A Escola Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes foi palco de um ataque, na sexta-feiraMarcos Porto

Estresse, solidão, excesso de tela, acesso a conteúdos impróprios e má alimentação foram condições em que as crianças e adolescentes, muita das vezes, ficaram expostos durante os dois anos de pandemia. De acordo com especialistas, uma das consequências da pandemia pode ser o comportamento escolar arredio ou, até mesmo, potencializar um quadro de violência.
As secretarias estaduais do Rio não divulgaram dados de agressões nas escolas, mas o crescimento de brigas foi observado por professores e responsáveis. Na sexta-feira, em uma escola da Ilha do Governador, um aluno de 14 anos tentou esfaquear três colegas. No mesmo dia, a Polícia Civil impediu um ataque a uma escola de Saquarema, na Região dos Lagos.
De acordo com o pediatra e professor, Daniel Becker, o comportamento violento das crianças pode estar ligados ao sofrimento nos últimos anos. "Foram dois anos de medo, confinadas em casa, sem escola, com os pais passando por algum tipo de luto, crise financeira. A rotina das crianças mudou muito", disse Daniel. "Muitos pais em home office não tinham tempo então apelavam para o aparelho celular, liberava a televisão, videogame, ou seja, havia muita tela para elas", explicou.
Segundo Becker, as crianças perderam a socialização, deixaram de conviver com os colegas, ficaram com medo de sair e foram se acostumando com o isolamento social. "Tudo isso gerou ansiedade social nelas. Elas foram privadas da praça, da rua, da arte, do filme, da brincadeira e o que restou foi o exílio em quatro paredes", declarou o professor.
Ele também ressaltou que a má alimentação aumentou bastante na pandemia, causando diversos outros sintomas que podem prejudicar o cérebro e o desenvolvimento da criança e do adolescente.
"Para mim, o supremo fator desse comportamento muitas vezes intolerante da criança, foi perder o convívio escolar. O colégio é um espaço onde ela vai aprender, brincar, conviver com os outros, entender as diferenças, a se comunicar e se conhecer principalmente", completou. "Diante disso tudo, o que temos são algumas crianças que ficaram estressadas em casa, que chegaram a desenvolver sintomas físicos como a constipação, bolhas, retenção de urina, distúrbios no apetite, cefaleia", informou.