É incrível como a gente redescobre sentimentos ao revisitar canções. E, quanto mais a gente se identifica com elas, mais reforça o coro. Mesmo que a sós Arte: Kiko

Minha mãe sempre dizia que o pré-festa também é muito bom de ser vivido. E estava certa. Eu também gosto do clima de expectativa pelo grande momento, dos preparativos e do sonho vivido na imaginação. Não tem jeito: em algum momento, a gente fantasia o que está por vir. Para mim, é um sinal de que algo nos mobiliza. Com a turnê 'Portas', de Marisa Monte, não foi diferente. Lembro até hoje onde estava quando comprei os ingressos: na mesa da área de casa, perto do meu pai.
Era 11 de novembro de 2021, pouco depois do meio-dia, e o aviso de que os ingressos estavam à venda mexeu comigo. Comprei logo dois bilhetes, sem saber quem iria comigo. Mas já tinha garantido a minha companhia—e faz tempo que isso se tornou especial para mim. A partir dali, ouvir as poesias cantadas por Marisa passou a ter um novo sentido: reencontrá-la no palco. Afinal, já tinha assistido a uma apresentação da cantora com os 'Tribalistas' no fim de 2018.
De tanto compartilhar e citar as canções nas redes sociais, o segundo ingresso logo ganhou uma dona: a minha amiga Gisele. Passamos, então, a viver juntas a expectativa pelo espetáculo, até que a Ômicron fez com que a agenda do Rio precisasse ser adiada de janeiro para maio. Ainda aguardaríamos por mais quatro meses, mas suspeito que Marisa também gosta de um pré-festa: no dia 19 de janeiro, data inicialmente marcada para o primeiro show do Rio e para a abertura da turnê, ela postou um 'spoiler' do que estava por vir: um vídeo em que aparecia num lindo vestido rosa. Na legenda, o aviso: "Adiamos a estreia, mas os ensaios não param por aqui. Estamos caprichando para vocês".
Ela caprichava de lá e eu de cá. Faltando poucos dias para o espetáculo, procurei pelo repertório e comecei a fazer o meu show particular, em casa e no carro. É incrível como a gente redescobre sentimentos ao revisitar canções. E, quanto mais a gente se identifica com elas, mais reforça o coro. Mesmo que a sós. Realmente, "gostar de alguém tem sempre algum perigo". E, sim, "em alguns instantes/ sou pequenina e também gigante".
Na véspera do show, pouco depois das 8h, minha amiga Gisele me avisou por mensagem: "Bom dia! É amanhã!" E, quando chegou o grande dia, na quinta-feira passada, foi a minha vez. O relógio nem registrava 8h quando escrevi para ela: "É hoje!" Marisa e sua equipe também fizeram a sua parte. Faltando pouco mais de 3h para o espetáculo, abri os Stories e lá estava a contagem regressiva para a hora tão aguardada. O show foi lindo e emocionante. Vi Marisa potente e encantadora, cantando poesias que sei de cor—eu havia ensaiado também! E sei que não era a única. Numa das canções, a Gisele levantou os braços para acompanhar a melodia e, em seguida, comentou comigo: "É desse jeito que a gente faz em casa".
No palco, Marisa comprovou o meu sentimento: "Vocês esperaram e nós também esperamos muito por esse show". De brinde, ganhamos o lançamento da música 'Feliz, Alegre e Forte', ali, ao vivo. Num outono frio do Rio, Marisa e seus músicos me aqueceram com a sua arte e me fizeram comprovar que um pré-festa bem correspondido é sinônimo de felicidade.