Pai de Marcos, Marcelo Carrero, chora ao saber que filho receberia liberdade provisóriaCleber Mendes/Agência O Dia

Rio - Os advogados do jovem Marcos Tavares Carreiro, de 19 anos, preso acusado de roubar o celular de uma turista em Ipanema, Zona Sul Do Rio, nesta segunda-feira (28), conseguiram a liberdade condicional do rapaz em audiência de custódia. O instrutor de percussão que trabalha em uma ONG deve sair da Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, Zona Norte, ainda na tarde desta quarta-feira (2). 
"Conseguimos a liberdade provisória. Tanto Ministério Público quando o juiz viram que os autos estavam bem documentados com relação às questões pessoais deles completamente favoráveis. (...) Não temos provas de que isso aconteceu. Até porque não existiu materialidade alguma no auto de prisão. Isso foi até questionado na delegacia, porém ele teve seus direitos violados porque não deixaram ele explicar", contou o advogado de Marcos, William da Silva Lopez.
Segundo o jurista, a audiência de custódia teve resultado esperado dados os antecedentes de Marcos, que participava de dois projetos sociais, um como instrutor de percussão na ONG Liga do Bem, onde já está há mais de dez anos, e o outro como aluno de teatro na ONG Arte Transformadora. 
"Acredito muito que posteriormente vamos conseguir a absolvição dele. Como está muito cedo temos que trabalhar para que esse tipo de problema não aconteça. Esperamos que ele venha ser solto até o fim do dia. Graças a Deus o judiciário desse primeiro momento acertou", disse o advogado. 
Familiares do jovem faziam um ato em frente ao presídio de Benfica desde o início da manhã desta quarta-feira. Segundo os parentes e amigos do jovem, ele foi preso injustamente pelo roubo do celular de uma turista de São Luis do Maranhão. Marcos caminhava pelo calçadão, quando foi abordado por PMs, que haviam acabado de ouvir o relato das vítimas que indicavam o suposto assaltante com as seguintes características: negro e com o cabelo pintado de loiro.
Marcos é negro e tinha pintado o cabelo de loiro para o Carnaval. Os policias o prenderam, além de outro homem, e apreenderam um menor. Com eles, nenhum pertence da vítima foi localizado. Ainda assim, o trio foi conduzido para a 14ª DP (Ipanema) e, em seguida, levados para a cadeia em Benfica.
"Não é porque a pessoa é negra ou é da comunidade que é bandido. Não é porque pintou o cabelo de loiro e é negro que é bandido", comentou o advogado.
Segundo o pai de Marcos, as turistas devem ter se enganado e o delegado da distrital não quis ouvir o relato delas para comprovar o erro. "Ele não quis ouvir as testemunhas. Falei para ele o senhor está errado. O senhor teria que ouvir as testemunhas. Chegaram a nos falar que se seguíssemos insistindo, poderíamos ser presos também", comentou o pai, em entrevista ao RJTV, da TV Globo. Ele ainda revelou que um policial disse para ele que o filho só teria sido preso porque ele era negro e tinha o cabelo pintado de loiro. 
Além de participar dos projetos sociais. Os familiares de Marcos contaram que ele esperava estar em Benfica, nesta quarta-feira, por outro motivo: iniciar o serviço militar. Ele aguardava resposta de um processo seletivo militar, que o colocaria em função no Instituto de Biologia das Forças Armadas.
Responsável pelo Centro Cultural Liga do Bem, Ana Paula Mendonça, também participou do ato na porta do presídio em Benfica pedindo a soltura do jovem Marcos. Após saber da decisão favorável pela liberdade provisória, ela comemorou: "Estou muito feliz. Ainda bem que acabou. Espero que daqui para frente ele possa superar esses dois dias que ele passou ai dentro. Que ele possa continuar sendo um agente transformador, que luta pelos seus sonhos, mesmo quando o mundo fala não".
Decisão pela soltura
A decisão de libertar Marcos e também o outro jovem preso, Kawan dos Reis Azeredo, foi proferida pelo juiz Antonio Luiz da Fonsêca Lucchese. Segundo o magistrado, que acolheu posicionamento do Ministério Público do Rio (MPRJ), as investigações devem ser aprofundadas sobre a autoria do crime.

"A prisão não se mostra necessária, adequada ou proporcional diante das seguintes razões. Os indiciados afirmam ter domicílio fixo e são primários. No mais, diante das circunstâncias em que teria se dado a prisão, sem perder de vista que aqui há evidente necessidade de que os fatos sejam mais apurados, sobretudo diante de sua dinâmica, certamente faz com que se esvaia qualquer substrato para se cogitar, neste momento, de prisão cautelar", disse o magistrado. 
Mesmo com a liberdade provisória decretada, Marcos e Kawan terão que cumprir medidas cautelares, como  comparecer mensalmente ao cartório da 14ª Vara Criminal da Capital, não sair do Rio de Janeiro por mais de 10 dias, nem mudar de endereço sem comunicação prévia à Justiça e não se aproximar das vítimas. Em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz poderá decretar a sua prisão preventiva com a expedição de mandado de prisão.
*Colaborou Cleber Mendes