O corpo de Jhonatan Ribeiro de Almeida, de 18 anos, foi enterrado no início da tarde desta quarta-feira (27) no Cemitério de Inhaúma, na Zona NorteMarcos Porto/Agência O Dia

Rio - Com cartazes pedindo por justiça e frases como: “Até quando? Jacarezinho só quer paz”, o corpo de Jonathan Ribeiro de Almeida, de 18 anos, foi enterrado na tarde desta quarta-feira (27), no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio. O protesto pacífico dos familiares e amigos, no momento do enterro, não escondia o sentimento de revolta diante à declaração de um dos policiais do Batalhão de Choque (BPChoque), que estava na favela do Jacarezinho quando Jhonatan foi morto, e admitiu ter atirado contra o rapaz na noite desta segunda-feira (25).
“Fizeram um rombo na minha família. Meu sobrinho não foi enterrado com a memória suja. Ele foi morto à queima roupa. E não tinha nada (arma e drogas) com ele. Os policiais não o socorreram. Ele chegou sem nenhuma arma na UPA. Mesmo se houvesse arma, teriam que mostrar a digital dele. Vamos lutar por justiça até o fim”, disse Iziane Ribeiro dos Santos, de 28 anos, tia do rapaz.
Segundo Iziane, o jovem foi enterrado com a camisa do Botafogo, seu time do coração. Ele foi criado pelos avós maternos e a mãe, que também estavam no enterro. A despedida foi marcada com cânticos evangélicos e orações. “Meu pai foi paraquedista do Exército e meu sobrinho tinha esse mesmo sonho. Ele iria tirar o CPF para se alistar”, contou a tia.
Em seu depoimento na Delegacia de Homicídios da Capital(DHC), na tarde desta terça-feira, o cabo da PM, identificado apenas como Diego, disse que estava em patrulhamento quando disse ter visto Jhonatan comercializando drogas. Segundo ele, o jovem teria puxado uma arma da cintura e que, por isso, atirou "diante de uma iminente e injusta agressão". A família de Jhonatan nega que a vítima tivesse envolvimento com o tráfico de drogas.
Na delegacia, o cabo da Polícia Militar disse que a guarnição tentou prestar socorro ao rapaz, mas que os policiais foram agredidos por moradores que atiraram pedras. O policial afirmou ainda que foi encontrado um saco com drogas e um simulacro de arma de fogo no local. O advogado Joel Luiz Costa, que acompanha o caso e também é fundador e coordenador executivo do Instituto Defesa da População Negra, faz críticas à declaração dada pelo PM sobre a morte do jovem.
“A declaração policial mostra, entre outras coisas, o despreparo e total incapacidade das polícias do Rio, com seus vícios de atuação, de realizarem policiamento ostensivo nas comunidades. Imaginemos se a qualquer ação de um jovem negro que gerar temor no policial ele dispare? É uma banalização da morte. Por isso, temos casos de pessoas negras que tiveram furadeira, guarda-chuva, saco de pipoca e outros confundidos com uma arma e foram mortos pela polícia do Rio”, afirma o advogado.
“Esse é o padrão de atuação no Rio. Se for preto, primeiro agente atira, depois a gente pergunta quem é. Porque se for bandido tá ok, o sistema de justiça e a sociedade aceitam, se não for a gente diz que é, que vai ser aceito também”, avalia o advogado. Conforme a família do rapaz, ele trabalhava com uma tia vendendo roupas, para ajudar na criação do filho dele, Israel, de quatro meses. A Corregedoria da PM abriu uma investigação sobre o caso.