'Estamos entregues à baratas. Não tem ninguém por nós', diz esposa de inspetor morto
Corpo do policial civil Jorge Luiz do Nascimento foi enterrado nesta quinta-feira sob comoção de parentes e amigos. Agente foi assassinado em tentativa de assalto
Geral - Sepultamento do Policial Civil, Jorge Luiz do Nascimento, no cemiterio do Cacuia, na Ilha do Governador, zona norte do Rio. - Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Geral - Sepultamento do Policial Civil, Jorge Luiz do Nascimento, no cemiterio do Cacuia, na Ilha do Governador, zona norte do Rio.Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Rio - "Infelizmente, ele foi para a estatística, como muitos outros foram, e é só mais um. Um policial que serviu 33 anos ao Estado, que já ia se aposentar, perdeu sua vida, foi ceifado indo para o trabalho". O desabafo emocionado de Cláudia Soares da Silveira, esposa de Jorge Luiz do Nascimento, morto em uma tentativa de assalto, marcou a indignação de familiares e amigos durante o sepultamento do inspetor, nesta quinta-feira (2), no Cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador.
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Além de parentes da vítima, colegas da Polícia Civil também estiveram no enterro para prestar as últimas homenagens. No sepultamento, uma delegada entregou a bandeira do Rio de Janeiro para os filhos da vítima. Além do objeto, uma camisa do Botafogo também foi colocada sob o caixão. O agente foi morto após trocar tiros com criminosos que tentaram roubar seu carro, na Avenida Martin Luther King Junior, em Inhaúma, na Zona Norte.
A esposa de Jorge acredita que o inspetor trafegava pela via para evitar engarrafamento na Linha Amarela e ser alvo de criminosos. "Se tivesse um engarrafamento, ele ia querer cortar caminho. Ele tinha fobia de ficar parado, até mesmo para não ser alvo, isso é coisa de polícia", contou Cláudia, que lembrou ainda que o marido temia ser vítima de bandidos na região onde morreu, porque outros policiais já haviam sido assassinados em um posto de gasolina próximo ao local. Câmeras de segurança do estabelecimento registraram a fuga dos envolvidos na morte do agente.
"Eu cansei de parar naquele posto de gasolina com ele para abastecer o carro e ele falava: "já perdi amigo aqui. Aqui dá muito roubo de carro." Perto da 44ª DP. Olha a ironia do destino, ele morreu exatamente no local. Eu não consigo entender porque ele mudou o trajeto, só Deus, mesmo. Eu não consigo, os planos de Deus eu não conheço. Ele sabia que ali era perigoso", lamentou Cláudia.
A morte de Jorge Luiz é investigada pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Por conta do confronto, o carro do inspetor ficou com, pelo menos, dez marcas de tiros. O Portal dos Procurados divulgou um cartaz que pede informações que levem à prisão dos envolvidos na morte do agente. O policial civil era lotado na Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM) de Jacarepaguá. Ele deixa a esposa, com quem era casado há 16 anos, dois filhos e de outros relacionamentos e sete irmãos.
"Eu estou indignada. Está difícil de um policial trabalhar, está difícil ser polícia nesse Rio de Janeiro. Está difícil até de morar no Rio de Janeiro. Estamos entregues à baratas. Não tem ninguém por nós. Quem poderia e deveria fazer algo, não faz nada. A polícia enxuga gelo nesse Rio de Janeiro. Ela prende e a Justiça solta. Foi mais um que perdeu a sua vida, deixando mulher, deixando filhos e deixando a família. Foi mais um e eu tenho certeza que não vai parar", lamentou a esposa.
"Era uma pessoa excelente, sem palavras para ele. Era uma pessoa fora do normal, além de ser corretíssimo como policial e como pessoa. Não tenho nem palavras, por isso que estava lotado o enterro dele. Ele não merecia isso", declarou o genro da esposa do policial civil, Alexandre Luiz Santanna.
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