Filho contou que a mãe está em estado de choque e sofrendo muitoArquivo Pessoal

Rio - O filho de Eci Coutinho Bella, de 72 anos, o corretor Alex Coutinho, 48, tinha certeza que sua mãe não sobreviveria após ser arrastada por cerca de um quilômetro, quando ficou presa no carro do filho, que foi roubado por criminosos na noite de sábado (10), no bairro da Pavuna, Zona Norte do Rio. Os filhos e a esposa conseguiram saltar do veículo, mas a idosa ficou presa pelo cinto de segurança e só conseguiu se desvencilhar quando o equipamento arrebentou.


"Quando eu vi ela batendo no chão, sendo arrastada, eu falei: "perdi minha mãe", porque não tem como sobreviver disso aí. Não dá. Ela só está viva por um milagre de Deus. Eu tinha certeza que eu ia encontrar ela morta. Eu imaginei que eles iam parar em algum momento e soltar ela, mas não, soltou porque arrebentou (o cinto de segurança). Então, para mim, eu ia encontrar ela morta. Eu dei um grito, veio do fundo da minha alma, aquele grito de desespero e comecei a correr atrás do carro, vendo ela batendo no chão", desabafou Alex.
O corretor voltava de uma festa quando dois homens em duas motos mandaram ele e a família saírem do carro. Um dos criminosos desceu da garupa e colocou o revólver na cabeça de Alex para que ele saísse. A esposa, Aline Coutinho, saiu pelo carona e os filhos, uma menina de 7 e um adolescente 14 anos, pularam do automóvel. A nora ainda tentou ajudar a idosa, mas um assaltante a empurrou e deu um soco com a arma nela.

A vítima, que estava no banco do meio, não conseguiu sair. Segundo o filho, ao perceber que Elci havia ficado presa, ele correu atrás do veículo e foi ajudado por um motorista que o levou até o local onde estava a idosa, cerca de três quarteirões de distância de onde aconteceu o assalto. Ele encontrou a mãe caída, com alguns moradores em seu entorno, que acionaram socorro e a polícia.
"Quando o carro saiu arrastando ela, eu corri atrás do carro. Eu fui correndo, perdi o medo de atirarem em mim. Eu vi aquela cena e fui correndo. (...) Eu entrei em desespero, mas dei graças a Deus que pelo menos ela estava viva. Não sabia o que ia acontecer dali, comecei a chorar", lembrou o filho.

A idosa foi socorrida para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, também na Zona Norte. As costas, os braços e as pernas ficaram em carne viva e, segundo o filho, o asfalto ficou grudado nessa região. A vítima ainda quebrou o ombro em três partes e vai passar por um cirurgia nesta terça-feira (12) para a colocação de um prótese. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), o estado de Elci é estável. Segundo Alex, toda a família está em estado de choque.

"Graças a Deus ela está fora de risco, mas ela está sofrendo muito. Ela está em estado de choque ainda, porque o asfalto grudou todo nessa parte do corpo e tiveram que limpar arrancando na mão, senão infecciona. Então, apesar de ela estar fora de perigo de vida, ela está sofrendo. Você imagina ver ela caindo, batendo no asfalto, sendo arrastada, e ela gritando, eu gritando. É uma coisa inexplicável, uma tragédia. Minha filha de 7 anos, meu filho de 14, minha mulher, todo mundo gritando desesperadamente e eu correndo atrás do carro. Está todo mundo em estado de choque ainda", lamentou o corretor.

"Ontem, a gente levou minha filha para ficar com a minha sogra. Minha esposa deixou o celular com ela para ela ficar jogando, se distrair. O telefone tocou e o número não estava cadastrado nos contatos, ela começou a falar: "vovó, não atende, não. É o bandido que quer matar meu pai". Você imagina? Eles viram a avó ser arrastada, começaram a gritar. Essa cena não sai da minha cabeça. Minha mulher chora o tempo todo, meu filho dormiu de manhã, só levantou 19h da noite. É um estado de choque", continuo ele.

O crime foi registrado na 39ª DP (Pavuna) ainda na noite de sábado e um dos autores já foi identificado. As investigações seguem na distrital para localizar testemunhas e imagens de câmeras de segurança que registraram a ação. No roubo ao carro, os assaltantes também ficaram com o celular de Alex e da esposa, mas somente Aline conseguiu bloquear seu aparelho. Os bandidos usaram as redes sociais do corretor para aplicar golpe.

"Eles entraram no meu Instagram, se valendo da informação (sobre o caso) que tinha saído naquelas páginas da Pavuna, e se valendo que a minha mãe está internada, botaram como se fosse eu pedindo doação para uma senhora que estava internada no hospital muito mal. É mau. É isso que me revolta. Se tivessem roubado meu carro e ido embora, eu estava na minha, quieto. Mas a maldade que eles fizeram com minha mãe e ainda fizeram isso depois. Um crime desse não pode ficar impune."

Caso João Hélio 
No dia 7 de fevereiro de 2007, o menino João Hélio Fernandes, de 6 anos, morreu após ficar preso pelo cinto de segurança e ser arrastado por sete quilômetros, quando o veículo em que estava foi roubado, no bairro de Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio. Na ocasião, João Hélio e a mãe passavam de carro pela rua João Vicente próximo à Praça Patriarca quando foram abordados por três criminosos armados. A mulher foi retirada do automóvel e, ao tentar soltar o filho, foi surpreendida pelos criminosos, que assumiram a direção e partiram do local, com a criança pendurada.
O crime gerou repercussão nacional e a polícia prendeu os cinco envolvidos, entre eles, um menor de 16 anos. Os criminosos foram condenados a penas que variaram de 39 a 45 anos de reclusão. Já o adolescente recebeu pena de medida sócio educativa, tendo que cumprir três anos em regime fechado e dois anos em semiaberto. Mas, em 2019, um dos assassinos do menino foi autorizado pela Justiça do Rio de Janeiro a deixar cadeia. Condenado a 39 anos de prisão, Carlos Roberto da Silva ficou dez anos no presídio e ganhou o direito de cumprir o restante da pena em casa.
A nora de Elci, Aline Coutinho, contou, em entrevista ao BDRJ da TV Globo, que o caso bárbaro provocou impacto na sua vida. Ela ensinou o filho mais velho a tirar o próprio cinto de segurança e o da irmã, quando fossem orientados, para evitar que eles ficassem presos no carro ou fosse arrastados como a avó e João Hélio. Entretanto, ela relatou que o filho não conseguiu soltar a menina, que precisou pular do automóvel em movimento. 
"Sempre ensinei meu filho mais velho a, quando eu mandasse, soltar o cinto e a tirar o cinto da irmã. Ele não conseguiu ajudar minha filha, também. Ele não conseguiu. Minha filha foi a penúltima a sair do carro, antes da minha sogra. Minha filha de sete anos pulou do veículo com o carro andando. Ele ia levar minha filha, também", declarou Aline.