Sargento Clóvis Benedito de Souza (à direita), bombeiro de São Paulo, ao lado do colega, sargento Laércio Lelis de FreitasLuis Alvarenga
"As ações bem coordenadas dos bombeiros nos emocionam e evidenciam a importância do trabalho deles em todos os momentos, sobretudo em situações extremas, como a de Petrópolis", ressalta o governador Cláudio Castro, que se deslocou para o município imediatamente após a tragédia, ajudando a montar pessoalmente a rede emergencial para resgates e procura de vítimas.
No dia a dia, os esforços abnegados ajudam a superar a dor que a dura rotina naturalmente impõe aos profissionais e acabam sendo instrumentos para uma rica troca de experiências sobre o modo de atuação das múltiplas equipes, que chegaram a se espalhar por mais de 80 pontos críticos. A maioria dos combatentes em Petrópolis é especialista em lidar com flagelos de grande monta e já teve experiência em ocorrências nacionais e internacionais históricas, como nos casos de Mariana, Brumadinho, terremotos no Haiti, furacão Katrina, entre outras devastações.
Com seu inconfundível vocabulário 'mineirês', o coronel bombeiro Sérgio José Ferreira de 52 anos, do 1° Comando Operacional de Bombeiros de Belo Horizonte, comandou 14 homens, que usaram planilhas e cálculos capazes de reconstituir cenários anteriores aos deslizamentos no Morro da Oficina e projetar onde possivelmente teriam ido parar corpos sob toneladas de lama, entulho, pedras e vegetação, que se espalharam num raio de aproximadamente 400 metros quadrados.
- Com Bono e Cronos (pastores-belgas-malinois), que têm o poder olfativo 40 vezes maior que o do ser humano, conseguimos localizar vários corpos - comentou Ferreira, ressaltando que a inclinação dos morros no município, que chega a 45 graus no Oficina, tem sido uma dificuldade a mais para as equipes.
- Tudo superado pelo apoio emocionante dos moradores, que nos oferecem água, café, alimentos e rodas de orações a todo momento - testemunha.
O sargento bombeiro paulista Clóvis Benedito de Souza, de 45 anos, conta que até o comportamento dos cachorros de cada região é observado.
- Por que determinado cão de um estado fareja mais que de outro? Por que uns cansam mais e outros menos? Por que uns chegam a cavar com as patas e outros não? São tipos de questionamentos que nos ajudam a entender melhor os animais e a treiná-los melhor para a pronta-resposta que tanto precisamos no dia a dia - justifica Clóvis, ao lado de Hope e Cléo, também pastores-belgas-malinois.
Drone, outro forte aliado nas ações
Se os cálculos na ponta do lápis dos bombeiros de Minas despertam a atenção dos colegas de outros estados, assim como a atenção dos paulistas de como os cães procedem nas buscas por vítimas, o emprego de drones pelos profissionais fluminenses também está servindo de exemplo. Três equipamentos da Coordenadoria de Veículos Aéreos Não-Tripulados - COVANT se mostram essenciais para a localização de desaparecidos, monitoramentos de rios e sinalização de riscos geológicos.
- Esse tipo de tecnologia passou a ser indispensável. Auxilia equipes de campo em tempo real e vai aonde elas não conseguem chegar; evita a exposição desnecessária de colegas a riscos iminentes; e gera imagens de alta qualidade, de uma altura de até três quilômetros. Isso nos permite mapear áreas, avaliar estruturas geológicas e materiais e planejar mais assertivamente e de forma mais rápida a distribuição dos grupos de trabalho, possibilitando a chegada de socorro urgente a precisa - enumera o tenente-coronel Mário Henrique Lasneaux, de 41 anos, do Grupamento de Angra dos Reis, responsável pela coordenação do Posto Móvel do Morro da Oficina.
O major fluminense Armando Júnior, de 41 anos, exalta a integração dos bombeiros em Petrópolis, apoiada pelo Conselho Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil (Ligabom). A entidade ajuda no acionamento dos quartéis para socorros mútuos em calamidades.
- É a chance de colocarmos em prática uma rica troca de experiências, que só temos em seminários ou encontros virtuais. Esses novos conhecimentos compartilhados só somam em favor da corporação e, principalmente, para o cidadão - justifica Armando.
Amizade forjada em outras ocorrências graves
Treinados física e psicologicamente para trabalhar em condições adversas em grandes emergências, alguns profissionais que estão atuando em Petrópolis se emocionaram ao se reencontrarem depois de atuarem em outras tragédias como a de Brumadinho e Mariana, as maiores tragédias industriais do século, ambas em Minas Gerais. O cumprimento do coronel mineiro Sérgio José Ferreira e do tenente-coronel carioca Mário Henrique Lasneaux sela uma amizade conquistada no batente e carrega o sentimento das tropas.
- É uma satisfação reencontrar guerreiros que, se for preciso, dão a própria vida para salvar outras - resume Lasneaux.
O sargento Laércio Lelis de Freitas, de 40 anos, do Grupamento de Ipiranga-SP, também se emociona ao descrever o reencontro com colegas de outros estados em Petrópolis, como os de Mato Grosso do Sul.
- Reencontrei colegas de outros estados que também estiveram comigo em Brumadinho e mais recentemente após o temporal em Franco da Rocha (que matou mais de 30 pessoas em deslizamento). É um alento, uma alegria indescritível em meio a tanta dor que a gente vê, saber que o colega está bem - comenta, com a voz embargada.
Uniram-se aos bombeiros do Rio profissionais de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Tocantins, Sergipe, Paraíba, Goiás, Ceará, Maranhão, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Bahia, Paraná, Rio Grande do Norte, Piauí e Amapá, além de Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal.
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