O vereador Maurinho do Paiol (PSD) é apontado como o chefe da milícia de NilópolisMarcos Porto / Agência O DIA

Rio - O delegado da Polícia Federal Heliel Martins, que presidiu o inquérito da Operação Hoste que prendeu 11 pessoas, nesta quinta-feira, afirmou que agentes públicos exerciam protagonismo no grupo miliciano armado em Nilópolis, na Baixada Fluminense. A quadrilha foi desarticulada pela ação da Polícia Federal que contou com o apoio da Corregedoria da Polícia Militar e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público, o Gaeco, do Ministério Público do Rio.
O homem apontado como líder da milícia de Nilópolis é vice-presidente da Câmara Municipal do município. Mauro Rogério Nascimento de Jesus, o Maurinho do Paiol (PSD), é policial militar da reserva e foi preso em casa por volta das 6h.  Interceptações telefônicas indicaram que o parlamentar era citado por comparsas como líder do grupo.
"A cúpula dessa organização era formada por agentes públicos, políticos e estatutários. Eles são da Baixada Fluminense", disse o delegado Heilel, que presidiu o inquérito. Heliel Martins acrescenta que assessores da Câmara também são alvos da operação, mas ainda não foram presos.
Os agentes públicos envolvidos com o grupo dividiam regiões em lotes de exploração. "Agiam de diversas maneiras, como informações privilegiadas para garantir que pessoas a eles vinculadas explorassem serviços públicos e privados", afirmou a promotora do Gaeco, Mariana Segadas.

Cerca de 150 policiais federais cumprem 19 mandados de prisão preventiva, expedidos pela 1ª Vara Criminal Especializada da Capital, nas cidades do Rio de Janeiro, Nilópolis e Mesquita. Os agentes também cumpriram 29 mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos acusados e na Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza, onde Diego Nunes Rayol está preso.
O material apreendido vai ajudar no desdobramento das investigações. "A partir dos elementos colhidos hoje no cumprimento dos mandados, com certeza surgiram novos elementos de prova que vão possibilitar a identificação de outros envolvidos", afirmou a promotora Segadas, do Gaeco. A investigação começou há 1 ano e oito meses.

Entre os presos, há quatro policiais militares. Um deles é o próprio vereador e vice-presidente da Câmara de Nilópolis, Mauro Rogério Nascimento de Jesus, o Maurinho do Paiol (PSD), que acumula os salários de parlamentar com o da reserva da PM. Os demais estavam lotados no 41°BPM (Irajá), 20°BPM (Mesquita) e 9°BPM (Rocha Miranda).
Outro policial inativo e um da ativa são alvo de prisão preventiva, mas ainda não foram presos.

A corregedoria da Polícia Militar atuou em apoio à operação da Polícia Federal, que também contou com do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público.
"A Polícia Militar não coaduna com essa prática de desvio de conduta com seu público interno e diuturnamente a corregedoria irá agir de forma preventiva com a intenção de identificá-los e posteriormente processá-los", afirmou o subcorregedor operacional da PM, tenente coronel Renato Assis.

O vereador 'Maurinho do Paiol' consta em um homicídio investigado pela Delegacia de Homicídios da Baixada, tido como um crime político. Na casa do parlamentar foi apreendida uma escopeta.
"O vereador Maurinho era envolvido com a prática de homicídios, inclusive, figurava em um inquérito que se encontra em trâmite na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense. A partir dos elementos colhidos nesta investigação, ficou corroborada essa participação desse grupo criminoso liderado por ele em diversas empreitadas criminosas", afirmou a promotora Mariana Segadas.
Milícia em expansão

O grupo criminoso tinha como principais atividades de exploração econômica os serviços de internet clandestina (gatonet), venda de botijão de gás e transportes de mototáxi.

Liderada pelo vereador Maurinho do Paiol, a milícia se estabeleceu, inicialmente, em Nilópolis, se expandiu para São João de Meriti e posteriormente para a comunidade 'Az de Ouro', em Anchieta, Zona Norte do Rio. Nesta última, os milicianos se aliaram á facção Terceiro Comando Puro. Para os investigadores, a Operação Hoste impediu a expansão do grupo para comunidades vizinhas.

Os milicianos também mantiveram uma aliança com a milícia da Zona Oeste do Rio, quando era liderada por Wellington Braga Neto, o Ecko, morto no ano passado. A relação se dava por fornecimento de armas e de pessoas armadas para colaborar em empreitadas criminosas.
Durante as buscas, os agentes encontraram o que seria uma central de controle do "gatonet", em um dos endereços em Nilópolis, na Baixada. Relógios, anéis, armas e um cinturão com munições também foram apreendidos na residência de outro alvos da operação no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste.
A organização utilizava-se de violência e coação armada. Entre os alvos estão praticantes de tiro esportivo. Pelo menos dez armas foram apreendidas, além de R$ 50 mil em espécie e veículos.
Procurada pelo DIA, a Câmara Municipal de Nilópolis disse que tomou conhecimento, através da imprensa, da prisão de Maurinho do Paiol. "Informamos que aguardamos comunicado oficial da defesa do vereador e da autoridade judiciária responsável pela investigação para que, de posse das tipificações penais do caso, possamos analisar, sob a ótica do Regimento Interno, eventuais medidas cabíveis", disse em nota.
O Partido Social Democrático (PSD), ao qual Maurinho Paiol é filiado, disse que o vereador será expulso: "A executiva do PSD Rio informa que, após a prisão do vereador Mauro Rogério Nascimento de Jesus, vai expulsar o parlamentar do partido".
O advogado do vice-presidente da Câmara de Nilópolis, Leandro Oliveira, negou as acusações. "É uma surpresa muito grande. Maurinho, infelizmente vem sofrendo vários ataques nesse sentido, de denúncias infundadas, sem provas", disse ele ao "RJTV1", da TV Globo.

O nome "Hoste" é uma referência à maneira hostil e agressiva através da qual essa organização impunha sua dominação naquela região. Os acusados vão responder pelos crimes de corrupção, homicídio e extorsão.