Dona Ivone Lara terá rua batizada com seu nome em bairro da Zona Oeste
"Primeira Dama do Samba" completaria 100 anos em 2022; sambistas ficam felizes com a homenagem no Recreio, mas acreditam que seria mais interessante se fosse nos bairros onde Dona Ivone Lara viveu
Dona Ivone Lara é homenageada com nome de rua no Recreio - Reprodução
Dona Ivone Lara é homenageada com nome de rua no RecreioReprodução
Rio - A Rua Projetada 30, localizada no Recreio dos Bandeirantes, passará a se chamar Rua Dona Ivone Lara, em homenagem à "Primeira Dama do Samba", que completaria 100 anos em 2022. O projeto de lei é do presidente da Câmara dos Vereadores, Carlo Caiado (DEM) e foi aprovado nesta quarta-feira (16). Ainda falta a sanção ou veto do prefeito Eduardo Paes. A cantora e compositora morreu em 2018, aos 96 anos, sendo considerada um dos maiores nome da história da música brasileira.
Dona Ivone Lara foi consagrada como baluarte do Império Serrano, escola localizada em Madureira, e viveu grande parte de sua vida na Zona Norte do Rio. Entretanto, a homenagem será feita na Zona Oeste. O também sambista André Lara, neto da Dona Ivone Lara, ficou feliz pela justa homenagem e comentou sobre a escolha do local.
"Para mim e toda minha família, é sempre um sentimento de orgulho, alegria e gratidão por tudo que ela fez. Esse legado que ela deixou para todos nós, não só da família, mas para todo Brasil. Todos que acreditam que tem uma chance e você pode vencer. Não vemos problema em ser no Recreio, apesar de não ser um bairro que minha vó frequentou. Mas, assim, minha vó é nascida e criada em Botafogo, morou anos na Tijuca, depois morou em Inhaúma e viveu seus últimos anos de vida em Oswaldo Cruz. Seriam lugares que nós também ficaríamos orgulhosos, porque foram bairros que ela viveu e trabalhou", disse André.
O sambista Marquinhos de Oswaldo Cruz era amigo de Dona Ivone Lara e acredita que a Primeira Dama do Samba é maior compositora brasileira. Ele também acha que a homenagem seria mais adequada se fosse feita em algum logradouro localizado nos bairros que têm mais identificação com a homenageada.
"Homenagear a Dona Ivone Lara, pela grandeza dela, a maior compositora da história desse país, fosse em qualquer lugar, até que misterioso, seria muito legal. Agora, essa homenagem teria um significado ainda maior se fosse na região onde ela conviveu, até para que apareçam novas 'Dona Ivone'. Tudo o que essas pessoas construíram na região da Grande Madureira são bens culturais e materiais. Para aquelas crianças, da Serrinha, da Congonha, Oswaldo Cruz, Dona Ivone sendo homenageada em uma rua teria um significado. Às vezes, a gente pergunta em uma rua 'quem é fulano de tal?', agora imagina no Morro da Serrinha ou ali perto. Rua Dona Ivone Lara, como tem a Rua Silas de Oliveira, teria um significado maior", opinou Marquinhos.
Apesar da questão da localização, a importância da homenagem é indiscutível. A escritora Raquel Valença é pesquisadora musical e biógrafa do Império Serrano, onde já foi vice-presidente da escola e faz parte da Velha Guarda. Ela contou mais detalhes sobre a vida da sambista.
"Dona Ivone Lara é um patrimônio da cultura brasileira. Uma artista consagrada que veio do seio das escolas de samba. Mais especificamente, do Império Serrano. Esteve no Império Serrano desde sua fundação, porque seus primos e amigos a fundaram. Não participou abertamente da escola desde o primeiro momento porque era nora do presidente do Prazer da Serrinha, escola de onde partiu a dissidência que criaria o Império Serrano", disse a biógrafa da escola, Raquel Valença.
Segundo ela, a sambista foi uma mulher à frente do seu tempo, que prezava pela independência. "Foi uma mulher à frente de seu tempo, porque prezou pela independência, sempre trabalhou fora e fez carreira como enfermeira e assistente social. Foi esposa e mãe, só depois dos filhos criados, ela passou a cantar profissionalmente, atingindo rapidamente o sucesso nacional e internacional. No Império Serrano, saiu, quase sempre, de baiana quando os compromissos formais permitiam. Recebeu da sua escola, uma linda homenagem e todo o reconhecimento ao se tornar enredo em 2012 em um Carnaval inesquecível", concluiu.
Além disso, Raquel Valença também comentou sobre a possível escolha de um local que tem mais ligação com a Dona Ivone Lara. "Qualquer homenagem é bem-vinda, não importa onde. É claro que teria mais a ver que essa homenagem fosse em um bairro mais ligado a sua trajetória. De qualquer maneira, é muito bom que esse reconhecimento venha, porque Dona Ivone significa muito para a cidade do Rio de Janeiro, onde ela nasceu, se desenvolveu como grande artista negra e honrou as cores do Império Serrano", disse.
Por mais que faça mais sentido, a mudança do nome de uma rua é um processo complexo, podendo causar confusão com os endereços. No final, o importante é celebrar a história de Dona Ivone Lara, a Primeira Dama do Samba.
Dona Ivone Lara, a Primeira Dama do Samba
Yvonne Lara da Costa nasceu em 13 de abril de 1921, em Botafogo, na Zona Sul. Foi criada por seus tios e casou-se, aos 25 anos, com Oscar Costa, presidente da escola de samba Prazer da Serrinha. Com ele, teve dois filhos, Alfredo e Odir. Foi na Prazer da Serrinha que conheceu alguns compositores que viriam a ser seus parceiros musicais, como Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira.
Compôs o samba "Nasci Para Sofrer", que se tornou o hino do Império Serrano em 1947, escola onde desfilou na ala das baianas e se tornou baluarte. A consagração veio em 1965, com "Os Cinco Bailes da História do Rio". Foi quando se tornou a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma escola de samba. Em 2012, foi homenageada pela escola de coração com o enredo "Dona Ivone Lara: O enredo do meu samba".
Em 1977, passou a dedicar-se exclusivamente à carreira artística. Alguns de seus grandes sucessos são "Sonho Meu", "Acreditar", "Tendência", "Mas Quem Disse que Eu Te Esqueço" e "Alguém me Avisou ".
Dona Ivone Lara morreu em 2018, aos 96 anos, na Coordenação de Emergência Regional (CER), no Leblon, Zona Sul do Rio. Seu corpo foi velado na quadra do Império Serrano, em Madureira, e enterrado no Cemitério de Inhaúma. No dia 13 de abril, aniversário da Primeira Dama do Samba, é comemorado o Dia Nacional da Mulher Sambista.
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