Delegada Sandra Ornelas afirmou que mulheres não reconhecem que são vítimas de violênciaReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - A diretora do Departamento-geral de Polícia de Atendimento à Mulher, Sandra Ornelas, alertou durante coletiva de imprensa nesta terça-feira (8) sobre as práticas mais comuns em casos de violência contra a mulher. A Polícia Civil do Rio cumpre neste Dia Internacional da Mulher cerca de 80 mandados de prisão contra agressores e autores de estupro em todo o Estado do Rio.
Até 17h, a ação já havia prendido 51 pessoas. O 'Dia D' da Operação Resguardo tem a intenção de marcar a data e incentivar a população a denunciar a violência contra a mulher. Iniciada no dia 7 de março, a força-tarefa atendeu quatro mil mulheres (4.066) no Estado do Rio. 
Acompanhada de outras titulares de Delegacias de Atendimento à Mulher (Deams) do Estado, Ornelas chamou a atenção para a violência patrimonial, em que mulheres tem cartões de banco controlados por maridos.
"É muito comum que a gente atenda mulheres cujo cartão fica com o marido. No patriarcado, o homem era o provedor e a mulher era cuidadora. Hoje, ela é a provedora, a cuidadora e ela que sofre violência, né? Então, ela assume todos os papéis e ainda sofre violência pela permanência dessas relações patriarcais", alertou.
Segundo as delegadas, a experiência diária mostra que a grande dificuldade da mulher que sofre violência é que ela se enxergue como vítima. A orientação é que no primeiro xingamento ou empurrão sofridos, a delegacia de atendimento à mulher já seja procurada para conversa. Por conta desta falta de percepção de que a vítima esteja sofrendo violência, os crimes só costumam ser registrados quando são mais graves.
"Normalmente, você vai ter mais lesão corporal porque a mulher infelizmente ainda entende a violência meramente como lesão. Depois, (os crimes mais registrados são) ameaça e injúria. Normalmente, os crimes sexuais quando vistos dentro da relação familiar, não são entendidos como violência". Dentre esses crimes sexuais, a diretora Sandra Ornelas citou ser obrigada a uma prática sexual que não deseja, ser obrigada a assistir um filme e a tomar ou deixar de tomar anticoncepcional.
A diretora do Departamento-geral de Polícia de Atendimento à Mulher avaliou que o número de 80 mandados neste Dia D não é tão grande em relação aos casos relatados, já que as prisões foram realizadas ao longo do ano. Em apenas um mês, entre 7 de fevereiro e 7 de março, período da operação, foram realizados 211 autos de prisão em flagrante. A delegada acrescenta que o número não representa a realidade pois ainda há subnotificação de casos.
"Temos feito atividades regulares. Quando a prisão sai, é um risco para a vítima e a gente prende logo. A finalidade de hoje é marcar o dia (Internacional da Mulher) e dar um recado. Primeiro para as vítimas: que não tenham medo de buscar ajuda. Outra mensagem é que violência contra a mulher é crime, e quem comete será preso", afirma.
A delegada informa que a Polícia Civil é porta de entrada para a vítima, mas são necessárias outras instituições para a proteção. As Delegacias de Atendimento à Mulher encaminham para outros serviços. "A polícia é porta de entrada, mas não é a única. Fazemos o encaminhamento para toda rede de atendimento: de saúde, abrigo e outros serviços especializados. No dia de hoje queremos incentivar que não aceitem violências. O final de uma agressão pode ser o feminicídio", alerta.
A diretora do departamento de atendimento à mulher também informa que a Polícia Civil tem um número de telefone complementar ao 180, número de atendimento à violência contra a mulher nacional e internacionalmente.
O número 197, da Polícia Civil, tem no ramal 1, o serviço de combate à violência doméstica contra a mulher. "Não supre o 180, não é emergência. É um canal para tirar dúvidas, marcar agendamento na Deam, ou fazer o registro por telefone e ainda solicitar medida protetiva", informa Ornelas.
Coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública e realizada em todos os estados do país e no Distrito Federal. No Rio, a operação de hoje foi deflagrada às 5h40 e coordenada pelo Departamento-Geral de Polícia de Atendimento à Mulher (DGPAM) com apoio de agentes das delegacias do Departamento-Geral de Polícia da Capital (DGPC); Departamento-Geral de Polícia da Baixada Fluminense (DGPB) e Departamento-Geral de Polícia do Interior (DGPI).
As ações da Operação Resguardo começaram no dia 7 de fevereiro deste ano. Desde então, mais de 270 autores de crimes contra mulheres foram presos em flagrante e em cumprimentos de mandados de prisão. Foram realizadas 4.479 diligências, 2.677 medidas protetivas e 287 vítimas foram resgatadas.

Em 2021, as delegacias que integram o Departamento de Atendimento à Mulher da Polícia Civil do Rio prenderam 532 pessoas envolvidas em casos de violência contra mulheres.
Motorista de 'app' preso
A delegada Barbara Lomba detalhou o processo de captura de um homem que se passava por motorista de aplicativo para abusar sexualmente de mulheres. A titular da Deam de São João de Meriti informou que duas vítimas registraram ocorrência contra ele. O homem se cadastrava em aplicativos de corrida, e ao ver mulheres aguardando carros na rua, simulava ser o motorista da respectiva corrida. Os crimes ocorriam perto de sua casa, em São João de Meriti.
"Nenhuma das vítimas teve o cuidado de checar a placa antes de entrar", contou Lomba. Mas, uma das mulheres conseguiu informações de parte da placa, e os policiais conseguiram localizá-lo. O homem cumpria medida em regime semiaberto de tornozeleira eletrônica.