A cabeleireira Suazilandia da Silva, moradora de Bangu, escolheu a Casa Parto para ter o seu bebêFabio Costa / Agencia O Dia

Rio - A enfermeira obstetra Fabiane Azevedo, de 40 anos, que trabalha na Casa de Parto David Capistrano Filho, em Realengo, na Zona Oeste, não hesita em falar de um dos momentos mais marcantes da sua carreira. Durante um parto, o bebê não nascia, apesar de estar tudo bem com a mãe e a criança. Foi quando a enfermeira chamou a grávida para fora e pediu que ela observasse a lua. Após fazer uma oração, olhar para o céu e chorar, a grávida conseguiu ter o bebê. A Casa Parto, que traz ao mundo bebês de forma mais humana, completou 18 anos no último dia 8 de março.
"Depois eu descobri que aquela mulher havia sofrido violência do seu ex-marido. A atual mulher dele tinha a ameaçado de pegar o bebê. O parto estava travado. Então disse, vamos lá fora. Olha para aquela lua. Você é de que religião? ‘Acredito em Deus’. Então você vai fazer uma oração agora e se libertar dos seus medos. Aqui você está em segurança. Ela ajoelhou, fez a oração, olhou para lua e chorou. Foi ela entrar e o neném nasceu", conta emocionada a enfermeira.
Desde a sua inauguração, em 2004, a David Capistrano Filho já realizou 3.715 partos. Somente no ano passado, foram 119 e, neste ano, 25 até o momento. Vinculada à rede municipal de saúde, a unidade é a única casa de parto do Rio de Janeiro e funciona 24 horas por dia. Localizada na Avenida Pedro da Cunha, em Realengo, a David Capistrano Filho faz o pré-natal e o parto de grávidas consideradas de baixo risco. O lugar é ambiente acolhedor, aconchegante e familiar. As macas são substituídas por camas e há um berço para o bebê no quarto. 
Há 10 anos trabalhando na Casa Parto, Fabiene explica que no local o parto é feito por enfermeiras especializadas em obstetrícia, sem a presença de médicos. Segundo ela, a diferença do parto humanizado para outro tipo é que são estimuladas as condições fisiológicas e culturais das mulheres. "A diferença é que usamos métodos naturais, que estimulam a descida dos bebês, como óleos essenciais. Raramente, fazemos uso ou lançamos mão de alguma metodologia que seja medicamentosa", explica a enfermeira.
Ainda segundo ela, na Casa Parto, as profissionais ajudam a mulher a entender o corpo dela, como é o trabalho de parto e o que ela precisa para ter o bebê com tranquilidade. No local, a mulher escolhe como vai ter o bebê que pode ser com aroma, música, massagem, água morna, de cócoras, de lado, em pé, na água.
"Na Casa Parto, as enfermeiras conhecem a mulher desde o pré-natal, onde já é trabalhada a estrutura do parto, para que ela possa parir com segurança no local que ela já conhece. E mesmo que o parto venha ocorrer em um hospital, por alguma intercorrência, essa mulher consegue levar para lá todo o conhecimento que tiveram aqui", comenta Fabiene.
A atendente de call center, Clarissa de Souza, de 23 anos, moradora de Sepetiba, teve a primeira filha, que hoje está com cinco anos, no local. Grávida de uma segunda menina, ela escolheu novamente o lugar para ter a bebê.
"Eu tenho muito medo de tomar ponto, então eu não queria ter uma cesárea. Eu também já tinha lido sobre partos em hospitais onde é induzida a cesariana, sem necessidade. Ganhei a minha primeira aqui e achei maravilhoso. Uma das melhores experiências que tive", conta Clarissa. A cabeleireira Suazilandia da Silva, 30 anos, moradora de Bangu, também escolheu o lugar para ter o seu bebê. "O momento do parto é muito estressante para todo mundo, tanto para mulher quanto para o bebê. Ele vai sair de um cantinho quentinho que é só dele e virá para esse mundão doido que tem muito barulho, bagunça. O parto humanizado faz a transição mais lev ee calma possível. Indiquei a casa para várias gestantes", avalia a cabeleireira.
De acordo com Inaiá Mattos, 54 anos, atual diretora da casa, que atua na unidade desde a formação há 18 anos, a mulher pode chegar ao local por demanda espontânea, por telefone ou ainda preenchendo uma ficha no instagram (@casadepartodcf). É feita uma pré-seleção. Logo após, é perguntado se há algum fator de risco, gravidade, cesariana anterior. Se a grávida declara que está tudo bem, se agenda uma colhimento. Em seguida, a gestante vai precisar mostrar todos os seus exames.
"Eu tenho muito carinho em falar que o público da Casa Parto é de mulheres que escolhem a gente. Elas vêm atrás de um modelo. Elas podem vir de qualquer lugar do mundo. Tivemos uma mulher que conheceu a casa parto e veio da Alemanha para ter o bebê aqui. As grávidas são tratadas pelo nome. A gente se respeita", observa Inaiá.