Rio - Considerado um dos maiores símbolos de resistência negra do Rio, o Jongo da Serrinha acaba de ter sua história eternizada em um livro. De autoria de Lazir Sinval e Deli Monteiro, "Conversas de Quintal - 60 anos do Jongo da Serrinha" exalta a trajetória de alguns dos nomes que ajudaram a construir e manter viva a manifestação cultural na tradicional comunidade de Madureira, na Zona Norte.
"É muito emocionante a gente ter feito esse livro contando a história da Serrinha, da minha avó, da minha família, do meu tio Darcy, da minha mãe, de todos da família Monteiro e de todos os jongueiros que a gente homenageia, como Tia Maria do Jongo e de Vovó Tereza, que se foi com 115 anos", afirma Deli Monteiro, nascida e criada dentro do jongo e diretora da casa, que fica na Rua Compositor Silas de Oliveira, aos pés do Morro da Serrinha. Além de extensa programação cultural, o local oferece oficinas para crianças e jovens.
Emocionada com a publicação, Deli conta que resgatou memórias de infância para escrever o livro. “É muito importante estar passando isso também, porque ontem (24), dia de São João, seria aniversário da minha avó Maria Joana, que, se fosse viva, estaria fazendo 115 anos. Era uma pessoa maravilhosa, jongueira, parteira, costureira, a primeira baiana do Império Serrano, rezadeira, mãe de santo. Minha avó era muita coisa aqui na Serrinha", revela.
O Jongo da Serrinha nasceu no terreiro de Vovó Maria Joana. Lá, funcionava um terreiro de candomblé, na rua onde foi fundada a comunidade, que é uma das cinco primeiras favelas centenárias da cidade. O livro também homenageia Tia Maria do Jongo, que faleceu em 2019, e foi, durante duas décadas, grande guardiã da cultura do jongo. A história também se mistura com a fundação do Império Serrano, em 1947, uma vez que muitos jongueiros tiveram forte atuação na agremiação.
Dyonne Boy, integrante da diretoria da casa, destaca que é a primeira vez em que o próprio Jongo da Serrinha conta sua história. "Esse é um livro muito importante para a gente", festeja. A obra é ilustrada por BárbaraBoustier, mulher trans que é uma das diretoras do espaço cultural.
Nesta sexta-feira (24), o primeiro exemplar foi entregue à deputada federal Jandira Feghali (PCdoB/RJ), que destinou emenda parlamentar que viabilizou a elaboração do livro. O evento contou, ainda, com a presença do secretário das Culturas de Niterói, Alexandre Santini, e do vereador e presidente da Comissão de Cultura de Niterói, Leonardo Giordano.
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