Secretário estadual de Educação, Alexandre Valle, afirmou que Instituto Carmela Dutra tomou medidas adequadas diante casos de assédio na escolaFernando Frazão/ Agência Brasil

Rio - Sete vítimas de assédio sexual no Instituto Estadual Carmela Dutra, em Madureira, Zona Norte do Rio, foram ouvidas pela advogada Janaína Maia, da subseção Madureira/Jacarepaguá da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Entre elas estão alunas e ex-alunas da unidade. De acordo com os relatos, havia um padrão nas abordagens dos professores em sala de aula.
Pequenos toques, abraços, mordida nos lábios, piscadinhas e muitos casos de atitudes no meio da aula já constrangeram as jovens nos últimos anos. Em um dos relatos, uma aluna conta que o professor estava sorteando 'notas de Natal', valendo pontos na nota final da disciplina, dentro de um gorro de papai noel. Ao chamar as alunas, o professor dizia: "Vem aqui passar a mão no saco do papai noel". 
Segundo Janaína Maia, uma das primeiras advogadas a oferecer apoio logo após a manifestação, no dia 25 de fevereiro, as piadinhas de cunho sexual na sala de aula também eram recorrentes. 
Até o momento, das sete meninas que compartilharam seus relatos, apenas duas compareceram à 29ª DP (Madureira) para formalizar a denúncia. De acordo com a delegacia, a mãe de uma das alunas já foi ouvida e outros responsáveis serão chamados para prestar depoimento. Também serão intimados professores e a direção da escola. Nesta quarta-feira, foram ouvidas duas adolescentes na condição de testemunhas.
Nesta terça-feira, o secretário de Estado de Educação, Alexandre Valle, esteve na instituição para acompanhar os desdobramentos e apuração do caso de assédio sexual envolvendo dois professores da unidade. Ao falar com a imprensa, o secretário afirmou que o Estado não compactua com nenhum ato irregular.
"Imediatamente a escola tomou as atitudes para o afastamento dos professores. Foi criada uma comissão de mulheres para acompanhar isso. Alunas que se sintam assediadas podem falar nesse grupo para tomarmos todas as atitudes necessárias", disse o secretário.

Segundo Valle, não há relatos de que houvesse outros casos na escola. O secretário afirmou que dois professores alvos de denúncias foram afastados rapidamente.

"Nós vamos punir severamente qualquer caso como esses. Não vamos tolerar. O segundo caso, o que me foi relatado, é que começou um murmurinho sobre o professor, e que imediatamente pediram o afastamento dele, até a apuração de todos os fatos. Os dois professores foram afastados tão logo a direção tomou conhecimento", afirmou Alexandre Valle.
Em nota a Secretaria Estadual de Educação afirmou que não existe, até o momento, quaisquer indícios que justifiquem o afastamento ou investigação dos diretores da unidade.
Relembre o caso
Uma aluna do Instituto Estadual de Educação Carmela Dutra, em Madureira, na Zona Norte do Rio, relatou em depoimento, no fim da manhã de terça-feira, na 29ª DP (Madureira), como foi um dos assédios sofridos por um professor da escola. Acompanhada de um responsável, a adolescente disse que, ao se aproximar para falar com o docente, ele ficou olhando acintosamente para os seus seios. A estudante ficou constrangida e chegou a cobrir os seios com a mochila, mas o homem continuou olhando.
Uma outra aluna, também acompanhada pelo responsável, prestou depoimento na sexta-feira (4) e relatou que o mesmo professor, citado no depoimento de terça-feira, colocou a mão no seu ombro, deslizou pelo braço e acariciou maliciosamente a palma da sua mão. As vítimas estão recebendo apoio jurídico de advogados da subseção Madureira/Jacarepaguá da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
De acordo com o delegado responsável pelas investigações, Neilson Nogueira, outras três meninas que teriam testemunhado os assédios serão intimadas a depor ainda nesta semana. Professores e membros da direção do Carmela Dutra também serão chamados. 
Até o momento, dois professores do Instituto foram afastados das salas de aulas pela Secretaria Estadual de Educação.
De acordo com relatos de estudantes, que se reuniram em uma manifestação no Parque Madureira no dia 25 de fevereiro, professores tocam nas alunas sem permissão e fazem comentários de cunho sexual. A escola tem como norma o uso do uniforme normalista, ou seja, saia ou calça azul, meia três-quartos e blusa de botão branca. Ainda segundo as meninas, muitos abusadores usam este motivo para justificar os comentários de duplo sentido.

Nas redes sociais, ex-professores e alunos, pais, alunos apoiaram a coragem de denunciar uma situação que, segundo eles, acontecia há algum tempo. "Num ato de coragem GIGANTE, as alunas do Instituto de Educação Carmela Dutra se revoltaram contra professores assediadores"; "Essa luta já vem de anos e nunca fomos ouvidas! Força meninas!!! NOSSO UNIFORME NUNCA FOI E NUNCA SERÁ UM CONVITE!!!"
Uma ex-aluna citou também a omissão da direção da escola ao saber dos assédios que acontecem nos corredores. "Essa movimentação no Carmela foi muito importante, a próxima manifestação deveria ser na porta da secretaria de educação pra promover a retirada da direção que abafa todos os casos de assédio que acontece por anos dentro do Carmela".
*Colaborou Beatriz Perez