Marcinho do Turano e Max Cachorrão aparecem juntos, andando no pátio, com tênis e relógios. Vestimentas fogem da normativa da SeapReprodução
Sequestro de helicóptero: seis são indiciados
Draco conclui que três seriam resgatados e pede transferência para presídio federal
Rio - A Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas) encerrou a investigação sobre o sequestro do helicóptero feito por dois criminosos que queriam retirar presos do Complexo de Bangu, em setembro do ano passado. A especializada conclui que a ação visava remover da prisão os traficantes Márcio Gomes de Medeiros Roque, o Marcinho do Turano; Carlos Vinícius Lírio da Silva, o Cabeça do Sabão; e Max de Oliveira Nascimento, o Max Cachorrão. Além de representar pela prisão preventiva de todos, a polícia recomendou que eles sejam transferidos para uma prisão federal.
A reportagem apurou que o relatório final do caso, assinado pelos delegados Thiago Neves e Thaianne Cavalcante, foi enviado ontem ao Ministério Público. Também foram indiciados Khawan Eduardo Costa e Silva e Marcos Antônio da Silva, de apelido Pará, responsáveis pelo rapto do piloto e aeronave. Khawan foi preso pela Polícia Federal no dia 31 de março; já Pará segue foragido. Um outro envolvido também teve a prisão preventiva solicitada: ele teria financiado o crime.
Presos que seriam resgatados estavam de tênis e relógios
O rapto da aeronave para a retirada dos presos ocorreu no dia 19 de setembro do ano passado, um domingo, dia de visita no presídio Vicente Piragibe, onde estavam os presos. O Instituto Penal compõe uma das 25 unidades do Complexo de Gericinó e comporta cerca de mil internos.
A visita de familiares se encerrou por volta das 16h, momento em que os presos que seriam resgatados, de acordo com a investigação, demoram para retornar às celas: imagens obtidas pela reportagem mostram que às 16h17 eles ainda não haviam retornado para o interior do pavilhão. Ainda de acordo com as imagens das câmeras, eles apresentavam comportamento atípico: estavam agitados, andavam juntos e tinham vestimentas diferenciadas -- uso de tênis enquanto os outros internos usavam chinelos. Além disso, Max Cachorrão e Marcinho do Turano utilizavam relógios, o que não coaduna com as normas internas da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap).
Em relação à segurança do instituto, naquele momento, somente um guarda que estava em uma das guaritas da muralha portava um fuzil; já os agentes da segurança interna estavam com munição não letal. O pouso da aeronave seria possível no campo de futebol do instituto, feito de terra batida: as imagens mostram os presos circulando o local.
Presos que seriam resgatados
Max Cachorrão, antes de ser preso, atuava no tráfico de drogas do morro do Turano. De acordo com sua ficha criminal, ele está cumprindo regime semiaberto na desde abril de 2020 e teve seu pedido de Visita Periódica ao Lar (VPL), indeferido pela 1ª Câmara Criminal do TJRJ em março deste ano. Sua estimativa de progressão para o regime aberto está prevista para 2027.
Já Marcinho do Turano é apontado como um dos líderes da facção Comando Vermelho, com influência dentro e fora da prisão. Com mais de 30 passagens pela polícia, ele seria líder dentro do Vicente Piragibe. Até 2021 ele cumpria pena em regime fechado e vem solicitando à Justiça atendimento médico particular fora do presídio, o que já foi negado. A estimativa de passagem para o regime aberto é para 2024.
Cabeça do Sabão, por sua vez, também é um criminoso com forte influência na comunidade do Sabão e no Santo Cristo, sendo um dos representantes da facção em Niterói. O foragido Pará, que rendeu o piloto, responde diretamente a ele na hierarquia do tráfico. Desde 2020 ele está em regime semiaberto e, apesar de sua progressão para regime aberto estar prevista para outubro deste ano, ele estaria com receio de ser transferido para uma unidade federal por conta do envolvimento da facção na morte dos meninos de Belford Roxo. Essa seria a principal razão da tentativa de fuga do presídio dos envolvidos.
Sobre o caso
Imagens de câmeras internas ajudaram a identificar a dupla que alugou a aeronave no Helioponto da Lagoa, Zona Sul do Rio, com destino à Angra dos Reis, no dia 19 de setembro do ano passado. Lá, eles teriam pego um fuzil e, no retorno ao Rio, rendido o piloto Adônis Lopes no ar e o obrigado a direcionar a aeronave até o Complexo de Bangu.
Próximo ao presídio, em cima do 14ºBPM (Bangu), Adônis fez uma manobra para chamar a atenção da polícia e chegou a entrar em luta com os criminosos. O embate corporal foi testemunhado por um dos guardas da guarita do presídio. Após a tentativa frustrada, eles obrigaram o piloto a deixá-los em uma mata, em Niterói.
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