MPRJ diz que grupo torturava e extorquia traficantes que não pagavam 'arrego'Reginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - Os policiais militares alvos da operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ), realizada nesta quinta-feira (26), mantinham um grupo no aplicativo WhatsApp batizado de "Os Mercenários", nome também dado à ação de hoje. No aplicativo, os denunciados trocavam informações sobre a extorsão e tortura que praticavam contra traficantes e comerciantes que não pagavam o "arrego". Até o momento, dez policiais foram presos e um continua foragido.
As mensagens trocadas pelo grupo chegaram ao Gaeco após o celular do policial militar Adelmo Guerini ter sido apreendido na Operação Gogue Magogue, em agosto de 2020, contra uma milícia que explorava o serviço de mototáxis na comunidade Asa Branca, em Jacarepaguá. Desde então, os agentes vem analisando as informações contidas no aparelho, até que chegaram aos "mercenários". 
"Durante essa análise do aparelho celular, se verificou que esses denunciados atuavam daquela forma criminosa, como alguns policiais militares ainda hoje atuam, fazendo cobrança de 'arrego' do tráfico de drogas, extorquindo comerciantes. Quando esse 'arrego' não era pago, esses denunciados executavam esses traficantes, extorquiam essas pessoas, torturavam. Tudo com o claro objetivo de obter vantagens indevidas por meio desses atos de violência", explicou o promotor do Gaeco, Eduardo Pinho, durante coletiva, nesta quinta-feira. 
As investigações que levaram à operação contra os militares se basearam somente nas mensagens do aparelho de Adelmo. Em um conversa, o policial diz a um comparsa que o sequestro do então chefe do tráfico do Pavão-Pavãozinho, Leonardo Serpa, o 'Léo Marrinha', tinha "dado bom demais". Com a extorsão para que o criminoso não fosse preso em uma operação, foi arrecadado R$ 1 milhão, valor que foi dividido entre o militar e policiais civis ainda não identificados.
Além dos presos, são investigados o tenente-coronel André Araújo de Oliveira, comandante do 15º BPM (Duque de Caxias), e o chefe do Serviço Reservado (P2) da unidade, o capitão Anderson Santos Orrico, ambos alvos de busca e apreensão. Na casa do comandante foram encontrados cerca de R$ 253 mil em espécie, armas, munições, cadernos de contabilidade, joias e radiocomunicadores. Por conta da operação, ele foi afastado das funções.
Entretanto, segundo o promotor Eduardo Pinho, ele não foi denunciado porque as investigação não encontraram mensagens explícitas que demonstram que ela integrava a organização criminosa. "Mas, há mensagens do Adelmo dizendo para outros comparsas que ele (tenente-coronel) adora um caixão, gosta de matar e, por conta disso, obviamente, ele foi alvo de busca e apreensão", afirmou Pinho.
Na casa de Orrico foram apreendidos R$ 96.540 mil em espécie e no 15º BPM, cerca de R$ 37 mil, além de 166 munições calibre 556, dois rádios transmissores, cinco carregadores de armas do calibre 556 e dois para calibre 762. O dinheiro encontrado no batalhão estava dentro de vários sacos, em um assoalho escondido atrás de um sofá da sala do capitão. A quantia estavam divida em notas de R$ 2, R$ 5, R$ 10 e R$ 20, o que indica que os valores são provenientes de propina do tráfico de drogas, segundo o promotor Marcelo Arsenio. 
"Esse capitão, da mesma forma que o coronel André, não tem mensagens explícitas dele à respeito de valores, mas tem mensagens dele sim, determinando que a tropa dele matasse pessoas, dizendo que ele não se importa da morte de inocentes", completou o promotor. 
Os presos foram encaminhados para a Unidade Prisional da Polícia Militar, no bairro do Fonseca, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, e serão submetidos a processo administrativo disciplinar da corporação. "A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro não coaduna com essa prática de conduta da nossa tropa. Dioturnamente, a Corregedoria faz esforços para identificação de policiais que insistem nessa prática de desvio de conduta", declarou o sub-corregedor da PM, coronel Assis. 
PM atirou mochilas com dinheiro na casa de vizinho
Na casa do policial militar Antônio Carlos dos Santos Alves, conhecido como "Santinho", em Santa Cruz, na Zona Oeste, foram encontrados aproximadamente R$ 100 mil em espécie. Já no carro dele havia cerca de R$ 30 mil. Segundo a promotora Juliana Pompeo, o militar demorou para atender os agentes, porque estava tentando se livrar do dinheiro, jogando mochilas com a quantia na casa de um vizinho.
As equipes então foram até a residência vizinha e econtraram o material. Além do dinheiro nas mochilas, foram apreendidos uma carabina calibre 12; parte de um fuzil; 20 carregadores; duas bolsas; três mochilas; 651 munições; um silenciador; sete granadas; um canivete; uma camisa da Polícia Civil do Rio; uma balaclava; um bloqueador de sinal; dois simulacros; cinco pistolas; uma bandoleira; dois binóculos; 14 rádios tranmissores e dez cápsulos de substância aparentemente entorpecente. 
"Ele admitiu que esses materias apreendidos foram arrecadados em comunidades e admitiu que estavam na posse dele. A camisa da Polícia Civil e a touca, certamente eram usados para fins ilícitos e para alguma finalidade que esse grupo possuía. Vale salientar que o "Santinho" fazia parte do grupo do WhatsApp "Os Mercenários", que deu nome à operação. Era um integrante com voz de comando", afirmou a também promotora Juliana Amorim Cavaleiro.