda "A arte grita quando há silêncio", de Carolina Freitas. "Essas poesias me afetaram de várias formas", conclui.
O Passeio Ernesto Nazareth entre a Rua Professor Pereira Reis e a Avenida Cidade de Lima, no bairro do Santo Cristo.