Manifestantes se concentraram na Praça Zé Garoto e caminharam até a prefeituraCleber Mendes/Agência O Dia

Rio - Foi com gritos de justiça que a viúva do repositor de supermercado Durval Teófilo, de 38 anos, Luziane Teófilo, atravessou a Rua Doutor Francisco Portela, no Centro de São Gonçalo, durante um ato realizado, na manhã deste sábado, para cobrar respostas pela morte de seu marido, após ele ser alvo de três tiros disparados por um vizinho, ao chegar do trabalho em seu condomínio, no bairro do Colubandê.


O crime aconteceu no final da noite do último dia 2 de fevereiro e o responsável pelos disparos, o sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, foi preso em flagrante. Cerca de 200 pessoas, entre familiares, amigos e autoridades políticas, acompanharam o ato por justiça. Os manifestantes se concentraram na Praça Zé Garoto, às 9h, e caminharam até a Prefeitura de São Gonçalo. O protesto durou cerca de três horas.

"Não vou sossegar até o Aurélio ser condenado. Eu não vou me calar. Eu vou mover montanhas. Meu marido não era nenhum bandido, ele estava voltando do trabalho quando foi alvejado por três tiros. Ele estava distraído e doido para chegar em casa, mas não deixaram por uma ignorância, por racismo", disse Luziane.

O sargento alegou que atirou contra Durval por acreditar que seria vítima de um assalto. Imagens de câmeras de segurança mostraram que a vítima chegava no condomínio onde morava e procurava a chave do portão em sua mochila. Luziane contou que após a morte do marido sua vida mudou completamente. Ela e sua filha saíram do condomínio que moravam e não conseguem mais comer e dormir direito.

"Eu quero que o senhor apodreça na cadeia igual você fez o meu esposo apodrecer no caixão. Eu tinha uma vida maravilhosa, e aquele infeliz tirou tudo isso. Não estou dormindo, comendo, não paro mais em casa, nem tenho mais cada, tudo ali meu esposo, e lembro que estive ali e não pude fazer nada", finalizou.

Integrantes de movimentos negros e autoridades políticas acompanharam o ato

Entre o grupo de manifestantes estavam integrantes de movimentos negros, políticos e representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Coordenadora do Movimento Negro Unificado, Fátima Andréia Monteiro, disse que busca por respostas e igualdade.

"Nós buscamos respostas do Estado do Rio, porque ele tem responsabilidade sobre essas vidas que tem sido perdidas, abatidas de forma covarde. É isso que nós buscamos, buscamos igualdade, direito de viver bem. O que nós vemos hoje no Estado do Rio de Janeiro é um massacre do povo negro dentro das comunidades ou em qualquer lugar que ele esteja. Se o negro se muda para fugir da violência, a violência, a bala e a morte encontram esse negro. Queremos exigir transparência, respeito e agilidade neste caso", falou Fátima.

O deputado federal Alessandro Molon e a deputada estadual Renata Souza se solidarizaram com a família de Durval e foram até São Gonçalo para se juntar aos manifestantes.

"A nossa presença aqui tem dois significados: primeiro, venho como cidadão que não suporta mais ver isso acontecer no Brasil, pessoas sendo mortas de forma bárbara e inaceitável. Isso tem que acabar; mas também estou aqui como parlamentar porque esse crime tem vários significados que precisam ser enfrentados. O Brasil continua sendo um país muito racista e vidas negras importam, essas vidas não podem ser dispensadas. As pessoas não podem continuar sendo vistas como suspeitas e sendo mortas só pelo tom da sua pele", declarou Molon.

Integrante da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), Renata Souza afirmou que a Alerj está acompanhando as investigações junto com a família e acredita que dar visibilidade o caso pode ajudar a justiça ser feita.

"O acompanhamento se da através do fortalecimento e acompanhamento da família do Durval. Eles já estão sendo atendidos por um advogado particular, mas a gente está trocando informações e vendo de que maneira a gente pode ajudar a auxiliar eles. A ALERJ tem como atribuição fiscalizar também as ações dos poderes do Estado e nossa ideia é ir acompanhando já aquilo que a família tem feito com seu advogado. Já conversamos com a viúva e estamos reivindicando uma investigação que leve a responsabilização do culpado. O apoio que damos também é através da viabilidade que damos ao caso."
Viúva de Marielle Franco, a vereadora do Rio Mônica Benício, também acompanhou o ato de justiça por Durval.